segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cinco pontes até o Rubicão

Dilma Rousseff atravessará o seu Rubicão? Há fortes razões para apostar no “Não”, até por se saber que ela não contaria com tropas poderosas como dispunha Júlio César em 11 de janeiro de 49 a. C, quando transgrediu a ordem de Roma, lançando uma declaração de guerra contra Pompéia com a célebre tirada: “a sorte está lançada”.

Seu arsenal no Congresso se esvazia e escasseia a munição das ruas. Mas em política contorna-se frequentemente o que parece impossível, por meio de fatores que integram o escopo de viabilidade, a começar pela própria índole da presidente.  Entre as duas estratégias do jogo político – cooperação e confronto – a que mais combina com o ethos presidencial é esta última, conforme se pode constatar na entrevista que ela concedeu à FSP (“eu não vou cair”). Sabendo que Lula também é de briga, como ele mesmo propaga,  a engenharia política  conveniente  ao projeto do PT é a do embate.



Em seu livro “Estratégias Políticas”, o cientista social Carlos Matus, que trabalhou no governo Allende, no Chile, distingue três estilos de governantes: o modo Chimpanzé, centrado nas relações de dominação/submissão, que se ampara em alianças táticas e transitórias e rivalidade permanente; o modo Maquiavel, centrado no projeto de um grupo, um partido, que permite o uso de quaisquer meios para viabilizá-lo.

O chefe (por exemplo, Lula/Dilma) não é o projeto, mas o projeto será inexequível sem ele(s). O terceiro é a maneira Gandhi, inspirada no respeito às posições de todos, na busca de cooperação. O líder é a personificação da honestidade. Nesse tipo, não existem inimigos, mas adversários. Nas três décadas de vida do PT, o estilo Maquiavel predominou. A confrontação está no DNA petista.

Sob o lume maquiavélico, o Partido dos Trabalhadores tentará prolongar o ciclo de poder que detém há 12 anos e meio. O primeiro grande entrave é a salvação do governo Dilma. Não há como dissociar PT, Lula e Dilma, como alas petistas tentam. O desafio que se apresenta ao lulopetismo é fazer com que a presidente atravesse cinco pontes até chegar ao famoso cruzamento do Rubicão. Elas estão interligadas, a indicar que os obstáculos existentes numa influenciarão a passagem na seguinte.  

A primeira é a ponte pessoal, a do jeito de ser. Dilma não é uma pessoa cordata. É de briga, de desafios, como ilustra com seu passado guerrilheiro. Assim, a estratégia de cooperação ficará em segundo plano, o que sugere continuação das querelas entre a base governista e o Executivo e entre alas do próprio PT. O confronto  é a pior alternativa para ela nesse momento. Brigar com Eduardo Cunha, por exemplo, seria um ponto fora de curva.  


A segunda é a ponte econômica, para cuja travessia a presidente usa a competência técnica do timoneiro Joaquim Levy e a articulação do vice Michel Temer. Aprovado o pacote fiscal, mesmo com ajustes, a presidente terá de correr para apressar o fim do ciclo da economia recessiva, sob altos juros, inflação renitente e desemprego crescente. A redução da meta fiscal de 1,1% do PIB este ano para 0,5%, conforme se prevê, abre horizontes sombrios.

A insatisfação grassará em todos os estratos, a partir das margens e da classe C, a emergente, que esvazia o bolso, sob ameaça de regredir à base da pirâmide. As massas voltarão às ruas, os movimentos sociais agitarão bandeiras e a esfera política, sob os índices negativos de avaliação do governo, aproveitará para deitar conveniências. O congestionamento da via econômica provocará danos nas pontes seguintes – social e política – dificultando a travessia presidencial. Se o rigor fiscal der resultados ainda este ano, um raio de luz pode aparecer. Pouco provável.

Para diminuir os acessos, a Operação Lava Jato, com alta estridência, tem potencial para criar abalos nas conchas côncava e convexa do Congresso  e provocar fissuras nas imagens de suas lideranças. Mas a questão vai longe. Ante o foro privilegiado que abriga a representação política e com a tramitação de processos na Alta Corte sob embargos de todos os tipos, os casos deverão durar bons dois anos.

As pontes de passagem da presidente Dilma encontrarão ainda outros obstáculos, como a decisão do TCU, em agosto, sobre a responsabilidade da mandatária no caso das “pedaladas” fiscais e a votação do TSE sobre eventuais irregularidades nas contas de campanhas de Lula e Dilma.

É quando entra em cena a quinta ponte, a da gestão, pela qual a presidente deverá caminhar nos próximos meses. Pode ser atropelada pelos questionamentos que advirão. E, na sequencia, tentar se escudar na base governista. Se a administração ganhar ritmo, vislumbra-se uma réstia de esperança. Esse pacto pela governabilidade firmado por partidos da base resistirá aos tempos de vacas magras?

Diz-se que e política é a arte de fazer possível o impossível. Eis o desafio que se impõe à Sua Excelência antes de chegar ao Rubicão.

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