quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Mário Quintana

Tá na fila também?


Discurso velho num governo velho

Não propriamente pronunciamentos, que devem ser densos e profundos, mas pelo menos dois discursos protocolares a presidente Dilma deverá pronunciar na quinta-feira, início de seu segundo mandato. Um no Congresso, quando jurar pela segunda vez cumprir a Constituição. Outro no parlatório, se não estiver chovendo, ou no salão de recepções do palácio do Planalto.

Houve tempo em que os pronunciamentos dos presidentes da República despertavam as atenções gerais, quando de suas posses. Novos sistemas ou pelo menos novos personagens empolgavam ou desanimavam o país. Agora, será o mais do mesmo. Dilma não terá nada a anunciar em termos de mudanças capazes de sensibilizar a população. Sem o carisma de alguns antecessores, cumprirá apenas a rotina. Por certo terá palavras de otimismo quanto ao futuro, mesmo fazendo referências à necessidade de sacrifícios. É provável que fale da reforma política, ainda que sem muitos detalhes. Assim como da importância de a economia ser agilizada.

Ninguém deve esperar que prometa acabar com o latifúndio, muito pelo contrário. Ou que acabará com a farra da remessa de lucros para o estrangeiro. Muito menos que ampliará os direitos trabalhistas, restabelecendo a estabilidade no emprego. Sequer a participação dos empregados no lucro das empresas. Transportes públicos gratuitos para quem ganha pouco, nem pensar. Nem extinção dos recursos jurídicos fajutos que tiram os criminosos da cadeia, em especial se dispõem de recursos para movimentar os tribunais.

Em suma, nenhuma proposta daquelas em condições de caracterizar mudanças institucionais, sociais e econômicas. A composição de seu novo ministério, aliás, lamentável, dá bem a medida da pasmaceira que assola o governo e o PT. Ficará no plano das intenções evitar a corrupção, porque nenhuma iniciativa de vulto está prevista para punir com rigor corruptos e corruptores. Falta ao segundo governo Dilma a eloquência das convicções.

No auge dos excessos que marcaram a Revolução dos Cravos, em Portugal, o todo-poderoso do dia, brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, visitou Olof Palme, primeiro-ministro do governo socialista da Suécia. Em dado momento, o governante português anunciou que seu propósito era de acabar com os ricos, em seu país. O sueco, malicioso, retrucou que seu governo tinha objetivo diametralmente oposto: acabar com os pobres…

Carlos Chagas

'A inteligência política do goverrno Dilma é precária'


Não vejo a possibilidade de um autoritarismo de forma clássica, como uma volta dos militares ao poder. Percebo que a disfunção democrática agravará o autoritarismo que hoje já existe na relação entre o Estado e a sociedade. O autoritarismo se manifestará com o caráter subalterno do cidadão perante o Estado, com a prevalência dos interesses das corporações sobre o bem comum, com a apropriação do interesse público em detrimento do interesse da sociedade, com o sequestro da política pelos políticos. Essas soluções autoritárias representam os maiores desafios para o Brasil. Se não melhorarmos o sistema político, a disfunção se agravará

A CPI de Deus


Como Ele é onipresente, onisciente e onipotente, estava na cara: logo, logo seria convocado a depor numa CPI.

Presidente da CPI: O senhor jura por Deus que vai dizer toda a verdade?

Deus: Ora, francamente. Direto às perguntas, por gentileza.

Presidente da CPI: Na criação do mundo, com o Senhor no papel de Todo-Poderoso, houve algum tipo de favorecimento a grupos ou empreiteiras?

Deus: Em absoluto. No princípio, não houve nenhum problema dessa ordem. Só bem mais tarde, quando deleguei o controle das verbas aos descendentes de Adão foi que aconteceram excessos.

Relator: Seja mais específico, por favor. Houve desvio de verbas?

Deus: Só naquele continente, a Atlântida. Mas Eu o afundei.

Presidente da CPI: E no episódio da arca? Dizem que Noé colocou animais protegidos dele no barco em detrimento de outros.

Deus: Noé era um bêbado. Mas não me envolvi na questão do dilúvio e da plantação da vinha, apesar de estar por dentro de tudo. Preferi mais uma vez descentralizar minha administração para não ser demonizado pelo Capeta.

Deputado: E o seu filho? Não seria uma forma de nepotismo Ele continuar suas obras?

Deus: Meu filho é um santo. Por que vocês não perdem essa mania de querer crucificá-lo?

Relator: Procede a informação de que o Senhor estaria por trás de tudo e de todos – o tempo todo?

Deus: Claro que procede.

(Um grande ohhhhhhh!! nas galerias)

Relator: Explique-se melhor, Senhor Deus.

Deus: Eu sei de tudo, sobre todo mundo. Mas mantenho o sigilo, evidentemente.

Deputado: O Senhor afirma que conhece tudo! E não vai abrir numa CPI? Lembre-se que está sob juramento. Não é porque se diz uma divindade que vai avacalhar as investigações!

Deus: Ok, ok. Eu abro então. Vossa Excelência, por exemplo, é freguês de uma cafetina aqui em Brasília. Foi lá nos dias 27, 28 e 29 de setembro. No primeiro dia ficou com a Suélen, nos outros com a Rúbia Regina. Fizeram hidromassagem e tal. Ah! E o relator ali trafica cocaína. Já o…

(Alvoroço nas galerias)

Presidente da CPI: Silêncio! Silêncio nas galerias! Guardas, prendam o deputado e o relator!

Deputado: Isso é uma calúnia, senhor presidente. Essa Pessoa vem aqui, se apresenta como deus, e me calunia assim?

Relator: Isso mesmo! Quem é esse Senhor pra vir dizer que eu cometi um crime?

Presidente da CPI: Infelizmente é a palavra de Deus contra a de vossas excelências. Algemas, algemas…

Carlos Castelo

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Bosta nunca é com o governo


Não aprendo a lição

A lição de conviver,
senão de sobreviver
no mundo feroz dos homens,
me ensina que não convém
permitir que o tempo injusto
e a vida iníqua me impeçam
de dormir tranquilamente.
Pois sucede que não durmo.

Frente à verdade ferida
pelos guardiães da injustiça,
ao escárnio da opulência
e o poderio dourado
cujo esplendor se alimenta
da fome dos humilhados,
o melhor é acostumar-se,
o mundo foi sempre assim.
Contudo, não me acostumo.

A lição persiste sábia:
convém cabeça, cuidado,
que as engrenagens esmagam
o sonho que não se submete.
E que a razão prevaleça
vigilante e não conceda
espaços para a emoção.
Perante a vida ofendida
não vale a indignação.
Complexas são as causas
do desamparo do povo.
Mas não aprendo a lição.
Concedo que me comovo.

Thiago de Mello

O mundo bipolar do PT


O ensaísta mexicano Octavio Paz costumava dizer que a primeira forma de corrupção se dá na linguagem (para desespero da Petrobras, que não admite concorrência nesse quesito…) Pois bem: dê uma passeada nos sites ditos “progressistas”. Ali você encontra o primeiro terreno fértil para esse tipo de corrupção ser colhida. Porque é nesse território em que ocorre a mais sacrossanta distorção do silogismo. Premissa maior: o governo do PT é de esquerda. Premissa menor: quem não é de esquerda é de direita. Conclusão: quem se opõe à esquerda (PT) só pode ser de direita…

Mesmo os que se dizem versados em sociologia e ciências políticas (geralmente pais do auto-desbunde de que são de “esquerda”), indicam que devem voltar para a faculdade fazer DP. São os que mais alimentam a ideia de que o oposto de esquerda é ser de direita.

Os termos “política de direita” e “política de esquerda” foram cunhados na Revolução Francesa (1789–99). Inicialmente, apenas se referiam ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Aqueles sentados à direita da cadeira do presidente parlamentar eram singularmente favoráveis ao Antigo Regime (defesa cega da hierarquia, tradição e clero).

DIREITA FURIOSA

Aqui e agora, interessa aos zeros à esquerda dizer que no Brasil o oposto da esquerda é tão somente a direita furiosa. Mentira: a maioria oposta à esquerda dita progressista, no Brasil, é composta por conservadores. E eles em sua imensa maioria não são direitistas.

Mesmo os conservadores trazem contradições que chocariam nossas esquerdas: Edmund Burke, bretão pai do conceito de conservadorismo, era dito conservador porque se opunha à Revolução Francesa (mas defendia com unhas e dentes a Revolução Americana, para o arrepio das nossas esquerdas…)

A corrupção da nossa linguagem, tocada sobretudo pelo PT, ensina que conservadores são em essência direitistas vorazes.

Vendem nossos conservadores como se fossem caudilhos golpistas. Caudilho é outra coisa: se vende como semi-deus, seja de direita ou de esquerda. E sempre fica no poder num tempo dilatado além da conta, que arrepia as constituições e os pleitos diretos.

CONSERVADORES

Aqui se vende também que, por exemplo, que Winston Churchill, Ronald Reagan e Margaret Thatcher eram direitistas. Não, eram apenas conservadores. A política “reaganomics”, nos anos 80, visava taxar mais o salário de quem ganha menos: porque, dizia Reagan, quem usa mais serviços públicos é quem ganha menos: por isso deve pagar mais ao estado (na sua última semana de governo, Reagan disse ao “The New York Times” que “os mendigos fizeram uma opção ao ter esse tipo de vida”…)

Thatcher implantou em 1989 o Poll Tax, ou imposto comunitário, impondo a mesma taxa, a ser cobrada igualmente fosse do rico, fosse do pobre (ninguém pagava imposto calculado de acordo com o valor dos imóveis que dispunha, com o é o nosso IPTU). Isso é ser conservador. Não é ser de direita.

Mas é óbvio que toda essa discussão não interessa aos filhos do mundo bipolar. O PT não quer um mundo heteropolar. E ponto final…

A VELHA E O CAOLHO

Quando nos anos 70 o líder egípcio Anuar Saddat começou as negociações de paz com Israel, cunhou uma frase clássica. Achou Golda Meir mais durona do que o general-caolho Moshe Dayan. E disse: “A velha é pior do que o caolho”. (Foi depois disso que o sambista Blecaute dedicou a Moshe uma modinha, que ele cantava com um tapa olho…)

A frase atravessou o tempo e os continentes. Hoje a frase é resgatada pelos políticos que lidam com Cristina Kirchner. Acham ela pior que o finado marido caolho Nestor Kirchner. ”A velha é pior que o caolho”, disse o ex-presidente uruguaio Mujica, sobre Cristina. A frase virou hashtag no twitter: #estaviejaespeorqueeltuerto.

E nessa semana um amigo deste blogueiro, que lida com petróleo, usou a mesma frase, ao se referir da dificuldade de lidar com Graça Foster, muito pior do que o nosso também Nestor Caolho, Nestor Cerveró. “Na Petrobras a velha é pior que o caolho”.

O peso da Graça


Que Lula e Dilma se destruam entre si


Lula procura torpedear todos os membros do PT perante aos quais se acha inferiorizado intelectualmente e que tenham condições de estabelecer um contraditório com ele em condições de superá-lo. Isso ocorreu não somente com Aloizio Mercadante, Nilmário Miranda e Patrus Ananias, mas também com muitos outros, dentre os quais Helio Bicudo e Cristovam Buarque que foi demitido do Ministério da Educação por telefone. Atitude de moleque, de gente sem qualquer qualificação ou escrúpulo, mas foi tomada por um presidente da República.

Lula não passa de um farsante, de um tartufo. Provas? É só entrar no youtube e assistir seus etílicos discursos. Dentre suas tartufarias, temos a eleição da “Doutora” (sem colega de turma, é claro) Dilma Rousseff, eleita em razão da descarada mentira propagada por Lula de que ela “era muito melhor administradora do que ele”.

Aliás, se prestarmos bem a atenção, Lula é apenas um sortudo, um cagão que pegou uma fase excelente no contexto internacional com o preço dos produtos exportados pelo Brasil (minério de ferro, soja, e outros) lá nas alturas.

Frise-se também que esses produtos eram produzidos pela iniciativa privada, sendo que os produtores do setor agropecuário ainda eram molestados pelos sem terra, braço armado do PT – apoiados por Lula, Dilma e outros mamíferos bípedes e financiados com dinheiro oriundo de impostos cobrados dos demais brasileiros que exercem atividade produtiva.

Com aquele contexto internacional favorável, foi fácil “administrar”, pois os dólares entravam abundantemente com a exportação dos produtos. Apesar do assalto aos cofres públicos – que só agora estão vindo à tona – nada podia dar errado a curto prazo. A longo prazo, a coisa muda de figura.

Agora, o contexto é outro, pois os produtos exportados pelo Brasil estão com os preços no fundo do pinico. Aliado a esse fato, ainda temos o crime cometido contra o Brasil e os brasileiros com a roubalheira em todos os setores nos quais os petistas colocaram as patas e encheram as malas.

A Petrobras é apenas o que veio à tona mais rapidamente e vai enlamear o Brasil no exterior, pois tem títulos colocados no mercado internacional. A Eletrobras também tem e lá a gatunagem, pelo que sabemos, também foi apoteótica. Porém, as duas estão sujeitas às leis norte-americanas. E deverá vir chumbo grosso, pois lá a Justiça não foi aparelhada por Lula e Dilma.

Isso, é claro, vai arrastar Dilma e Lula no tsunami, pois, como comandantes supremos – por analogia ao que afirmou a Comissão da Verdade com relação aos ex-presidentes militares – não podiam desconhecer os fatos que ocorriam bem embaixo de suas mandíbulas.

Aliás, a mim parece evidente que o congelamento dos preços dos derivados de petróleo e os descontos nas contas de energia elétrica representaram, apenas, a compra antecipada de votos na eleição que se realizou este ano. Está na cara que quem pagou essa compra de votos foram os acionistas aqui e no exterior.

Votos comprados e eleição ganha, os preços vão subir. No mais, que Lula e Dilma se destruam, pois isso é fato corriqueiro entre criatura e criador, pois, reciprocamente, um é digno do outro.

Celso Serra

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

As críticas de Francisco servem também para políticos?




Os poderosos não deveriam poder nos roubar o direito de ser felizes
O papa Francisco surpreendeu crentes e ateus quando, ao olhar nos olhos das altas hierarquias cardinalícias do Vaticano reunidas para o Natal, diagnosticou-lhes, entre outras enfermidades, a de “Alzheimer espiritual”, por terem-se esquecido de Deus; a da “esquizofrenia assistencial”, por viverem uma “vida dupla”, e a do terrorismo das intrigas”, algo que foi tão abundante nas sombras dos palácios em que tantos papas já foram assassinados.

Estava Francisco, peça-chave da distensão de Cuba, talvez o fato político mais importante do ano que acaba, referindo-se também aos grandes da política? De Roma, os fiéis ao papa, que não teme nem hesita em dizer o que pensa, garantem que sim. De fato, relembram, ele já fazia isso na Argentina quando era cardeal.

O papa “vindo de muito longe para Roma”, como ele destacou ao se tornar o primeiro papa da periferia do mundo, sempre sustentou que o homem é um “animal político” e que a Igreja não pode se desinteressar dessa dimensão, já que são seus líderes os responsáveis pela felicidade ou infelicidade dos cidadãos. O mais duro do histórico discurso de Francisco aos homens da Cúria Romana talvez não tenha sido a lista das 15 doenças que diagnosticou nos cardeais, bispos e monsenhores, mas o remédio que lhes prescreveu contra a doença de acreditarem-se donos da Igreja, poderosos e imortais.

Propôs a eles visitar os cemitérios onde estão enterrados personagens famosos da História, aqueles que um dia também se acreditaram donos do mundo, os caudilhos hipnotizadores das massas, os eternos poderosos, os insubstituíveis, que, como Hitler no filme de Charlie Chaplin, se divertia jogando futebol com um globo terrestre.

É muito possível que, naquela manhã, Francisco também tivesse em mente todos os grandes magnatas da política mundial. E que também os estivesse aconselhando visitar um cemitério com túmulos de nomes famosos de reis, ditadores e presidentes de nações e Estados que um dia também se acreditaram donos do mundo.

Se os hierarcas da Igreja sofrem, segundo o papa, de Alzheimer espiritual, ao esquecerem-se de Deus, os políticos sofrem também de “Alzheimer democrático e de representatividade”, assim como de esquizofrenia, ao esquecerem-se daquilo e daqueles pelos quais foram escolhidos, como comentou, lendo o discurso papal, o médico José Augusto Messias, membro da Academia Nacional de Medicina do Brasil, que se surpreendeu ao ver o papa usar o léxico da medicina para se dirigir aos altos prelados da Cúria.

Assim como os cardeais exercem, segundo Francisco, o terrorismo das maledicências, também a política hoje se afoga muitas vezes nas máfias de intrigas e corrupções, agindo mais às sombras, às costas dos cidadãos, do que à luz do sol. Pois é preciso até atropelar leis e constituições para se eternizar no poder, fato mais do que frequente hoje na América Latina.

Leia mais o artigo de Juan Arias

#VemPraRua e muito mais


Para 2015, Dilma anunciou ministros que personificam o atraso. Alguns de arrepiar, como Eduardo Braga (PMDB-AM), que de energia deve saber trocar lâmpadas, se muito

Com vícios que corroem quase todas as suas virtudes, a política encerra mais um ano sob o domínio de práticas menores, repugnantes, de dar vergonha. O vale tudo - até fazer o diabo - para se eternizar no poder, disseminado pelo PT, gangrenou a política na última dúzia de anos. E o que Dilma Rousseff antecipou para 2015 não é nada animador.

Métodos condenáveis de fazer política não foram inventados pelo PT nem por Dilma. Mas é inegável como o ambiente degringolou nos últimos anos.

A começar pela qualidade da representação, feita e mantida para separar os interesses dos eleitos da intenção dos eleitores. Algo que sequer precisa da tão propalada e nunca viabilizada reforma política para existir. Bastaria eliminar a enganação, punir severamente a mentira. Impedir embustes como o da propaganda eleitoral de Dilma que fazia sumir comida dos pratos e letras dos livros no caso de vitória do adversário.

A campanha ajudou. Mas tudo já havia apodrecido.

Interesses partidários e pessoais pairam milhares de quilômetros acima dos da coletividade. Compadrio, corrupção, roubalheira, bolsos abarrotados de dinheiro sujo viraram regra e não exceção. Tomou-se o Estado de assalto.

No plano institucional, as relações entre o Planalto e o Congresso Nacional tornaram-se exclusivamente negociais, com dinheiro correndo solto, legal ou ilegalmente, com o requinte de, por decreto presidencial, se oficializar o toma-lá-dá-cá.

Ideologia virou sucata, cuja serventia se limita a alimentar os xingamentos nas redes sociais, incentivados pela falsa divisão do “nós x eles”, ora travestida de “ricos x pobres”, que o ex Lula inventou e continua a usar, ainda que com menor apelo.

Ideias viraram produto escasso, quase em falta.

Leia mais o artigo de Mary Zaidan

Novidade em ministérios


A cor de cada um


Na República do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos políticos por meio de cores.

Uns optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o amarelo, mas vermelho não podia ser. Também era permitido escolher o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco.

- Esse é o melhor – proclamaram uns tantos. – Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.

Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adotariam uma cor se recebessem antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca.

- Justamente o ideal é a cor que desbota – sentenciou aquele ali. – Quando o Governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.

Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor.
Carlos Drummond de Andrade

Já vi esse filme. No fim, o bandido ganha


A campanha da presidente Dilma, ela mesma, Lula e boa parte do PT debocharam do que disse a candidata Marina Silva (PSB) sobre como montaria seu governo caso se elegesse.

Marina afirmou que simplesmente governaria com os melhores elementos de cada partido sem discriminar nenhum partido.

É uma boba, garantiram alguns. Uma sonhadora, acusaram outros. Governar com os melhores é impossível, apenas isso.

Ou Marina dominava uma receita que só ela conhecia ou então se pautaria pelo bom senso. E o bom senso lhe aconselhava a procurar gente decente, comprometida com a ética e talentosa para ocupar cargos do primeiro e do segundo escalão da República.

E se essa gente fosse incapaz de lhe garantir a maioria dos votos no Congresso? E se por causa disso o governo capengasse?

Marina confiava que não passaria sufoco porque, em primeiro lugar, governaria apenas por quatro anos. Descartara a reeleição.

O que a seu ver seria o bastante para apaziguar os ânimos no Congresso e refrear as ambições, por suposto.

Segundo porque governaria com transparência, prestando contas aos eleitores de todos os seus passos e discutindo com eles suas dificuldades.

Fernando Collor se elegeu presidente em 1989 sem maioria no Congresso. Quis cooptar o PSDB e não conseguiu.

Chamou de “único tiro” contra a inflação o plano econômico que garfou a poupança dos brasileiros.

Por mais estúpido que tenha sido o plano, o Congresso não se negou a aprová-lo. Caso desse certo, o Congresso ficaria bem na foto. Se desse errado, o presidente é que ficaria mal.

Não foi por falta de apoio do Congresso que Collor acabou deposto. Foi por falta de apoio popular.

O Congresso é sensível ao sentimento das ruas. E todo presidente, a princípio, se beneficia de um período de lua de mel com a opinião pública.

Até que o período se esgote, ele pode se comportar com um grau de liberdade que mais tarde se estreitará. A não ser que o sucesso bata à sua porta.

Ninguém mais do que Lula reuniu condições para governar sem ser obrigado a fazer concessões que por fim o apequenassem, e ao seu partido.

Foi o primeiro nordestino ex-pau de arara, ex-líder sindical, ex-preso político a subir a rampa do Palácio do Planalto.

Ocupou o principal gabinete do terceiro andar com crédito para gastar por muito tempo. Encrencou-se porque piscou primeiro.

Sob pressão para lotear o governo como seus antecessores haviam feito por hábito ou necessidade, Lula subestimou o apoio das ruas.

Preferiu apostar no apoio do Congresso. Logo ele, que no final dos anos 80 do século passado, enxergara ali pelo menos 300 picaretas.

Foi atrás dos picaretas. Beijou a cruz – e de quebra a mão de Jáder Barbalho. O mensalão quase o derrubou.

Dilma atravessou a metade do seu primeiro governo resistindo à ideia de ceder ao “pragmatismo político”.

Em conversa, certo dia, com um amigo, ouviu dele: “Tirando três ou quatro, só tem desonesto no Congresso”. Ela respondeu: “E eu não sei?”

Para se reeleger, cedeu ao apetite dos desonestos. Beijou a cruz. E de quebra a mão de Helder Barbalho, filho de Jáder, seu futuro ministro da Pesca.

Foi medíocre o primeiro ministério de Dilma O governo que resultou disso foi naturalmente medíocre.

Pois bem: ela está perto de cometer o prodígio de montar outro ministério igual ou talvez pior.

O que a diferenciava dos políticos a quem tanto desprezava é, hoje, o que a torna cada vez mais parecida com eles.

Ricardo Noblat

domingo, 28 de dezembro de 2014

O canalha fundamental

Não consigo encontrar relevância maior neste momento, mesmo premido pela lógica destes dias que antecedem o Natal, esqueço a força da compaixão coletiva transformada em compulsão consumista, penso no arquetípico canalha que assola este país.

Penso nele porque é nesta época do ano que o canalha fundamental se torna mais evidente, fica impossível para ele se esconder do que é genuíno no coração das famílias, dos humildes, das minorias. Eu desconfio que o canalha já nasça com o caráter estampado na testa, chega no berçário e a galera já o reconhece como guia, será ele a deter entre os grupos as qualidades que forjarão uma imagem do bem, de parceiro, de amigo de toda a gente. Com este apoio desde o berço, esta vantagem social inata, é que será capaz de obter todos os títulos ostentáveis, porque será um mestre das picuinhas e pequenezas, dos abraços e beijinhos. Conhecedor de nossas fraquezas e ambições, o canalha fundamental quer subir na vida e então ele começa a escalada.

É preciso ser limo para que este canalha não nos monte nas costas. Ele é incapaz do trabalho árduo que uma sociedade sã exige, promete gratidão, frequenta os amigos, graceja, exala perfume e conta piadas boas.

Canalha tem de todo jeito, o gênero é amplo, mas o que mais interessa a esta crônica é aquele que forma o brasileiro: o canalha que fura filas, que bloqueia cruzamentos, que compra carro do ano mas não paga empréstimos, aquele que puxa o tapete por recalque e que sobrevive de adulação, aquele que corrompe e aquele que é corrompido. Que age como o camelo e não consegue enxergar outra oportunidade que a poça a brilhar diante de todos os olhos. Sua personalidade movediça o carrega, explora qualquer fonte até que reste seca, não é capaz de cultivar uma planta, imagina sempre que amanhã será pior o dia.

O canalha fundamental desconstitui a esperança, pois vive de explorá-la nos ingênuos, nos cabisbaixos e nos distraídos. Vive em todo brasileiro, de uma forma que hoje dele somos indissociáveis, vez ou outra o canalha em nós toma o controle e cumprimos o que era impensável, o mal que criticamos semana passada. Eu nunca! Por conta deste canalha lotamos as academias, lotamos as praias, pois precisamos estar em forma para lidar com suas artimanhas. Alertas! Quem não quer desferir um murro nas fuças deste canalha? Mas preferimos ser seu amigo.

Nosso canalha fundamental vive do que se convencionou chamar de esperteza, ele está é no princípio de nossa burrice. Ele viceja desde os tempos da fundação deste povo, quer se dar bem desde lá, todos conhecemos este gene, ele é um com nossa sociedade. Porque admiramos o canalha secretamente. Porque ele exibe, nós sabemos, uma loucura nos olhos que desejamos, aquela capacidade de sobrevivência enquanto o outro cochila, ainda que esteja por dever no turno de vigília, que se dane! É a hora de passar o rodo, de fazer o ganho, de me dar bem.

Destaco o canalha fundamental nestes dias de Natal porque nesta época a compaixão descola dele de tonta e envenenada, nestes dias seu humor azeda e sua tolerância emocional zera diante do pernil da ceia montada para seu desgosto. Mas ele não permite ausência, por isso discursa no vácuo dos bons, e suas palavras soam frágeis, o bebum atento sabe que soam frágeis porque falsas.

Só que o Natal passa logo, passa, passa o dia 25 de dezembro e o canalha retorna para o seu posto de gozo costumeiro. Ele é o brasileiro por quem protestam e creio que nunca será por nós derrotado. O canalha fundamental está registrado na certidão de nascimento, no RG, em nosso CPF, está no registro de quando casamos. Muita gente o admira, quer ser igual. Muita gente faria, feito ele, qualquer coisa pelo sucesso deste incrível país.

Marco Antonio Martire

Cadê a saída?


O mais do mesmo

A extinção do latifúndio virou ampliação do agronegócio e limitação da propriedade rural familiar. A limitação de remessa de lucros para o exterior transformou-se em demolição das barreiras fiscais que impediam o envio do produto da corrupção daqui de dentro lá para fora. O voto do analfabeto é cercado de tantos impedimentos que só tem diminuído, enquanto aumenta o número dos brasileiros que não sabem ler nem escrever. A participação dos empregados no lucro das empresas continua sonho de noite de verão. O estímulo ao crescimento da indústria nacional desapareceu, ao tempo em que murchou a influência dos sindicatos na formulação da política social e trabalhista. A proteção ao trabalho do menor deu lugar à multiplicação do número de crianças exploradas no campo e nas ruas das grandes cidades. A garantia do trabalho virou fumaça em prol das demissões amplas e irrestritas. Exportamos cada vez mais produtos primários do que importamos produtos estrangeiros de valor agregado sempre maior.

Acabamos de alinhar um programa do PSDB ou a cartilha neoliberal dos tempos de Fernando Henrique Cardoso? Nem pensar. A realidade acima referida é praticada pelo governo do PT. Os companheiros abandonaram as propostas do tempo da fundação de um partido que seria diferente dos demais. Importa menos saber se foi o Lula o primeiro responsável pela mudança ou se coube a Dilma consolidá-la. A verdade é que ambos cederam, se é que um dia imaginaram construir um país socialmente adiantado. Assim chegamos ao final do ano e do mandato inicial da presidente da República. Ironicamente, bafejada pelas urnas do mês de outubro. Por isso não houve a apresentação de um plano de metas, durante a campanha.

O pífio ministério que vem sendo definido, mesmo com alguns nomes petistas, carece de defensores de reformas econômicas, políticas e sociais. Pelo contrário, compõe-se, no mínimo, de adeptos do vigente modelo conservador. A única mudança em pauta parece da criação de limitações para as atividades da mídia. Prevalece o modelo do mais do mesmo, apesar dos 53 milhões de votos dados a Dilma Rousseff. Os eleitores foram enganados ou enganaram?

Fica para outro dia analisar o papel do marechal Costa e Silva na presidência da República, registrando-se apenas que morreu tentando acabar com o AI-5, inclusive num último esforço para assinar o nome, que já não conseguia em função do derrame cerebral que o acometeu. O problema é que acabamos de assistir o prefeito de sua cidade natal, Taquari, no Rio Grande do Sul, mobilizar um guindaste para demolir estátua feita em sua homenagem numa das praças principais.

A iniciativa lembra outra, acontecida em 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas estava para ser deposto do palácio do Catete. Horas antes de dar um tiro no peito e mudar a História do Brasil através de um dos mais importantes documentos da República, a carta-testamento, seus adversários confeccionaram cartazes de papelão com os dizeres “Avenida Castro Alves”, que foram colados em cima das placas onde há anos se lia “Avenida Getúlio Vargas”. A reação popular arrancou os inusitados cartazes e botou os energúmenos para correr.

A gente fica pensando o que acontecerá daqui a cinquenta ou cem anos com as estátuas que fatalmente serão erigidas para homenagear o Lula e a Dilma…

Nada a fazer


A propósito, uma indagação: como será tratada pelo Executivo a descoberta de que membros da classe política indicaram para funções públicas pessoas que não o mereciam? A resposta é simples: nada a fazer. No Brasil — e em quase todo o mundo — não há castigo para isso. Em nome, claro, das liberdades democráticas

E se Machado de Assis escrevesse sobre a Petrobras hoje?

Talvez, em vez de sair à procura de cidadãos loucos, ele se voltaria para os corruptos
Uma escritora brasileira me pergunta: “Se Machado de Assis escrevesse agora sua famosa novela O Alienista, que tema de fundo escolheria?”.
Dando uma olhada nas manchetes dos jornais sobre a minha mesa de trabalho, sou levado a pensar que o gênio machadiano teria centrado sua obra hoje não tanto na loucura em contraposição à prudência, e sim na corrupção frente à ética.

O personagem central da primeira obra de realismo literário de Machado de Assis é o médico alienista (psiquiatra) Simão Bacamarte. Repleto de conhecimentos médicos adquiridos nas universidades europeias, decide voltar à sua pequena cidade de Itaguaí, na então província do Rio de Janeiro, para colocar em prática o seu saber psiquiátrico. Quem seria hoje o personagem central da obra?

E os outros personagens variados, do barbeiro ao padre e à própria mulher do alienista – seriam eles hoje os mesmos que foram em O Alienista?




Talvez, em vez de sair à procura de cidadãos loucos para internar na Casa Verde, um manicômio mandado construir por ele, Bacamarte iria hoje atrás de corruptos e corruptores, de juízes, policiais e advogados dispostos a ajudá-lo em seu afã de distinguir aproveitadores de honestos.

O gênio de Machado, o Cervantes brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras, teria encontrado para seu Alienista personagens tão ou mais interessantes do que aqueles de mais de cem anos atrás, quando escreveu sua obra tragicômica, cheia de humor ácido, bisturi da realidade social de então, povoada como hoje por interesses pessoais e maracutaias políticas.

Machado poderia se divertir amargamente com toda essa caravana de personagens que tingem as atuais notícias a respeito do maior escândalo de corrupção político-empresarial na história deste país.

Entre eles há de tudo: delatores e acobertadores, corruptos e corruptores, vítimas e verdugos; empresários e políticos, assim como um submundo de personagens à sombra, manipulados como bonecos por quem nunca vem à luz. Eles teriam inspirado o realismo e a comicidade de Machado, em quem Alcides Maia dizia ver o humor típico dos escritores britânicos, mas com um verniz tropical.

sábado, 27 de dezembro de 2014

A aliada da corrupção



A sensação de impunidade potencializa a prática de corrupção. A ideia de uma pessoa que se considera fora do alcance do braço da lei fomenta a corrupção. No momento em que essas pessoas, percebem que existem consequências que as respostas serão eficazes, isso tende a mitigar o fenômeno da corrupção. Ou seja, a gente só pode combater a corrupção com efetividade na medida em que o Estado atuar de forma eficiente no enfrentamento


Como se escolhe ministério


As ideologias não têm mais razão de existir


Nosso sistema político – base de tudo que acontece – não tem perigo de melhorar, sendo ele manipulado pelos partidos políticos que se formam com este fim.

Desde 1889, os grupos interessados em dominar o país em benefício próprio aliam-se em torno de partidos quaisquer, desde que atendam seus interesses imediatos.

A história provou que a democracia é o melhor sistema, ou menos pior, que já existiu. Precisamos aperfeiçoá-lo e isto passa pela escolha direta, pelos eleitores, dos candidatos à qualquer cargo eletivo. Democracia para funcionar não precisa de partidos políticos, que eu reputo como organizações criminosas e que, além de tudo, em função de ideologias antagônicas, irreconciliáveis, separam a sociedade em grupos rivais.

Ideologias, no século XXI, não têm mais respaldo.

As estatais são a Disneylândia dos políticos. Desde que me lembro é assim. E assim continuará enquanto elas forem feudos dos políticos. Não importa o partido. Quem estiver com a chave do cofre na mão, faz o que bem entende. Roubam. É para isto que a maioria entra na política. Para roubar! Os otários de sempre, nós, os bobos da Corte, estamos aí para pagar a conta.

Isto só mudará as quando empresas estatais forem transformadas em empresas sociais, e os políticos estiverem proibidos inclusive de passar na calçada em frente à empresa.

A administração das empresas sociais tem de ser altamente profissional. Metade do lucro para os capitalistas, acionistas e investidores, e a outra metade do lucro – fermento do desenvolvimento – para os trabalhadores da empresa, aí incluso também os administradores.

Até isso acontecer, continuaremos pagando a conta da roubalheira perpetrada pelos políticos e seus financiadores.

E o pessoal permanecerá discutindo para ver qual dos partidos rouba mais. Logicamente que é sempre o partido do outro que rouba mais.

Martim Berto Fuchs

Teste de inteligência


Precisamos ser investigados


Não há como obter democracia negando aquilo que é a própria democracia: o direito de discordar. Suprima-se esse princípio e você inventa, em nome da ordem, a subversão e a traição.

A violência surge quando o direito de criticar e discordar é escamoteado ou proibido em nome de alguma coisa. Investigar e se escandalizar com a roubalheira da Petrobras não significa que se quer acabar com ela. Pelo contrário, o que se deseja é salvá-la. O reinado da lei só existe quando a lei não foi rasgada ou controlada por uns poucos ou em nome de algo intocável ou sagrado. Pois a lei é o meio pelo qual, numa sociedade de iguais em direitos, valores são invocados, disputados e discutidos e trocam de lugar como verdades ou mentiras. A mobilidade é parte da vida democrática e ela inclui também crenças, utopias e tabus.

Em gestão, a lei celerada


A provável nomeação de Ricardo Berzoini para o ministério das Comunicações indica o recrudescimento da proposta de controle da mídia, tão a gosto do PT mas até agora rejeitada por Dilma Rousseff ao longo de seu primeiro mandato. A presidente teria cedido à pressão dos companheiros e vai atender a uma imposição do Lula, mesmo preparada para sustentar que não se trata de controle do conteúdo. Para ela e para o seu partido, a liberdade de expressão constitui valor absoluto na Constituição de 1988.

Para que diabo, então, quer o governo regular as atividades dos meios de comunicação? Para desmentir informações divulgadas contra seus interesses não valeria o sacrifício. Basta mobilizar os porta-vozes oficiais ou, em certos casos, os próprios personagens contrariados pelas notícias. Não se tem um exemplo, ao longo dos anos recentes, de que algum jornal, revista, emissora de rádio e de televisão tenham deixado de registrar desmentidos oficiais, que também são noticia. Tome-se o escândalo na Petrobras: sempre que a estatal nega denúncias, suas versões ganham a mídia, mesmo contrariadas pelos fatos.

Não pode ser uma forma de obrigar os meios de comunicação a divulgar a história oficial, porque eles já se comportam assim, em nome do bom senso, se não for da ética. Desejaria o poder público ampliar espaço e tempo para suas versões, bem como os pontos de vista de particulares pretensamente atingidos? Só que esse ritual vigora faz muito, com a Justiça sempre pronta para aplicá-lo e fiscalizá-lo.

Há quem suponha estar o governo tentando reavivar a lei dos segredos oficiais, mas para saber se algum veículo de informação a infringiu, sempre existirá o Poder Judiciário ao qual podemos recorrer, pelo menos nas democracias.

Fica assim a dúvida inicial: com que objetivos os companheiros vão insistir nessa lei celerada? Discriminar a distribuição de publicidade dos órgãos públicos, selecionando a mídia amiga e amestrada também não é necessário. O governo já se comporta assim, bastando atentar para a farta distribuição de anúncios diretos e indiretos pelas estatais do tipo Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios e sucedâneos. Aliás, a exigência de índices de audiência e de circulação faz parte dos regulamentos vigentes, tendo até despertado a má vontade do PT para com os encarregados do setor, quando não se curvaram às imposições fisiológicas do partido.

Vale continuar prospectando: para quê esse monstrengo que o Congresso fatalmente aprovará, em especial por conta da esdrúxula reforma ministerial em curso?

Nos tempos da ditadura militar, por alguns períodos prevaleceu a censura ostensiva, mas sempre foi aplicada a pressão econômica. Mataram o “Correio da Manhã”, o mais completo jornal político do país, cortando não apenas a restrita publicidade estatal distribuída ao matutino, mas principalmente forçando as empresas privadas a não anunciarem em suas páginas, sob pena de corte de crédito em suas operações. No reverso da medalha, privilegiaram os órgãos de informação dispostos a distorcer o noticiário em troca de favores e benefícios variados. Repetir a farsa e a tragédia, cinquenta anos depois, seria no mínimo anacrônico, ainda que as críticas e a exposição de escândalos e malfeitos governamentais sempre leve os governantes à beira de um ataque de nervos.

Deve ser por aí que vão trabalhar, indo ou não Ricardo Berzoini para o ministério. A presidente Dilma negou a especulada transferência das verbas publicitárias oficiais da Secretaria de Comunicação Social para o ministério das Comunicações. Mas dará no mesmo se tiverem como alvo facilidades para a transmissão de notícias favoráveis, bem como dificuldades para as informações desagradáveis. Manipular a publicidade oficial e privada, promover empecilhos econômicos e financeiros ao funcionamento das empresas jornalísticas e distribuir benesses e regalos a quantas se comportem de acordo com seus planos e interesses – essa a característica da lei celerada em gestação.

Artigo de Carlos Chagas

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

'É uma onda do mar...'


Árvore, trânsito, Petrobras e Macadâmias


É Natal, bimbalham os sinos, o mundo gira e a Lusitana roda — mas, nem por isso, as informações sobre a roubalheira na Petrobras deixam de nos surpreender. Ou, como gosta de dizer a “presidenta”, de nos estarrecer. Assisti à entrevista que a Venina deu à Glória Maria, e fiquei estarrecida. Não com as denúncias — afinal, eu precisaria ser mais ingênua do que Dilma e Graciosa juntas para acreditar que nem uma nem outra sabiam do que se passava na empresa — mas comigo mesma por, paradoxalmente, não mais me estarrecer diante do que ouvia.

Sinto que nada do que eu possa vir a saber sobre a Petrobras ou sobre o governo poderá, jamais, me estarrecer; a minha capacidade de estarrecimento está esgotada.

A única coisa que ainda me causa algum espanto em relação à Petrobras é o profundo silêncio dos seus 85 mil funcionários. Cadê os protestos? Cadê as passeatas? Cadê a vergonha na cara?

***

Em Nova York, a filha do dono da Korean Air mandou um avião da empresa voltar ao portão de embarque depois que lhe serviram macadâmias num pacotinho, em vez do prato de porcelana que esperava. Por causa disso, o voo teve um atraso de 11 minutos, a Coreia do Sul entrou em polvorosa, as vendas de macadâmias dispararam, e a moça pediu perdão em público pelo piti. Seu pai, o poderoso CEO da companhia, reuniu a imprensa para curvar-se num pedido de desculpas ainda mais elaborado, em que reconheceu que não soube educar a filha; a gravata que usava quase tocou o chão.
Há lugares no mundo em que os envolvidos em escândalos pedem desculpas.

Paisagens Brasileiras

Lida diária, arredores de São Paulo (1895), Antônio Ferrigno 

Dieta de Dilma



Está em toda a rede e virou um sucesso de acessos. Para ficar fininha e esbelta no dia da pose presidencial, junto com os ministros, Dilma está cortando na carne e fechando a boca.

Quem dera que também fizesse dieta no governo, cortando a corrupção e fechando de uma vez a boca para não falar bobagem - em que é emérita - nem sair por aí se mostrando a vovó sabe tudo.

Que bem faria uma presidente que não enchesse a boca de farofa, não engordasse os caixas, não alimentasse a voracidade mórbida da politicagem, nem sequer tivesse sobrepeso de ministros. Teria-se uma administração enxuta, esbelta, com corpinho de 20 e não mais a jamanta que atropela o país.

No entanto o que se prevê é uma buchada das mais incrementadas com sérias consequências físicas e mentais para a população, que vai ter um porre de corrupção e de abrigo da safadeza. Na lista dos já anunciados, pode-se ver gente com processo na Justiça, absolvidos pelas bênçãos presidenciais da campeã anticorrupção, um bom monte de pastéis de vento, sem contar os “azeitonas” para enfeitar o empadão presidencial. Tudo, enfim, uma farofa velha e rançosa. Indigesta até não poder, tudo para garantir mais uma vez a imagem da toda poderosa.

A dieta, que entra também na agenda positiva, sem dúvida, deve ser outra recomendação do doutor Santana para o "governo novo, novas ideias, presidente de cara nova". Só que o país continua cada vez mais envilecido por essa mania de recorrer a marketing para mostrar que tudo vai bem, quando o país vai bem mal, para desgraça dos homens e mulheres que dão duro para fazer deste um lugar melhor no mundo. Enfim, vivem sob as leis e com honestidade, o que não entra na dieta de Dilma.

Financiando para outros lucrarem


O Porto de Mariel não é um investimento. Obras que se realizaram no Porto foram empreendidas por companhias brasileiras com financiamento majoritário do governo brasileiro. Trata-se de financiamento de exportação de serviços. Não será o Brasil ou qualquer empresa brasileira que operará Mariel, mas uma companhia de Cingapura

Presentes que Papai Noel deixou


Papai Noel veio direto do Polo Norte para Brasília, na noite de quarta para quinta-feira. Só abandonou o trenó quando ia sobrevoar o palácio da Alvorada, preferindo trocá-lo por um tanque de guerra: preparou-se para receber os petardos que Dilma costuma arremessar sobre auxiliares, integrantes de sua base parlamentar e quantos buscam instruções a respeito de como ajudá-la a governar. Por conta da Babel em que se transformou a atual administração, deixou como presente um sofisticado telefone celular, daqueles capazes de traduzir idiomas variados para os interlocutores. O aparelho evitará o constrangimento de a presidente não falar a mesma língua de seus ministros, prevenindo desentendimentos e conflitos no segundo mandato.

No palácio do Jaburu, morada do vice-presidente Michel Temer, precisou descer para conter a multidão de filiados ao PMDB, cobrando mais vagas no ministério.

O velhinho passou sobre o Congresso, levando lembranças para deputados e senadores, mas frustrou-se ao verificar que não havia um só deles nas amplas dependências. Deixou na portaria exemplares do manual de sobrevivência na selva, endereçados aos novos parlamentares. Despachou cópias do Código Penal, pelo Sedex, para serem entregues no começo de 2015 na penitenciária da Papuda, aos integrantes da lista do procurador-geral da República, que lhe havia enviado dias antes. Nos escritórios da Petrobrás e nas representações das principais empreiteiras, preferiu deixar catálogos com instruções sobre como dormir no chão em celas superlotadas.

Na Esplanada dos Ministérios, distribuiu montes de caixas de Lexotan para quantos atuais ministros se encontram à beira de um ataque de nervos, ainda sem saber se continuam ou serão mandados embora.

No pátio do Supremo Tribunal Federal espalhou fotografias do ex-ministro Joaquim Barbosa com os dizeres “ele voltará!”. Como o atual presidente Ricardo Lewandowski estava de plantão, preferiu colocar em sua antessala um tratado sobre a arte de enxugar gelo e ensacar fumaça.

Tentou aproximar-se do palácio do governador de Brasília e não conseguiu, tendo em vista monumental e permanente caos no trânsito. A festa foi para suas renas, que comeram capim à vontade, crescido nos jardins e à beira das avenidas. O jeito foi presentear Agnelo Queirós com uma tesoura de cortar grama.

Passando pelo monumental e abandonado estádio “Mané Garrincha”, fez cair no gramado sacos de sementes de trigo e soja, sua contribuição para recuperar o agronegócio na capital federal. Sobre o Lago Paranoá depositou uma canoa em cujo casco estava escrito: “Nova Sede do Ministério da Pesca”.

Papai Noel deixou Brasília no meio da madrugada com uma indagação: a cidade ainda estará aqui no próximo Natal?

Carlos Chagas

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Até tu?


Nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como esse núcleo petista fez em tão pouco tempo. Na ditadura, apesar de todo sofrimento, perseguições, prisões, assassinatos, saímos de cabeça erguida e certos de que tínhamos contribuído para a redemocratização do país. Agora, não. Esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira
Frei Betto, fiel escudeiro do lulismo

A política errada e a ameaça das superbactérias


Quando alguém se declara “apolítico”, ou diz que “odeia a política”, nos lembramos de que a palavra política deriva de Politeía, vocábulo relativo a tudo que acontecia nas antigas Polis, cidades-estado gregas, e da velha constatação aristotélica de que “o homem é um animal político”.

Querendo ou não, todo ser humano participa, no convívio, no aprendizado e no debate com outros seres humanos, da atividade política, mesmo quando não exerce nenhum cargo público, se assume “apolítico” e declara o seu “ódio” à política.

A política, como ocorre com Deus, para a maioria das religiões, está em todas as coisas, das maiores às que são aparentemente mais ínfimas.

Um estudo que acaba de ser divulgado pelo governo britânico, alerta que as superbactérias matarão, em poucos anos, mais que o câncer, e que o custo de seu tratamento chegará a 100 trilhões de dólares nas próximas décadas.

Foi a economia no combate à infecção hospitalar e a ausência de fiscalização rigorosa em hospitais públicos e privados, assim como o incentivo, durante anos, do uso indiscriminado e desnecessário de antibióticos em diversos países do mundo, incluído o Brasil, que deu origem à transformação destes organismos.

E é a mesma ausência de fiscalização e controle que está fazendo com que novas gerações de bactérias resistentes mesmo aos mais modernos medicamentos estejam ultrapassando os limites dos hospitais e postos de saúde, ameaçando transformar-se em uma pandemia, atingindo diretamente a população.

A Fiocruz, que já havia detectado, antes, por duas ocasiões, superbactérias no esgoto lançado clandestinamente, no Rio Carioca, no Rio de Janeiro, acaba de anunciar que detectou sua presença também na água do mar, nas praias do Flamengo e de Botafogo, com possibilidade de que se multipliquem e acabem chegando ao Leblon, Copacabana e Ipanema.

Que turistas e banhistas deixem de frequentar o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, que as crianças não possam mais se sentar na areia, ali ou no vizinho bairro de Botafogo, que a Cidade Maravilhosa possa transformar-se, de chamariz, em ameaça para milhões de turistas que a visitam, é um absurdo.

A poluição de nossos rios e lagos, com a diminuição da oferta de água potável à população, e agora da orla marítima da segunda cidade do país, é uma questão ambiental, mas, como muitas outras mazelas de nosso país, também uma questão política, e tem que ser enfrentada com determinação e rapidez.

A população carioca deve mobilizar-se e exigir que os responsáveis sejam punidos e que o esgoto hospitalar seja tratado totalmente nos próprios locais em que é produzido.

Não se trata apenas de uma questão de saúde. Se houver uma epidemia, milhares de empregos e empresas estarão em risco, assim como as Olimpíadas de 2016.

Mauro Santayana

O convento, a madre superiora e as freirinhas

Dos 39 ministros que formam a atual equipe do governo Dilma, com uma parte prestes a ser substituída, quem será capaz de citar todos, com os respectivos ministérios? E quanto aos novos, dos já anunciados para assumir no primeiro dia de janeiro?

Fenômeno invulgar acontece na administração federal: tanto pelo número inflacionado de ministros que continuam ou que vão embora, é possível que nem a presidente da República consiga recitá-los de bate-pronto. Do total dos ainda titulares, quantos só conheceram o gabinete da chefe do governo no dia da posse ou, bissextamente, passaram pelos corredores do terceiro andar do palácio do Planalto?

Houve tempo, quando a equipe se limitava entre dez e doze ministros, que todos despachavam quinzenalmente com o presidente. No longínquo período em que eram no máximo sete ou oito, toda semana marcavam presença, sendo levados a expor planos e programas dos quais eram cobrados em salutar rotina. Hoje, ficou impossível, acrescendo o fato de existirem ministros de primeira e de segunda classe. Uns poucos, que pela importância das decisões tomadas ou a tomar, pessoalmente ou pelo telefone, prestam contas quase diárias. Os palacianos, em especial, com gabinete a poucos metros da presidente. Outros, aliás, a maioria, indicados pelos partidos e que antes de nomeados eram simples desconhecidos da presidente. Alguns, até, que Dilma nem quer ver.

Vai continuar assim, no segundo mandato. Quer dizer, fora algumas exceções, ser ministro vale muito pouco. O parcelamento das atividades de cada um esvaziou a importância do conjunto, vale repetir, fora as exceções de sempre. Some-se ao precário conhecimento da maioria dos velhos e dos novos ministros a respeito de suas funções e se terá a receita de um grupo insosso, amorfo e inodoro. Funciona mesmo um governo dentro do governo, com a presidente presidindo cada vez mais isolada. Junte-se seu temperamento irascível, severo e até ríspido, pouco afeto a atenções e generalidades e a conclusão será pela transformação do palácio do Planalto num grande convento onde a Madre Superiora intimida as freirinhas e faz tremer as noviças espalhadas pela Esplanada dos Ministérios.

Deu certo no primeiro período? Dará certo no segundo? Há dúvidas. Sem poder supervisionar 39 atividades e mais outro tanto na administração secundária, é natural que Dilma desconheça aspectos fundamentais do seu próprio governo e da vida nacional.

Carlos Chagas

A desculpa do PT para cair no colo da direita


Argumentação rasteira, tola e absurda está sendo usada pelos blogueiros chapa branca de sempre, além de porta-vozes formais e informais do governo, para justificar a montagem até aqui do segundo ministério da presidente Dilma Rousseff. Se não dá raiva, dá pena. Ou as duas coisas juntas.

O ministério está saindo mais à direita do que todos desejavam, eles reconhecem. Para, em seguida, encaixar a desculpa de que isso se deve à falta de amparo do resto da esquerda. Sim, do resto, porque ainda consideram o PT um partido de esquerda. O resto da esquerda seriam o PSOL, PCB, PCO, etc...

Outro motivo para o governo se inclinar à direita: o Congresso. O novo Congresso seria tão ou mais conservador do que esse que ainda temos. Mais conservador na opinião dos defensores do governo. Desse modo, ao governo só restaria cair com desconforto no colo dele. É o jeito!

Vê-se desde logo que o raciocínio não se sustenta por frágil, na melhor das hipóteses. Ou mentiroso, na pior. O PT deixou de ser de esquerda há muito tempo. Desde que chegou ao poder com a primeira eleição de Lula. Ganhou a eleição pela esquerda. Governou pela direita.

Leia mais o artigo de Ricardo Noblat

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal


Você é o Natal


O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto se faz necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor.

Natal é você, quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua alma.

O pinheiro de Natal é você, quando com sua força, resiste aos ventos e dificuldades da vida.

Você é a decoração de Natal, quando suas virtudes são cores que enfeitam sua vida.

Você é o sino de Natal, quando chama, congrega, reúne.

A luz de Natal é você quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros.

Você é o anjo do Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e de amor.

A estrela-guia do Natal é você quando consegue levar alguém ao encontro do Senhor.

Você será os Reis Magos quando conseguir dar, de presente, o melhor de si, indistintamente a todos.

A música de Natal é você quando consegue também sua harmonia interior.

O presente de Natal é você quando consegue comportar-se como verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano.

O cartão de Natal é você quando a bondade está escrita no gesto de amor, de suas mãos.

Você será os “votos de Feliz Natal” quando perdoar, restabelecendo de novo, a paz, mesmo a custo de seu próprio sacrifício.

A ceia de Natal é você quando sacia de pão e esperança, qualquer carente ao seu lado.

Você é a noite de Natal quando consciente, humilde, longe de ruídos e de grandes celebrações, em silêncio recebe o Salvador do Mundo.

Um muito Feliz Natal a todos que procuram assemelhar-se com esse Natal.
Papa Francisco

Cartão presidencial

Dilma e o PT enviam sua mensagem natalina ao povo brasileiro

Natal e natais



Há Natais tristes; há Natais de desesperança como o de agora. Há Natal para se comemorar, se é que se pode comemorar, com 7 milhões com fome e mais de 50 milhões que comerão a ceia de sempre, se conseguirem alimento.

Resta o consolo dos inocentes, a alegria em meio ao lodaçal. Herdarão eles o céu ou o inferno, dependendo do que escolhermos para eles como futuro.

O Papai Noel do comércio até está meio emburrado com poucas vendas previstas. O verdadeiro, que vem do Polo Norte, nem pode se aproximar dos céus brasileiros devido à tempestade de miasmas sobre todo o território. É o temporal vermelho que fechou os céus, deixou uma terra assolada pela peste da mediocridade, da roubalheira, da falta de caráter.

Festa pra valer, haverá entre aqueles mesmos que comemorarão em triplex com champanha, peru, importados de todo o tipo, árvores enfeitadas de presentes milionários, pois há fartura de dinheiro roubado ao povo. Farão a gastança natalina sem um remorso sequer pelo o que fizeram. Acreditam piamente que suas bolsas são recheadas de dinheiro pelas dádivas divinas e merecidas, abençoadas, como as suas falcatruas.

Vamos à ceia dos enganados que fomos, somos e seremos no Ano Novo pela cambada de sem vergonhas. Os mesmos que fizeram do país um quase continental território da corrupção para abastecer essa ganância de inqualificáveis assim na terra como no céu.

'Roubar é uma arte'

'Mas não roubo mais só por necessidade; é tesão, prazer mesmo'
“O Natal está aí. E quero vos dar um presente de Papai Noel, contando traços de minha vida às margens do Poder, para que entendam que a finalidade do roubo da coisa pública não é apenas a fome de grana, o amor ao tutu, ao vil metal. Não; roubar é uma aventura épica, é uma corredeira de sustos e vitórias, a delícia do risco assumido. Com essas descobertas dos chamados escândalos da Petrobras, comecei a ficar preocupado — mas meu nome ainda não foi citado. Talvez nem seja, porque o que levei foi uma mixaria diante dos milhões de dólares de gorjeta. Levei pouco, pois sou da época dos ‘dez por cento’, que durou até que o falecido Orestes Quércia lançou a máxima eterna: ‘dez por cento é para garçom’.

“Aí começou a inflação da corrupção. Sou gatuno, mas cheguei a ver com espanto propinas de US$ 40 milhões. Isso nunca houve na face da Terra; fico até humilhado com minhas modestas mãos na cumbuca — eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo... (sem veadagem... claro). Não sou um ladrão de galinhas, mas já roubei galinhas do vizinho e até hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Ha ha ha...

“Mas não roubo mais só por necessidade; é tesão, prazer mesmo. Tenho sete fazendas imaginárias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala de dólares voa em minha direção; vibro, vendo os olhos covardes do empresário, suas mãos trêmulas me passando a propina; delicio-me quando o juiz me dá ganho de causa, ostentando honestidade e finge não perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (está entre US$ 50 mil e US$ 100 mil hoje). Sinto-me ‘superior’ assim. Roubar me liberta. Eu explico: roubar me tira do mundo dos ‘obedientes’ e me faz ‘excepcional’. Gosto da doce volúpia em salões de caretas — me xingam pelas costas, mas me invejam pela liberdade cínica que imaginam que tenho. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim. Adoro sentir o espanto de uma prostituta quando eu lhe arrojo US$ 1 mil sobre o corpo, fazendo-a caprichar em carícias. É uma delícia rolar, nu, em cima de notas de US$ 100 na cama, sozinho, comendo chocolates do frigobar de um hotel vagabundo da cidade onde descolei a propina de um canal de esgoto superfaturado. Tenho orgulho de mim como profissional insensível até quando roubo verbas de remédios para criancinhas; domino a vergonha e transformo-a na bela frieza que constrói o grande homem. Sei muito bem os gestos rituais da malandragem brasileira: sei fazer imposturas, perfídias, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduá e chorar lágrimas de crocodilo...

“Eu já declarei de testa alta na Câmara: ‘Não sei nem imagino como esses milhões apareceram em minha conta na Suíça. Como? Que conta? Apesar desses extratos todos, não tenho nem nunca tive conta no exterior!’. Esse grau de mentira é tão sólido que deixa de ser mentira e vira uma arte. Vejam o exemplo do grande mestre Paulo Maluf — conseguiu desmoralizar nosso Código Penal e vai ser deputado de novo!

“Aliás, saibam que isso vai acontecer também com os ‘petrolões’ — são tantos processos que tudo vai se congestionar e, com o tempo, nada será feito.

Leia mais o artigo de Arnaldo Jabor