quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O ocaso de um partido

Quem acompanhou a política das décadas de 1980 e 1990 e via no PT a esperança se sentia seduzido pelos intermináveis debates entre as correntes internas e pela pluralidade de opiniões de seus próceres — de trabalhadores engajados e empresários preocupados com o lado social até intelectuais e artistas — sabe que a estrela vermelha começou a se esfacelar muito antes da Lava-Jato e da crise política e econômica que corrói o governo Dilma.

O início da decadência coincidiu com a chegada ao poder, em 2003. Não há partido no mundo que mantenha a pureza, a transparência de ideias, a coerência sendo obrigado a negociar e a ceder. Mas no PT essa contradição sempre foi mais latente justamente pelos discursos arrogantes e denuncistas de seus líderes. Já no terceiro ano de mandato de Lula vinha à tona o escândalo do mensalão e, com ele, caía por terra a principal bandeira do partido: a ética.

Mas talvez o maior erro foi ter traçado um projeto de existência que passava pela perpetuação no poder. A continuidade é sempre perigosa e nociva, mesmo que venha com o respaldo do voto. O próprio PT viveu situação semelhante quando governou Porto Alegre por 16 anos. Quando Olívio Dutra se elegeu prefeito, em 1988, o PT tinha a ambição de governar a Capital por pelo menos duas décadas, plano expresso à época por vários de seus expoentes. Os três primeiros mandatos foram incontestáveis, o quarto não mais. Já se vão quase 11 anos desde que o partido deixou a prefeitura e, até hoje, enfrenta uma rejeição forte. Faltou visão de que um dia esse modelo se esgotaria e que seria necessário se reciclar para, quem sabe mais adiante, retornar.

Também faltou a Lula e ao PT a visão de que era hora de deixar o Palácio do Planalto. Não que o partido fosse abdicar da disputa eleitoral de 2014, mas a guerra suja, os gastos exorbitantes, as pedaladas feitas no orçamento federal e o baixo nível dos debates mostram que o PT não estava preparado para perder e entregar tudo ao inimigo.

O partido menosprezou a autonomia das instituições ao achar que poderia continuar governando com a mesma irresponsabilidade administrativa e com as mesmas estruturas corroídas pela corrupção sem que um dia isso viesse à tona.

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