terça-feira, 21 de abril de 2015

Escolha inadiável

É um compreensível desdobramento de nosso processo de redemocratização a expansão de gastos públicos com transferências de renda e programas de assistência social.

A democratização dos orçamentos públicos e a maior preocupação com o capital humano brasileiro nas dimensões de saúde, educação e moradia resgataram uma “dívida social” deixada pela obsessiva acumulação de infraestrutura física sob o regime militar.

Mas, por ignorância econômica, preconceito ideológico e oportunismo político, tucanos e petistas mantiveram as engrenagens do Antigo Regime, recebendo em troca o apoio das criaturas do pântano – malfeitores políticos, funcionários corruptos e grupos de interesse corruptores.

A ininterrupta expansão dos gastos públicos, a hipertrofia do governo federal, a aprovação da emenda constitucional pela reeleição e o aparelhamento da máquina do Estado são marcos em uma escalada de desvirtuamento de nossas práticas políticas.

A inflação crônica, os impostos excessivos, os juros astronômicos, a corrupção sistêmica, o baixo crescimento e a desmoralização da política são sintomas do esgotamento da agenda social-democrata e de sua obsolescência ante as necessárias reformas.

O desempenho econômico medíocre e a desmoralização da classe política indicam uma inacabada transição do Antigo Regime para a Grande Sociedade Aberta. Mas oestablishment parece mais comprometido com a própria defesa de seu insustentável modus operandi do que com a promoção das reformas.

A expansão da fatia do produto interno bruto ao alcance da classe política ao longo de décadas tem recompensado uma sinistra associação entre a banda podre do Estado, os piratas privados e as criaturas do pântano político.

É fundamental erradicar “bem-sucedidos” malfeitos, práticas eficazes para a conquista do poder pelos grupos que as adotam, sendo por isso “aperfeiçoadas”.

Os princípios éticos de uma democracia representativa distinguem-se radicalmente dessas práticas transgressoras dos pequenos bandos.

A classe política tem uma inadiável escolha: ou o corporativismo, a cumplicidade, a ocultação de malfeitos e o silêncio solidário como seu temerário código de atuação, ou a transparência e a responsabilidade no trato da coisa pública como exigidas numa Grande Sociedade Aberta.

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