Obviamente, esse sistema se choca com as definições ocidentais de democracia. Diferentemente da primazia do individual e sua maioria, a China adota um sistema coerente com sua cultura de coletivismo e meritocracia. De fato, a China não cabe nos nossos dicionários. Tampouco sua economia cabe na da caixinha do verbete capitalismo, ainda menos no conceito de comunista. A China está inventando um novo modo de combinar economia e sociedade.
Isso é possível pela valorização do mérito de cada pessoa para conquistar fortuna ou prestígio, ao adquirir patrimônio ou instrumento de construção social. Reforçada a partir de 1978, essa visão tem mais de 2.000 anos, desde que Confúcio consolidou a ideologia do coletivo, do mérito e da valorização suprema da educação.
O radical compromisso com o avanço técnico faz parte da alma chinesa, como também o cuidado para proteger os que não conseguem se adaptar ao avanço. A China é capaz de reunir a ansiedade pelo progresso com o atavismo pela tradição.
Ao fundir 70 anos de revolução comunista e 40 de revolução capitalista, a China ensina que os dicionários de ideias antigas não servem para definir o que acontece por lá. Para eles, o bem público não é sinônimo de grátis, porque eles consideram que alguém paga pelo que alguns recebem de graça. Por isso, a escola cobra uma pequena mensalidade.
O modo chinês não pode nem deve ser copiado na cultura individualista e imediatista do Ocidente, mas, se queremos avançar, é preciso copiar dos chineses sua liberdade na formulação de conceitos: perceber que as explicações da realidade presente e os sonhos utópicos não cabem nos dicionários do passado.
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