sexta-feira, 4 de abril de 2025

Musk, meu bilionário favorito

"Loser. Loser. Loser". Essa é a pior ofensa para um empresário como Elon Musk, que Trump transformou no gênio da “eficiência da América Grande”. O homem mais rico do planeta está prestando enorme serviço ao mundo livre. Musk conseguiu, com a derrota fragorosa de seu candidato conservador para a Suprema Corte do estado de Wisconsin, provar que nem todo o dinheiro consegue comprar uma eleição.

Seria uma semana de holofotes apenas para Trump e seu tarifaço delirante. Mas Musk quis dar a seu patrão na Casa Branca uma vitória. A de um juiz patriota contra uma juíza “progressista de esquerda radical”, num estado decisivo. Musk gastou US$ 23 milhões (mais de R$ 130 milhões) nessa campanha de uma corte estadual. Deu, publicamente, cheque de US$ 1 milhão por um voto em seu juiz. Em jogo, entre outras coisas, estará o julgamento do direito ao aborto.

Perdeu, mané. E foi pelo voto de eleitores republicanos arrependidos. Desconfortáveis com os ataques trumpistas a todos os aspectos da vida real da classe média. E da lucidez. Não falo só de educação e universidades. Saúde. Emprego. Liberdade de expressão. Deportação ilegal. Agora, o fantasma da recessão e da inflação. Um isolacionismo típico de ditaduras, de esquerda e direita. O contrário da ideologia liberal que orgulha os americanos.

O bilionário de cabeceira de Trump vai rachar esse governo. Musk, como se sabe, vem de uma família tão racista que seus avós maternos se mudaram do Canadá para a África do Sul do apartheid. E lá o bebê Elon nasceu e cresceu, num ambiente de segregação máxima. Suas saudações nazistas e seu descontrole emocional incomodam. Seus discursos inflamados com boné ao lado do presidente também. Afinal, de louco basta um na Casa Branca.

O significado simbólico de Wisconsin é poderoso e me intrigou mais que o tarifaço. As taxas eram previstas. Essa derrota, não. Musk é desprovido de inteligência política. Usou seu X para chamar o voto em Wisconsin de “uma daquelas situações estranhas em que uma eleição aparentemente pequena pode determinar o destino da civilização ocidental”.

Quis comprar uma corte de juízes. Meteu o dedo na tomada. Seu chefe também.

Estimulado por Musk, Trump acusou a candidata da oposição de “libertar pedófilos e estupradores”. Pediu ao eleitor que evitasse um DESASTRE, com maiúsculas. Losers. Patéticos. A juíza democrata Susan Crawford ganhou. E as análises apontam como causa um sentimento forte do eleitorado: o ressentimento contra “um governo de bilionários”. Sem empatia pelos comuns.

Está viva a democracia americana. Prestem atenção. É só a primeira derrota depois das urnas do ano passado. Wisconsin se tornou a plataforma do descontentamento.

O mundo já enxerga a cruz na testa lisa de Musk, o dono da SpaceX e da Tesla que empunhou a motosserra de gastos públicos nos EUA. Um homem com fortuna declarada de quase R$ 2 trilhões. Dinheiro pode até trazer felicidade, mas não traz inteligência.

Eu torcia para Musk permanecer no governo, pois é tão sem noção que constrange até o próprio Trump. Em fevereiro, o bilionário escreveu em seu X: “Eu amo @realDonaldTrump tanto quanto um homem heterossexual pode amar outro homem”. Acho que esse amor começa a perder reciprocidade.

Musk está para ser defenestrado – e sabe disso, como admitiu em comício no Wisconsin: “Não vou a lugar nenhum. Talvez eu vá para Marte, mas ele fará parte dos Estados Unidos”.

Musk é o alter ego de Trump. Veremos como o mundo vai se livrar dessa dupla megalomaníaca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário