domingo, 11 de outubro de 2015

Game over

Anotem, na última quarta-feira, entre o fim da tarde e o início da noite, o Tribunal de Contas da União, fundado em 1890 e também conhecido como TCU, pela segunda vez na história recomendou ao Congresso Nacional que fossem rejeitadas as contas de um Presidente da República. A partir daquele instante, Getulio Vargas, cujo balanço recebeu a mesma avaliação em 1937, já não estava sozinho, passava a ter a companhia de Dilma Rousseff.

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, alegou que as pedaladas não foram irregulares e até usou o Bolsa Família para justificá-las, mas driblar tantos zeros não era tarefa fácil e foi impossível evitar o capote. Bufão, ainda conseguiu causar espécie quando falou sobre impeachment em tom pretensamente ameaçador, como se o Tribunal não devesse satisfação à democracia, ao fazer valer a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas sim ao petismo.

Lamentei somente o horário, muitos de nós ainda estavam trabalhando, espremidos em vagões de trem, no metrô, ou quem sabe, aproveitando o trânsito caótico para imaginar uma maneira de sair do buraco. Assim, não puderam testemunhar um momento crucial em suas próprias vidas, que certamente será revisitado nas escolas pelas próximas gerações de brasileiros.

Impeachment  (Foto: Arquivo Google)

Se seria exagero rotular a sova aplicada pelo TCU a este governo corrupto como histórica? Não, muito pelo contrário, e de tão espetacular, conseguiu pacificar três questões de uma só vez.

Primeiro, fez o favor de calar o terrorismo boboca que pintava um Brasil em vias de se tornar a próxima Venezuela. Tal retórica, confesso, não me incomodava apenas pelo erro de avaliação em si, mas principalmente pela pachorra de alguns em ofender a inteligência alheia na hora de arregimentar adeptos.

Depois, por meio do seu veredicto, tirou de Lula a possibilidade de utilizar um processo de impedimento mal ajambrado a seu favor. Aliás, agora, com a carta do golpismo indisponível, arrisco-me a dizer que o fim de sua carreira política, pelo menos no papel de candidato, ficou realmente próximo. Ou mancharia a própria biografia com uma provável derrota acachapante nas urnas?

Mas o principal dividendo, claro, foi garantir que nenhuma mesa de bar livre de fanáticos, em todo o País, seja capaz de tolerar a manipulação de centenas de bilhões para patrocinar a mentira e a perpetuação no poder.

E não apenas decretou o fim de uma conversa deseducadora, que levava o cidadão a achar natural pedir a saída de alguém eleito baseado apenas na própria insatisfação, mas diga-se, fez exatamente o oposto, ao escancarar fatos capazes de convencer a opinião pública e, sabe-se lá, possivelmente até de constranger o esquerdista moderado.

Verdade seja dita, Dilma nunca foi genuinamente popular. A atual presidente do Brasil, isto sim, assassina contumaz da Língua Portuguesa, incapaz de ler um texto corrido que seja, de semblante pesado, e cuja suposta competência gerencial não passou de mais uma guirlanda eleitoreira, até hoje só mostrou aptidão para desempenhar o papel de títere. Com arroubos de manda-chuva, mas sempre um títere.

Legitimidade, entretanto não é coisa à toa, e defender determinados posicionamentos, principalmente na linha do “por um bem maior”, às vezes apenas nos aproximam de quem justamente queremos afastar.

Celebremos, pois àqueles que agora reclamam de intolerância e pedem respeito à democracia, mesmo tendo insistido no afastamento de todos os presidentes democraticamente eleitos até hoje, nem mesmo restará a contradição.

Enfim, pedir o impeachment de Dilma Rousseff já não é mais um direito, passou a ser um dever.

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