terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Davos verde e o Brasil

Em 1971, Klaus Schwab organizou o Simpósio Europeu de Gestão. A partir de 1987, passou a ser conhecido como o Fórum Econômico de Davos, Genebra. Desde então, o Fórum se reúne, congregando chefes de Estado, cientistas, lideranças empresariais, acadêmicos, líderes políticos, jornalistas, um público eclético para discutir as questões estratégicas para o futuro da humanidade.

Segundo Schawb, os dois modelos de capitalismo – “o capitalismo de acionistas” e “o capitalismo de estado” – se esgotaram. Urge, segundo ele, dar um significado concreto ao que denomina de “capitalismo das partes interessadas” (stakeholders capitalism). A rigor, é um reconhecimento tardio de que a noção de progresso, gestada no industrialismo, revelou-se insustentável diante dos limites ambientais e do imperativo ético de maior equidade social.

Neste novo desenho, estão estabelecidas premissas que jamais deveriam ser ignoradas e novas premissas, completando um amplo compromisso entre as “partes interessadas”: pagamento justo de impostos, tolerância zero com a corrupção, estímulo à qualificação dos empregados, uso ético de informações privadas na era digital (sobre o assunto é imperdível o documentário “Privacidade Hackeada”), vigilância dos direitos humanos em toda cadeia de fornecedores, remuneração responsável dos executivos, proteção ao meio ambiente para as futuras gerações (empresários e banqueiros receberam uma carta assinada por Schwab e pelos presidentes do BanK of America, da gigante holandesa Royal DSM com o compromisso de zerar emissões líquidas de gases do efeito estufa de suas companhias, tornando-se neutras até 2050).

Pela dimensão ambiental, o encontro está sendo chamado de “Davos verde”: 51 painéis abordam ecologia, 50, geopolítica e 27, economia, enquanto que o painel “Assegurando o futuro sustentável para Amazônia” não tem representante do governo brasileiro.

Mais uma vez, nosso país ratifica as sábias palavras de Mario Henrique Simonsen: “O Brasil é o país das oportunidades perdidas”. Para nós, a questão ambiental não é um limite, mas uma oportunidade singular para consolidar a economia de baixo carbono e dela aproveitar as vantagens competitivas no mercado internacional. É ocioso mencionar nossas potencialidades; limitar o debate a conflitos pontuais com foco na eficácia dos instrumentos de controle e de comando.

Eis o grave equívoco do governo: o olhar periférico sobre o tema em prejuízo da percepção conceitual do fenômeno. Não há caminho fora do diálogo eco-eco. Foi-se o tempo em que custo ambiental era uma “externalidade” à função de produção. Hoje tem preço mensurável e valor ético. O Brasil vem perdendo suas cores. Resta o cinza.

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