Foi assim que começamos engolindo a ideia de que ignorância não era condição temporária a ser superada, mas sim, qualidade a ser cultivada. Permitimos que a preocupação com melhoria do padrão intelectual fosse confundida (propositalmente ou não) com elitismo, bacharelismo, coisa a ser evitada.
Ficou impune, e frequentemente aplaudida, a ojeriza à leitura. Ler virou coisa a ser evitada a qualquer custo. Quem lê virou adversário ideológico, ou objeto de chacota. Estudar e aprender, uma desnecessidade. Caminhamos na direção errada. Sem resistir. Sem debater. Sem desconfiar. Passivos, como quem não se importa.
Primeiro abdicamos da qualidade das ideias, do seu debate, da sua importância. Letras não mais iluminavam. Eram apenas figuras decorativas, passatempos indesejáveis. Coisa de gente desocupada.
O idioma torturado foi substituído por língua que lembra o português. Momentos de lucidez se tornaram raros, quase ameaçados de extinção. Governantes foram dispensados de fazer sentido.
Liderança exercitada por cérebros baldios somente poderia dar em desatino desnecessário. E deu no que deu. Ideias sem nexo resultaram em ações sem sentido. Fonte de material para comediantes. E de constrangimento para os cidadãos.
Se voltar no tempo fosse permitido, talvez tudo pudesse ser evitado. Mas o tempo é vingativo. Não volta. A todos pune com a violação de ouvidos, corações e mentes em cascatas intermináveis de pensamentos confusos, empacotado em palavras sem nexo, formando sentenças indecifráveis, cometidas por gente desprovida de ideias.
Cruelmente, o tempo condena os cidadãos a saudar a mandioca. Por muito tempo, aparentemente.
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