Criança argentina recolhe copos no lixão |
O relatório aponta um aumento da insegurança alimentar nos últimos doze meses: em 2018, os lares onde vivem 29,1% dos menores na Argentina passaram a ter menos alimentos disponíveis por causa de problemas econômicos. E 13% dessas crianças e adolescentes enfrentaram insegurança alimentar severa, ou seja, passaram fome. A falta de recursos para comprar comida fez disparar a procura por refeitórios populares, inclusive entre famílias que não tinham necessitado essa ajuda na última década.
Os investigadores reconhecem o contribuição dos subsídios sociais, em especial a renda universal por filho, como um atenuante importante frente às privações mais urgentes da população vulnerável. Ainda assim, são insuficientes. Desde que o Barômetro da Dívida Social da Infância começou a ser elaborado, em 2010, a pobreza infantil nunca esteve abaixo de 40%, o que revela um grande núcleo estrutural que nenhum governo soube enfrentar.
Entre 2007 e 2015, o Observatório se transformou na fonte mais confiável de medição de pobreza devido à manipulação e eliminação dos dados oficiais pelo kirchnerismo. Macri restituiu as estatísticas, que registraram 46,5% de pobreza infantil em 2018, mas contemplam só crianças de até 14 anos, enquanto a UCA estende sua abrangência até os 17, razão pela qual não são comparáveis.
No relatório recém-apresentado, leva-se em conta também a pobreza multidimensional, refletida na privação de direitos básicos como alimentação, saúde, habitação, educação, socialização e informação. Quatro em cada 10 menores na Argentina residem em moradias com saneamento deficiente, e dois em cada dez dormem numa cama ou colchão compartilhados. Um em cada cinco não foi ao médico em 2018, e dois em cada cinco não foram ao dentista. Não há livros infanto-juvenis na casa de 41% desse universo, e 21% não têm festa de aniversário.
Outro dado preocupante é o crescimento do trabalho infantil. Entre 2017 e 2018 subiu de 12% para 15,5% o percentual de menores de 5 a 17 anos que trabalham. Segundo Tuñón, a crise alterou o padrão dos últimos anos, com um retrocesso do trabalho infantil nas classes baixas e um aumento nas médias: "Quando os adultos não têm trabalho, as crianças também não têm. Diante da falta de trabalho informal e bicos, nos setores mais pobres o trabalho infantil baixou. A classe média, por outro lado, sai a defender seus recursos com sua própria fonte, ou seja, sua família, em lugar de contratar empregados", disse a pesquisadora a jornalistas.
A continuidade da crise neste 2019 desenha um horizonte sombrio. Macri há bastante tempo substituiu a ambiciosa meta de erradicação da pobreza pela de simples redução. Mas nem isto parece ser possível.
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