domingo, 27 de outubro de 2019

Politização do desastre: Governadores do NE x Bolsonaro em novo round

Não cessa com o passar dos dias o pavoroso e estranho desastre que suja de óleo cru, quase piche – os corais raros, pródigos manguezais, fauna e flora marinha e areias das praias, em mais de 200 localidades, recantos turísticos preciosos do Atlântico Sul, em todos os nove estados da região Nordeste do país. Ao contrario, o problema ganha corpo, o mistério se expande e começa exibir outra triste face: a politização do fenômeno de tons inéditos, que cresce e faz mais ruídos. Sem que se saiba de onde vem e quem causou este crime, que alcança também a gente que vive à beira do oceano e seus recôncavos.


Além de duro golpe ambiental, social e econômico – o turismo é uma das forças motrizes do trabalho e da circulação de riquezas na região ­- do ponto de vista político, é o que se pode chamar de o terceiro round da briga ideológica dos governadores “de esquerda”, donos do poder nos 9 estados nordestinos, contra o governo “de direita” da União, comandado pelo presidente Jaír Bolsonaro. Briga que degenera em arruaças de parte a parte, até em atos vis, tipo a sujeira largada em frente ao Palácio do Planalto, por ativistas da ONG Greenpeace, que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, denomina de “ecoterroristas”. O presidente da República acompanha tudo da Ásia.

O vice, general Hamilton Mourão, , no exercício da presidência, tenta abafar o conflito. Até determinou a entrada em operação de 5 mil homens, integrantes de tropas fardadas, baseadas na região militar de Pernambuco, para ajudar no trabalho insano e diário, de voluntários e equipes especializadas de órgãos governamentais, para conter o avanço das placas de óleo, que esta semana alcançaram Morro de São Paulo, importante destino turístico da Bahia, receptor de milhares de visitantes nacionais e estrangeiros todos os anos.

O choque entre o presidente Bolsonaro e ocupantes do poder no NE vem de longe. Desde suas primeiras escaramuças com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B). Mas o primeiro round de arrepiar se deu contra Rui Costa, petista baiano, na inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, que levantou faíscas no ar. O segundo embate foi também na Bahia. Enquanto o presidente participava da entrega, no Vale do São Francisco, de moderna experiência de geração de energia eólica, sobre plataformas flutuantes instaladas no Lago de Sobradinho, os governadores optaram por não ir ao ato. Se reuniram em Salvador, para a formar o chamado Pacto do Nordeste, espécie de declaração de guerra ao Governo federal. O encontro reuniu os nove governadores da região: à frente o anfitrião Rui Costa (PT) e o comunista Flávio Dino, do Maranhão.

Trava-se agora, à margem do piche no mar e nas praias, o terceiro momento desta luta política e ideológica. Envolve desta vez, mais diretamente, o governador Paulo Câmara, de Pernambuco, chamado de “espertalhão” por Bolsonaro, no auge do desastre ambiental sem precedentes na costa nordestina. Em dura carta aberta, os donos do poder do Pacto do Nordeste saíram em defesa do pernambucano, em novo ataque ao governo federal. Enquanto isso, ativistas da causa ambiental convocam comício para este fim de semana no Farol da Barra, praia emblemática no coração da Baia de Todos os Santos, atingido pelo óleo cru. Como dizia o personagem de Jô Soares em antiga chanchada do cinema nacional: “Vai dar bode!”. A conferir.
Vitor Hugo Soares

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