domingo, 5 de julho de 2015

Era doce e se acabou


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já não é mais o mesmo. Pouco parece ter sobrado do hábil hipnotizador de plateias. Na sexta-feira, durante a 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros, nem o macacão laranja - figurino que já usara em 2006 para anunciar, de mãos sujas de óleo, a autossuficiência de petróleo que nunca veio - conseguiu salvá-lo.

Reuniu pouco mais de uma centena para ouvi-lo mandar a sua pupila Dilma Rousseff ir para as ruas, enquanto ele só tem falado sob a proteção de quatro paredes. E entre amigos. Desta vez, no auditório da Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, em Guararema (SP).

Como de costume, o objetivo era colocar-se como vítima e defensor exclusivo da Petrobras, da qual o seu governo e o de sua afilhada fizeram gato e sapato. “Se quiserem um brasileiro que tem orgulho da Petrobras, eu estou aqui.”

Se caráter tivesse, se diria envergonhado. Pediria desculpas.

Empresa que já ocupou o oitavo lugar entre as maiores do mundo, a Petrobras viu seu valor e sua credibilidade despencarem nos quatro últimos anos. No ranking da revista Forbes divulgado em maio, caiu da 30ª para a 416ª posição. Postergado por meses, o balanço auditado da companhia apresentou prejuízo de quase R$ 22 bilhões em 2014, o maior de uma empresa brasileira de capital aberto desde 1986. E, confessamente, escrito lá no balanço, mais de R$ 6 bilhões foram perdidos para a ladroagem, cifra que a Polícia Federal considera timidíssima. A PF calcula, por baixo, que a corrupção comeu R$ 19 bilhões da estatal. Um rapa sem igual.

Não foram poucas as histórias da carochinha contadas pelo ex-líder das ruas.

Falou do mau humor que domina o noticiário, protestou quanto ao tratamento que recebe e, sem indicar os protagonistas, reclamou do que diz ser vazamento seletivo da Lava-Jato, rebatendo na tecla de que querem acabar com o PT.

Perdoou a Dilma que ele disse ter mentido ao Brasil durante a campanha eleitoral, rogando a Deus para que ela não perca a tranquilidade.


Insistiu na ladainha de que o cenário internacional é responsável pela crise brasileira e escancarou um pecado desconhecido por seus torcedores: a fórmula utilitária com que sempre tratou a massa que até há pouco tempo ele inebriava. “Nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele”, ensinou. Uma lógica que não deixa dúvidas quanto aos momentos em que para ele o povo importa.

Lula é guloso. Saboreia o poder com prazer infinito. Lambuzou-se o quanto pode. Mas é também um sobrevivente. Sempre soube se reinventar.

Como presidente da República, pediu perdão aos brasileiros pelo mensalão. Ao deixar o cargo, negou a existência do que até a Lava-Jato era tido como o maior escândalo do país, afirmando que até o resto de seus dias brigaria para provar que tudo não passara de armação. Impingiu a neófita Dilma e foi vitorioso. Fala mal dela, puxa-lhe o tapete para afagá-la no dia seguinte.

Joga todos - o PT, Dilma e ele próprio - nas profundezas do volume morto, para tentar sair de mãos limpas.

Tenta imaginar-se como uma fênix, capaz de renascer das cinzas. Mas até Lula parece saber: seu encanto se quebrou.

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