segunda-feira, 20 de julho de 2015

O ataque dos zumbis

Eles respiram, movem-se – até na escuridão – e falam. Falam muito. Dão entrevistas. Tuítam. Fazem pronunciamentos. Da cadeia (de rádio e TV) ou de veículos oficiais que comandam, eles bravateiam e intimidam. Assim, parecem saudáveis e fortes. Desviam a atenção da iminente ameaça à sua sobrevivência no poder que vem do Ministério Público. Fazem do ataque a sua defesa. Alimentam-se de rivais. São os mortos-vivos da política.

Nesses dias, são mais frequentemente encontrados em Brasília do que em seriados televisivos sobre o fim do mundo tipo The Walking Dead. Deslocam-se em carros oficiais, usam terno, gravata e disfarçam a decadência da cabeleira com penteados elaborados. Manter a aparência similar aos do entorno é vital à sua camuflagem. “Se acontecer comigo, pode acontecer com você” é seu mantra. Quantos mais puderem contaminar com o medo, melhor.

O vírus que os deixou nesse estado é tão comum quanto o da gripe. Transmite-se principalmente – mas não só – durante o período eleitoral. Como vetor, usa doações legais (e nem tanto) para candidatos a todos os cargos. É incerto quantos ele infectou, mas estima-se que, no Congresso, a epidemia chegue às dezenas. Talvez às centenas. Há segurança nos números, pois um protege o outro. Maior o cardume, melhor a chance de escapar.

Por isso, organizam-se em bandos de denominações diversas. Uns referem-se ao coletivo de zumbis como “nosso grupo”, outros preferem chamar de “nosso partido”. Os mais ousados, de “nosso Poder”. A generalização exagerada faz parte da tática de parecer maior, mais poderoso, feroz e onisciente do que realmente é.


Quem olha a repetição, o volume e a riqueza de detalhes das denúncias que delatam o real estado de seu ser deve perguntar-se como é possível aos mortos-vivos políticos continuar dando as cartas para tantos deputados e senadores. Para solucionar o mistério, é preciso entender de onde vem o seu poder.

Do carisma pessoal certamente é que não é. Podem acusar os zumbis de muitas coisas, menos de carismáticos. Virá então da simpatia que despertam em quem está ao seu redor? Piada. Se há algum sentimento que acordam nos pares é o temor, não a empatia. Será então a eloquência, a facilidade para discursar e convencer? A leitura do teleprompter em pronunciamentos oficiais revela um estilo mais rousseffiano do que lacerdista.

Dilma Rousseff tampouco é carismática, nem desperta empatia entre políticos ou é craque na oratória, mas ela tem a caneta que faz nomeações e libera verbas – algo que falta aos zumbis. Pelo menos por enquanto.

O mistério permanece. A esta altura, só o Ministério Público será capaz de desvendar, com a ajuda do Supremo Tribunal Federal, a origem do poder que mantém os mortos vivos. Talvez.

Calendário da crise. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é o responsável pela investigação dos mortos-vivos da política. Ele poderá ou não apresentar denúncia contra eles ao STF. Mas há um problema de timing. Seu mandato no cargo acaba em setembro. Para ser reconduzido, depende de três coisas: ser o mais votado na eleição por seus colegas procuradores no dia 5 de agosto, ser indicado por Dilma e ser referendado pelo Senado.

Ele é o favorito na eleição, e a presidente tem dado sinais de que pretende chancelar seu nome. O problema de Janot está no Senado. Não há prazo para que os senadores confirmem sua indicação. Não precisam nem rejeitá-la, basta que não a coloquem em votação. Se protelarem até depois de 17 de setembro, Janot sairá do cargo de procurador-geral. E daí?

Quem assume, interinamente, é o primeiro vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público, cujo mandato terá expirado em agosto. O novo terá que ser eleito pelos dez conselheiros. Nos votos deles pode estar o nome do procurador-geral que vai ou não definir o destino dos zumbis da política.

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