Mais ainda, sugere que a esquerda pode chegar ao ponto de sequestrar aeronaves, e autoridades, como nos anos 60, para culminar na sua brilhante ideia de que isso vai suscitar um AI-5. “Alguma resposta vai ter de ser dada”. Deputado, filho do presidente da República, entrelinhas, revela que precisaria recorrer a um ato autoritário porque seu pai não teria competência para lidar com uma possível insatisfação social.
Na entrevista, Eduardo, se mostra chocado porque seu pai é cobrado pelo que qualquer presidente da República seria: os problemas urgentes para a sociedade, como os incêndios que tomaram a Amazônia ou o derramamento de óleo nas praias do Nordeste. O mundo para ele, porém, vive nas enquetes de redes sociais, que oferecem a profundidade de um espelho d’água. Sua cegueira e deslumbramento com o cargo de filho de um presidente não o fazem admitir o gene da auto-sabotagem que herdou do seu pai. Ambos já implodiram boa parte do capital político que lhes foi favorável nas eleições de 2018.
O jornalista José Roberto de Toledo, da revista Piauí, publicou uma análise, a partir de dados de uma pesquisa do instituto Ibope, que mostra um eleitorado arredio ao PSL, maior que ao PT. A rejeição é de 50% ao partido que acolhe hoje o presidente Bolsonaro contra 43% da legenda de Lula. Ainda que tente se descolar do partido depois das desavenças com o presidente Luciano Bivar, Bolsonaro não pode negar seu poder de Midas ao revés. Queima pontes e aliados com a mesma velocidade que subiu na preferência do eleitorado, quando surfava no antipetismo. “A impressão é que fazer aliança com Bolsonaro, em regra, é um mau negócio”, analisa Toledo.
O deputado Eduardo parece seguir a mesma linha. Acredita que melhor é investir na gestão do medo para conquistar e manter a confiança de um eleitorado, sem entender que é exatamente ao contrário. Parece que não entendeu que os heróis da Internet nascem com a mesma velocidade que morrem porque, apesar de expressarem uma imagem holográfica portentosa, são confrontados com os desafios da realidade. E as pessoas buscam pessoas humanas, que tenham empatia com suas dores e ansiedades. A frase do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi direto ao ponto. “Manifestações como a do senhor Eduardo Bolsonaro são repugnantes, do ponto de vista democrático, e têm de ser repelidas como toda a indignação possível pelas instituições brasileiras”. Maia, filho de um exilado político, torturado durante a ditadura que a família Bolsonaro exalta.
É repulsivo ouvir de um deputado que comanda a Comissão de Relações Exteriores tamanho disparate sobre as manifestações do Chile, querendo tergiversar o que está colocando o presidente Sebastián Piñera contra as cordas. Reduz os problemas do país a blackblocs supostamente financiados pela esquerda, fingindo que o modelo econômico do Chile – tomado como exemplo por ele em mais de uma ocasião – não colapsou. É chamar dois terços dos chilenos de ignorantes manipuláveis.
A fala do deputado vem, ainda, num momento emblemático. Justamente na semana em que se descobre que sua família já estava a par de que o nome do presidente seria envolvido, ainda que indiretamente, na investigação sobre a execução de Marielle Franco. Seja por má fé de seus adversários ou dos que conduzem a investigação, a família Bolsonaro sabia que uma bomba estava prestes a estourar sobre ele. E a reação às pressões do cargo é a de incendiar a própria democracia. Próprio dos pobres de espírito, dos covardes que se justificam com frases como “fui mal interpretado”, ou dos que compensam sua inconsistência com arroubos autoritários. Eduardo Bolsonaro deveria encarar este como um dos pontos mais baixos do seu mandato. Mas é impossível esperar o amadurecimento de quem se alimenta de memórias brutais que envergonham o Brasil. Ao contrário, flerta com a reedição de tempos de barbárie, para se sentir relevante. Nada mais revelador.
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