domingo, 27 de setembro de 2015

Insustentável

Duas semanas depois do anúncio de cortes de cargos e de ministérios para tentar sinalizar que o governo estaria levando a crise do país a sério, a presidente Dilma Rousseff, como de costume, zanzou para lá e para cá e nada avançou. Ao contrário. Só os impostos avançaram.

Rebatizada de CPPrev, a CPMF chegou ao Congresso em edição extra do Diário Oficial acompanhada por uma Medida Provisória que aumenta o Imposto de Renda sobre ganhos de capital. Para dizer que algum corte houve, formalizou-se a polêmica proposta do fim do adicional para servidores aposentados que trabalham - uma economia de mentirinha - e dos pagamentos acima do teto. Essa última, uma determinação constitucional que deveria ser regra desde sempre.

Quanto aos cargos, nada. A promessa era cortar irrisórios mil dos mais de 100 mil comissionados, sete mil deles pendurados na Presidência da República. Mas nem isso.

A União mantém hoje nada menos do que indecentes 22.619 cargos de livre nomeação, com salários que chegam a R$ 18 mil. Segundo o Contas Abertas, os cargos de confiança representam 86,1% do efetivo do Ministério do Esporte, 85,6% do da Pesca e 74% do de Desenvolvimento Social, e de 53% nos ministérios das Cidades e do Turismo.

Sem meias palavras, institucionalizou-se o compadrio.

A tal reforma ministerial, que já era tímida, deverá ser menor ainda. E dificilmente se poupará um único centavo. Muito menos servirá à eficiência da administração.

Só está sendo feita para preservar o mandato da presidente. Algo que pouquíssima gente quer, nem mesmo aqueles que devem alguma fidelidade a ela, por compromisso ou simples resposta ao toma lá.

Dilma passou a semana oferecendo mundos e fundos de um governo que não tem nem uma coisa nem outra. Até colheu algum êxito junto ao sempre negociável PMDB. Quando imaginou ter resolvido a pendenga, encalacrou-se. Desagradou peemedebistas poderosos e petistas estrelados.

O PT, que perdeu nacos grandes de seu capital para a corrupção - Mensalão e investigações da Lava-Jato -, já não consegue disfarçar a angústia. Parte expressiva do partido não tem mais disposição para defender Dilma. Oscila entre o melhor momento e a melhor forma de ela sair. Se agora ou daqui a pouco, por impedimento ou renúncia.

O PMDB, o mesmo que acaba de negociar a ocupação de seis ministérios, se apresenta ao público em programa eleitoral em franca oposição a Dilma. O partido se posicionou contra o aumento de impostos e pisou forte no calo mais dolorido da presidente – a mentira -, defendendo a “prestação de contas com a verdade”.

Temer abriu e encerrou o programa como presidente. E sem panelaço.

Em Nova York, Dilma apresentará ao mundo os planos e compromissos do Brasil quanto às questões climáticas e o desenvolvimento sustentável. Garantiu que serão arrojados. Por aqui, ela só tem conseguido andar para trás. Além de competência, falta-lhe clima e sustentação para o exercício do cargo.

Mary Zaidan

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