O PT, como partido de vocação hegemônica, não facilitou como deveria essa construção, a da coalizão, e deixou seus parceiros ao vento, como meros espectadores. Esse descompasso gerou o engessamento da máquina pública, a dependência moral a que tudo se submete pelos resultados da extensa operação Lava Jato, ainda não conhecidos integralmente.
Acentuou-se ainda o dano que é a falta de um projeto Brasil em torno do qual se una a sociedade brasileira, as instituições e o empresariado para fazerem o país navegar em mar seguro. Essa carência é do governo e das oposições, que só tem como bandeira a tese do impeachment da presidente. A oposição é o samba de uma nota só.
O único projeto nacional que está no ar é o combate à inflação, que não é mais uma ameaça, é uma realidade. Séria e importante, mas equivocadamente tocada, já que a cada medida, mais se enrijece o consumo, majorando as tarifas públicas, restringindo o crédito e o fomento à produção, mas deixando aberta a porta dos bancos, sempre mais ricos porque a esses nada afeta, deles nada se exige e a eles tudo se protege. O sistema financeiro brasileiro, público e privado, nada acima da maré. Nunca foi chamado a contribuir e talvez essa seja a grande injustiça social de todos os governos. Os bancos esfolam a sociedade, esfolam a economia pública, crescem e nunca comparecem para ajudar. São do tipo dos que, à chegada da conta, vão ao banheiro e saem antes para nem dar carona a ninguém da mesa.
Tratados sempre como periódicos, os programas dos partidos têm que ter a coragem de incluir nas suas agendas a discussão sistemática de um Brasil que seja mais possível, mais durável. Assiste-se à nervosa movimentação de setores do sindicalismo gritando pela manutenção ou inclusão de privilégios na legislação laboral, que são estúpidos compromissos. O seguro desemprego, por exemplo, da forma como se acha concebido, é um desastre contra a economia pública, contra a produção e contra as próprias relações de trabalho. A remuneração e a aposentadoria de alguns setores do serviço público, do Executivo, Legislativo e do Judiciário, têm que ser urgentemente revista porque em muitos casos ela é imoral e insustentável. Dinheiro público ou privado não se inventa. Tem que ser gerado e gerido com competência, com responsabilidade, com grandeza. Não é para ser roubado, pela corrupção e pela manutenção de privilégios. Nem para ser corroído pela inércia da falta de governos ou seus sistemáticos equívocos.
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