Hoje, na era das redes sociais e da radicalização política que põe em risco a democracia por toda parte, algo que aparenta ser verdade é muito mais importante que a própria verdade, e cada um escolhe no que quer acreditar.
Durante a pandemia da Covid-19, mais preocupado em evitar o debacle da economia do que em salvar vidas, o então presidente Jair Bolsonaro sabotou todas as medidas de isolamento social universalmente adotadas e atrasou a vacinação.
Que morressem, segundo disse Bolsonaro, os que tivessem de morrer, afinal ele não era coveiro. E receitou para os interessados em escapar do vírus drogas que no mundo inteiro eram consideradas ineficazes pelos cientistas para combater o mal.
Entre as drogas estavam a cloroquina e a hidroxicloroquina. Os dois medicamentos foram desenvolvidos para o tratamento e prevenção da malária. A diferença entre eles está na química orgânica, sendo a cloroquina o medicamento mais antigo.
Em maio de 2021, ele ainda mantinha a defesa da cloroquina e da hidroxicloroquina para o que chamava de “tratamento precoce” do vírus. Não havia tratamento precoce possível. Mesmo assim, Bolsonaro insistiu em dizer durante uma live na internet:
– Aquele negócio que o pessoal usa para combater a malária, eu usei e no dia seguinte estava bom. Há poucos dias, estava me sentindo mal e, antes de procurar o médico, tomei aquele remédio, fiz exame, e não estava (doente). Mas, por precaução, tomei.
Na terça-feira, o amplamente contestado estudo que popularizou a ideia de uso da hidroxicloroquina contra a Covid foi “despublicado” pela editora Elsevier a pedido de três dos seus autores: Johan Courjon, Valérie Giordanengo, e Stéphane Honoré.
Eles alegam falhas sobre a metodologia, conclusões da pesquisa e apresentação de interpretação de seus resultados. Em seu favor, Bolsonaro não poderá dizer que se baseou no estudo e que, portanto, foi enganado.
Simplesmente porque a maioria dos governantes da época não se deixaram enganar. Bolsonaro acreditou no que quis acreditar porque lhe pareceu conveniente e estava mais de acordo com seus propósitos de salvar a economia mesmo às custas de mortes.
Dados da Organização Mundial da Saúde, em fevereiro de 2022, revelaram que o Brasil era o terceiro país com o maior número de mortes pela Covid-19, só abaixo dos Estados Unidos e da Índia, países mais populosos.
Em março do ano passado, aqui, o número de óbitos pelo vírus ultrapassou a marca dos 700 mil.
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