Linha férrea, que pretende ligar a costa brasileira à peruana com apoio financeiro da China, pode causar sério impacto ao atravessar parques nacionais e terras indígenas. Viabilidade da obra ainda está em análise.
Brasil e China deram nesta terça-feira (19/05) a partida para a construção da Ferrovia Transoceânica, que pretende ligar a costa brasileira à peruana. Os três países iniciaram estudos de viabilidade técnica para a conexão ferroviária, porém, o ambicioso projeto está diante de grandes obstáculos, principalmente de ordem ambiental.
No suposto traçado entre o Porto do Açu, no estado do Rio de Janeiro, e o Porto de Ilo, na costa peruana, estão zonas ambientais altamente sensíveis, como o Cerrado e a Floresta Amazônica, além de parques nacionais e terras indígenas. Há ainda o receio de que a linha férrea contribua indiretamente para o desmatamento no entorno das regiões por onde passar.
"Um investimento dessa ordem não deixa de ter consequências para o meio ambiente. Dependendo do traçado, a natureza será um pouco mais ou um pouco menos afetada", afirma Roberto Maldonado, especialista em América do Sul da organização ambientalista World Wide Fund For Nature (WWF), na Alemanha. "É possível que áreas protegidas pelo governo, como territórios indígenas, sejam diretamente afetados pelo projeto."
E o megaprojeto nem precisa sair do papel para se tornar polêmico. Mesmo que seja atestada a viabilidade técnica, ele pode enfrentar resistência de alguns setores da sociedade, de ONGs ambientalistas e de parte do Governo Federal.
O maior obstáculo para uma obra desse porte deverá ser a obtenção das licenças ambientais. "O aspecto ambiental poderá até mesmo inviabilizar a obra", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Mas os trilhos não precisam necessariamente passar por cima da sustentabilidade. O impacto ambiental da construção e operação de uma ferrovia desse porte dependerá do projeto que será utilizado como referência.
"Do ponto de vista ambiental, tecnologias ferroviárias mais avançadas são de pequeno impacto sobre o meio ambiente", opina Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia. "País algum do mundo teve seu patrimônio ambiental seriamente ameaçado pela expansão da malha ferroviária."
Ao financiar o projeto, um dos objetivos da China é tornar as mercadorias mais competitivas e com um custo menor também para o gigante asiático. O valor da obra ainda não foi calculado, mas há estimativas de que a conexão, de cerca de 5,3 mil quilômetros, chegue a custar cerca de 10 bilhões de dólares.
O corredor de trilhos entre os oceanos Atlântico e Pacífico pretende abrir uma saída principalmente para produtos brasileiros como grãos, minério de ferro e carnes para o Pacífico e, ainda, facilitar a importação pelo Brasil e países vizinhos dos manufaturados chineses, sem que a carga precise passar pelo Canal do Panamá.
Caso a ferrovia saia do papel, o Brasil conseguirá também interiorizar o transporte de cargas por meio de ferrovias, o que seria estratégico para o país. Atualmente, um navio graneleiro levando uma carga a partir dos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Belém (PA) demora de 30 a 40 dias para chegar até a China.
Através da Ferrovia Transoceânica seria possível reduzir em cerca de 30% a 40% o tempo de transporte de produtos do Brasil para a China, afirma Orlando Fontes Lima, professor de logística e transportes da Unicamp. A diferença dos custos marítimo ou ferroviário, porém, ainda não pode ser estimada, segundo o especialista.
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