O embate entre a presidente Dilma e seu governo, de um lado, e as oposições, de outro, lembra uma partida de futebol onde os craques se esfalfam, entre correrias, chutes na canela, cabeçadas, pulos e dribles sem conta. A torcida, quer dizer, nós, a tudo assistimos entusiasmados, gritando slogans e distribuindo palavrões a torto e a direito. Até o juiz e os bandeirinhas suam a camisa, distribuem cartões amarelos e impõem sua autoridade.
Só que, na arquibancada, um menininho surpreende o pai, comentando estar faltando a bola. De repente, dão-se todos conta de que o pimpolho tem razão: não há bola em campo. Todo aquele esforço se faz por nada.
No caso, a imagem se aplica à tertúlia verificada há meses no país: governo e oposições se digladiam, ofendem e acusam, mas para que? Falta a bola, ou seja, o que pretendem para a sociedade, com tamanha algazarra?
Nem Madame apresentou até hoje um programa de metas e realizações para tirar-nos do sufoco, nem seus adversários revelam o que pretendem, se guindados ao poder. É claro que de um lado alegam a necessidade do ajuste fiscal, aumentam impostos e reduzem direitos trabalhistas. Do outro, denunciam o festival de corrupção que assola estruturas administrativas e instituições e acentuam que o adversário não sabe governar. Não sabemos, porém, quais as propostas de que dispõem para interromper a marcha do desemprego, recuperar as empresas privadas, evitar a inflação e retomar o desenvolvimento.
Falta a bola, capaz de dar sentido à farsa encenada pelos dois times. Inexistem proposições concretas e sucintas, em condições de dar sentido ao espetáculo. De lá e de cá, que obras públicas poderiam ser iniciadas de pronto, ampliando o número de empregos? Que sacrifícios exigir dos setores privilegiados, do tipo aplicação de parte do lucro dos bancos em atividades sociais? Imposto sobre grandes fortunas e estabilidade nos empregos? Proibição de remessa de lucros para o exterior, por tempo determinado? Duplicação do salário mínimo?
Em suma, inexiste um elenco de medidas de sacrifício para todos, com ênfase a categorias até agora beneficiadas pela crise. Estaria definido um objetivo para as partes em confronto. A bola, afinal, estaria em campo…
Carlos Chagas
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