terça-feira, 24 de novembro de 2015

Argentina 7: Brasil zero

Muita gente também tenta entender o Brasil de agora com a velha teoria do bruxo da abertura, Golbery do Couto e Silva, com o seu “paper” intitulado “Sístoles e Diástoles da Política Brasileira”. Pelo modelo, entende-se agora também a Argentina…

Para Golbery, o Brasil tem um condão único: quando o poder fica mais conservador que o povo, este opta por aberturas. Quando o poder abre demais à esquerda, é fechado por golpes patrocinados pela sociedade civil mas não tão civilizada: o tenentismo de Vargas era uma abertura face à política conservadora do café com leite, retirada a fórceps; Getúlio, por sua vez, encastelou demais e teve de meter um balaço; Jango abriu demais, foi fechado pelo Movimento de 1964; e este, por sua vez, fechou demais e teve de instalar a abertura lenta e gradual.


Uma penca de intelectuais tentou dar respostas ao que era o Brasil, nos últimos 80 anos. A turma do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB, como Hélio Jaguaribe, Roland Corbisier e Cândido Mendes de Almeida, nos anos 50, criticava a eternal vocação agrária do Brasil. Diziam que nosso mundo agrário-mercantil se aliava aos gringos para que o Brasil não desenvolvesse seu parque industrial e fosse um eterno exportador de grãos.

Foi no Movimento de 1964 que os “intelectuais” da Escola Superior de Guerra derrotaram o vies levemente marxista do ISEB e acentuadamente comuna, de gente como Fernando Henrique Cardoso e Serra de então, com um planejamento tocado por tecnocratas cegamente aliados aos EUA.

A escola posterior a isso teve ícones como Paul Singer ( “A crise do Milagre, de 1976)”, Carlos Lessa (1979), Guido Mantega e Marisa Moraes (1980). Procuravam um pacto nacionalista.

É esse modelo (Mantega sob Dilma) basicamente o que incomodou os gringos hoje: esse arranjo nacionalista, com alianças de classe bem claras para o proletariado ( os 40 milhões de recebem o bolsa-família deveriam ser proibidos de votar…), com uma armagedônica falta de clareza com a nova classe média, hoje instável ao osso, – e com o investimento externo estagnado, porque sem noção das regras do jogo sob Dilma…

Bem: Roberto Mangabeira Unger, ministro-chefe de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, disse à Folha em setembro passado que o modelo Lula estava falido: porque, referiu fundado em “ampliação de consumo, renda popular e exportação de commodities”.

Não quero cair a esparrela do Eterno Retorno, de Nietzsche, nem naquela teoria do napolitano Giambattista Vico, pai da ideia de que ciclos históricos se repetem.

Quando o dólar explodiu, em julho de 2002, falava-se que era culpa do Lula por conta do efeito eleição. Naquela época se tinha medo de investor aqui porque ninguém sabia quem Lula era: hoje se tem medo de investor aqui porque todos sabem quem Lula e Dilma são.

Quero lembrar de uma passagem daquela metade de 2002, quando o dólar bombava mais que hoje: o economista Rudiger Dornbusch, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), morto em junho daquele ano, aos 60 anos, em sua casa, em Washington.

Destacou-se por ter previsto a crise mexicana, em novembro de 1994, quando da desvalorização do peso mexicano.

Em seu obituário, três grandes jornais brasileiros destacaram uma frase sua, de 1998, um ano antes da desvalorização cambial brasileira. Dornbusch referiu que o FMI (Fundo Monetário Internacional) não deveria colocar dinheiro no Brasil para evitar uma crise. “Quando o Brasil ligar, apenas deixe o telefone tocar. Diga que nossos operadores estão ocupados”.

A Argentina disse não a esse estado de coisas.

Bem: a Argentina fez um Papa, tem cinco Prêmios Nobel, criou Jorge Luis Borges e soube dizer não ao populismo.

Seguindo o modelo Golbery das sístoles e diástoles, puderam “fechar” o poder porque ali os votos não foram comprados pelo bolsa-família…

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