O líder político mais poderoso do Brasil do século XXI, capaz de ganhar quatro eleições presidenciais em seguida e de se dar muitíssimo bem em praticamente tudo o que quis nos últimos anos, entrou de uma vez por todas num mato fechado. Vai sair, como sempre conseguiu até hoje? Há muito tempo o ex-presidente Lula acostumou-se a saborear o que já foi definido como uma das melhores sensações que um ser humano pode ter: a de atirarem nele e errarem o alvo. Com base no retrospecto, ele espera que sua vida continue assim — mas vivemos um momento em que estão acontecendo coisas que nunca aconteceram antes, e em que se confirma a velha máxima segundo a qual algo só é impossível até tornar-se possível.

O ex-presidente está lidando com a carga de TNT espalhada à sua volta com o mesmo sistema que utilizou em todas as suas desventuras anteriores: como ficou claro no jato de declarações que decidiu fazer nos últimos dias, ele se defende negando, simplesmente, a realidade que está na cara de todo mundo. O que vai contra os seus interesses não existe, por maiores que sejam as provas em contrário; continua convencido de que o brasileiro gosta muito mais das coisas que ele diz do que das coisas como elas realmente são. Lula, que imagina ser o líder popular ótimo e máximo, como o deus Júpiter, não pode pôr o pé na rua, com medo de ser vaiado pelo povo de seu país. Não pode dar uma entrevista livre à imprensa, com medo das perguntas que vão lhe fazer. Está mais do que provado que em seu governo, e no governo da sua sucessora, a população foi roubada pela maior onda de corrupção dos 500 anos de história do Brasil.
O tesoureiro do seu partido está num xadrez em Curitiba. Tem a companhia, ali, de empreiteiros de obras que há anos presenteiam o ex-presidente com viagens em jatinhos particulares, utilizaram seus serviços como promotor de vendas, pagaram-lhe milhões de reais em troca de palestras e mantêm com ele uma intimidade tão completa a ponto de lhe darem o amável apelido de “Brahma”. Lula é responsável direto pela invenção de Dilma Rousseff, que está a caminho de tornar-se a pior presidente que este país já teve. Advoga, em público, a favor de diversos dos mais sinistros ditadores do planeta — e por aí segue a procissão. Mas ele parte para sua defesa, mais uma vez, agindo como se tudo isso estivesse acontecendo em alguma galáxia perdida no fundo do universo. Ou, se está acontecendo aqui, o único que não tem nada a ver com a história é ele mesmo.
De quem seria a culpa, nesse caso? Eis uma questão em que o ex-presidente não se aperta; ele é um grande especialista em fuzilar feridos para salvar a si mesmo. Na sua atual ofensiva, e logo de cara, não teve o menor problema em sair acusando o governo Dilma, na esperança de misturar-se aos 65% de brasileiros que acham ruim ou péssimo o desempenho de sua criatura. A presidente, descobriu Lula, está no “volume morto” — como se ele não tivesse responsabilidade nenhuma por nada do que está dando errado. O PT, que vai tão mal quanto Dilma, foi denunciado por “pensar só em cargos” e os petistas por não fazerem “nada de graça” — como se ele não cobrasse pelos serviços que presta aos empreiteiros. Culpou o ódio cada vez maior que existe contra o partido — como se ele não fosse o produtor número 1 do rancor na política brasileira. Acusou o governo Dilma de não fazer nada, com seu “legalismo”, para combater a ação da Justiça nas investigações de corrupção — e o que queria que fosse feito? Não existe a menor ligação disso tudo com a verdade dos fatos, é óbvio. Fica apenas uma soberba sem limites, hoje transformada num vício do qual Lula parece incapaz de se livrar.
Lula precisa fazer mais do que repetir a mesma missa. O fogo de Curitiba, com o correr do tempo e a coleta de provas, deveria estar cada vez mais longe dele. Está cada vez mais próximo.
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