A lista inicial é puro-sangue, de lealdade irrestrita e obrigatória ao chefe. De resto, os indicados são ecléticos, e pessoas minimamente sensatas fariam bem em deles manter distância. A seguir, algumas pinceladas, começando pelo mais polêmico e insustentável dentre eles — Matt Gaetz, designado por Trump para procurador-geral/ministro da Justiça dos Estados Unidos.
— Equivale a nomear um serial killer para o cargo de cirurgião-geral [responsável pela saúde pública do país] — escreveu a jornalista Bess Levin na Vanity Fair.
Gaetz, de 42 anos, queixo e cabeleira kennedyanos, mas olhar de Jack Nicholson em “O iluminado”, pouco exerceu a advocacia antes de se tornar deputado federal pela Flórida. Na quarta-feira, renunciou abruptamente ao mandato, antecipando-se à divulgação de um dossiê “altamente comprometedor” pelo Comitê de Ética da Câmara, que há três anos o investiga por tráfico sexual e uso de drogas. Ao renunciar, Gaetz conseguiu abortar a jurisdição da comissão parlamentar, mas dificilmente evitará que o relatório venha a púbico. Até porque o escolhido de Trump também já foi acusado de promover um campeonato de sexo entre legisladores — vencia quem mantinha o maior número de relações com estagiárias, virgens e universitárias. Gaetz talvez seja o único com chances mínimas de sobreviver à sabatina no Senado — mesmo um Senado de maioria republicana.
A republicana Kristi Noem governa o estado de Dakota do Sul há cinco anos. Foi pinçada por Trump para chefiar o pantagruélico Departamento de Segurança Interna, composto por 22 agências federais, com a missão de “executar uma das operações de deportação mais maciças da história americana”. Sua biografia pouco tem de notável, exceto por um episódio que narra em seu livro de memórias, “No Going Back...” (Sem volta): como e por que ela levou Cricket, o filhote de 14 meses da família, até uma pedreira e ali o executou com um tiro à queima-roupa. O pointer era desobediente, não aprendia a caçar. Odiava-o, explicou. (Também contou ter matado uma cabra pelo mesmo método.) Trump, que notoriamente também detesta caninos, gostou do episódio.
A indicação de Mike Huckabee para a embaixada americana em Jerusalém é o que se poderia chamar de encontro de almas. Ele governou o estado do Arkansas por quase uma década, é ministro da Igreja Batista, milita no sionismo cristão, tentou por duas vezes ser o candidato republicano à Casa Branca. Huckabee não chegou nem perto, mas fez história ao afirmar que “na verdade, não existe o que chamam de palestino” e “tampouco existe a Cisjordânia — o que existe é Judeia e Samaria”. Aos assentamentos ilegais de israelenses na Cisjordânia Ocupada ele dá o nome de “comunidades”. Cessar-fogo em Gaza? Nem pensar. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deve estar contando os dias para a chegada do novo embaixador.
Entre os que dependem de confirmação pelo Senado também está Robert Kennedy Jr., um fio desencapado na política que seduziu Trump não apenas pelo sobrenome da cultuada dinastia. Negacionista feroz da eficácia das vacinas, promotor de inúmeras teorias da conspiração e adversário combativo dos alimentos ultraprocessados, Kennedy é um poço de esquisitices. Mais de uma década atrás, ao perceber uma aguda perda de memória somada a outros efeitos de cognição, submeteu-se a uma bateria de exames de imagens que apontavam para um tumor cerebral. Às vésperas de ser submetido à cirurgia, conta o New York Times, percebeu-se que o cisto em questão era um parasita que havia conseguido penetrar no seu cérebro, dele se alimentado e morrido. O raro fenômeno atende pelo nome de neurocisticercose.
Kennedy também já foi diagnosticado com envenenamento por mercúrio, fibrilação atrial e sofre de disfonia espasmódica nas cordas vocais, o que torna a sua fala um tanto agoniada e rouca. Sem falar numa doentia, e autodeclarada, compulsão por sexo. Trump não apenas o quer na chefia do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, como quer que dê vazão a suas ideias mais extravagantes.
Há os que não dependem de confirmação pelo Senado, como a dupla de bilionários desiguais — Elon Musk, cuja fortuna beira os US$ 309 bilhões, e Vivek Ramaswamy, com seu mísero US$ 1 bilhão — elencados para codirigir um fantasioso Departamento de Eficiência do Governo. Como primeiras ideias da dupla, a eliminação do Departamento de Educação, da Receita Federal e do FBI. Deles falaremos noutra ocasião.
Por ora, ficamos com uma frase do escritor Ben Tarnoff para a New York Review of Books:
— Um império em decadência é um animal perigoso.
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