Todos os anos, esta data é assinalada num dia diferente e cada vez mais cedo no calendário – um cálculo da Global Footprint Network, organização internacional de sustentabilidade, pioneira na pesquisa e medição da pegada ecológica.
Se todos os resíduos eletrónicos fossem reciclados ou reutilizados seria possível atrasar a efeméride em aproximadamente quatro dias.
Na verdade, não é apenas com as entidades bancárias que as pessoas contraem dívidas. Neste momento, os mais de 8,2 mil milhões de habitantes do planeta Terra estão a viver a crédito dos recursos naturais, ou seja, consome-se mais do que a capacidade do planeta para regenerar esses recursos.
Ainda não reduzimos o consumo o suficiente, nem reciclamos, reutilizamos e recondicionamos que chegue para equilibrar a balança natural e ambiental.
“As consequências dos gastos ecológicos excessivos são evidentes na desflorestação, na erosão do solo, na perda de biodiversidade e na acumulação de dióxido de carbono na atmosfera, o que leva a fenómenos meteorológicos extremos [secas, inundações e incêndios florestais] mais frequentes e à redução da produção de alimentos”, lê-se no site da Global Footprint Network. E ainda, segundo a Associação Zero, o colapso dos stocks de peixes, a escassez e a poluição da água.
A empresa independente com sede nos EUA, Bélgica e Suíça aconselha a população mundial a progredir através do foco para ter sucesso e acabar com o excesso intencional.
“Em 1968, Dick Fosbury revolucionou o salto em altura nas Olimpíadas do México, numa época em que a humanidade usava apenas 0,9 Terras. Em 1988, quando o velejador olímpico Lawrence Lemieux parou no meio da corrida para resgatar dois competidores que se viraram, a procura da humanidade pela natureza cresceu para 1,3 Terras. Em 2008, quando Usain Bolt bateu os seus primeiros recordes olímpicos, o número cresceu para 1,6 Terras. Poderemos invocar a mesma determinação para reverter o nosso excesso ecológico?”, questiona a Global Footprint Network.
Mas existem soluções práticas para amortizar o crédito e sermos menos devedores? Sim. Vamos a alguns exemplos: reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos combustíveis fósseis em 50% significaria um recuo de três meses no Dia da Sobrecarga da Terra.
Segundo as Nações Unidas, a produção mundial de resíduos eletrónicos atingiu 62 milhões de toneladas em 2022, o suficiente para encher 24 800 piscinas olímpicas, mais 82% do que em 2010. Destas, 4,6 milhões de toneladas de resíduos eletrónicos provêm da categoria de pequenos equipamentos tecnológicos e de telecomunicações, como computadores portáteis ou telemóveis e apenas 22,3% foram reciclados de forma adequada.
Um estudo da refurbed, mercado online de produtos recondicionados, fundada em 2017, em Viena, na Áustria, contabilizou que em média, cada pessoa, guarda 2,72 smartphones sem uso. O recondicionamento desses e outros aparelhos eletrónicos, em comparação com os novos, pouparia em média 83% de CO2, 89% de água e 77% de resíduos.
Com os computadores recondicionados a poupança pode chegar a 872,9 kg de CO2 por unidade.
Se cinco em cada dez smartphones vendidos em Portugal fossem recondicionados poupar-se-ia o equivalente a um dia de emissões de CO2 no País, de acordo com dados da refurbed e da Fraunhofer.
Portugal esgotou os seus recursos a 28 de maio (o ano passado aconteceu 21 dias antes), enquanto a totalidade da União Europeia (UE), com 27 Estados-Membros, já tinha consumido o plafond a 3 de maio. “Apesar de a UE representar apenas 7% da população mundial, seriam necessários três planetas Terra para satisfazer a procura se toda a gente na Terra vivesse como os europeus”, alerta a Associação Zero.
“A Europa está a caminhar para sofrer aumentos de temperatura duas vezes superiores aos de outros continentes devido às alterações climáticas. E os riscos ligados à exploração dos recursos, como a violência, a pobreza e a má governação, põem em risco a paz e a segurança mundiais”, sublinha a organização não governamental.
É preciso recuar mais de 50 anos, até 1973, para encontrar um Dia da Sobrecarga da Terra atingido só no final do ano (3 de dezembro).
Se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa portuguesa, a humanidade precisaria de 2,9 planetas para sustentar a sua utilização de recursos. O consumo de alimentos (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) estão, assinala a Zero, entre as atividades que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal.
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