Ainda assim, não consigo ficar calado quando leio certos absurdos por aí. Entre os disparates que leio, contra ou a favor da redução, os piores são sempre aqueles comentários que vão para o tudo ou o nada.
Uma nova moda é dizer que a redução da maioridade penal serviria apenas para prender mais negros e pobres.
“Querem garantir que esses outros, adolescentes que não tiveram educação nem saneamento nem saúde nem lazer nem acesso a nenhum de seus direitos garantidos pela Constituição, esses outros que tiveram as leis que os protegem violadas desde o nascimento, crianças dessas “pessoas marrons” que o menino não sabe para onde vão à noite nem quem cuida dos filhos delas, sejam encarcerados mais cedo porque já decretaram que, para elas, não há solução”
Em tradução livre: negros e pobres serão os mais penalizados com a nova lei pois são os que mais cometem crimes. No meu tempo, definir o caráter de uma pessoa com base na cor da pele tinha um outro nome. Espero que tenha sido um ato falho de Eliane Brum aí.
Nossos colunistas nem desconfiam quem é o povo de que falam em seus textos. Segundo pesquisa do Datafolha, 87% da população brasileira é a favor da redução da maioridade penal. A rejeição à redução da maioridade penal é maior entre os mais escolarizados (21%).
Então por que escrever um texto inteiro dando a entender que são os mais ricos que defendem a exclusão? Pois é justamente na periferia que se concentra a maior parte da população que defende a redução da maioridade penal. É mais fácil encontrar quem rejeita a redução atrás desses “muros altos”, que a colunista critica, do que na periferia. Por que usar a redução da maioridade penal como sintoma da “exclusão pelos muros altos”?
Esse é o problema da polarização, do nós contra eles: ela não enxerga a realidade, mas o que quer enxergar.
“Uma sociedade de muros sempre vai precisar forjar monstros do lado de fora para seguir justificando seus privilégios e mantendo-os intactos” - No caso, quem está forjando os mais pobres aqui?
Certos colunistas acreditam mesmo ser a voz dos despossuídos. Não devem nem desconfiar que estão representando direitinho o papel das classes sociais às quais têm aversão.
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