domingo, 26 de abril de 2020

Voltar ao normal? Só com estas inovações, diz Bill Gates

Todos se lembraram dele logo que a Organização Mundial de Saúde decretou esta pandemia de coronavírus. Bill Gates, cofundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo, tinha já falado de uma ameaça semelhança numa Ted Talk, em 2015. Nela fazia uma descrição detalhada do que poderia ser uma propagação rápida de uma infeção viral por todo o mundo. Num primeiro momento, Gates ainda lamentou não ter sido levado a sério e que ninguém se tenha efetivamente preparado para um caso destes. Daí que tenha voltado a avisar: “No futuro pode surgir uma epidemia pior do que esta.” Mas aí, confia, o mundo já estará mais prevenido – como quem diz, a humanidade vencerá da próxima vez, mas só quando a maioria da população for vacinada. E pôs logo a mão na massa, ao doar, através da fundação criada com a mulher Melinda, investindo milhões para ajudar ao seu desenvolvimento.

Agora, perante a esperança crescente de que, dentro de pouco tempo, a coisas voltarão a ser como antes, Gates replica: Infelizmente isso não vai acontecer.” Nas notas que divulga regularmente no seu blog, citado pelo The Washington Post, Gates começa por considerar perfeitamente compreensível que a conversa nacional (mundial…) esteja a condensar-se numa única pergunta: “Quando podemos voltar ao normal?”. Mas, sublinha, a paralisação causou uma dor incomensurável em empregos perdidos, pessoas isoladas e agravando a desigualdade. “As pessoas estão prontas para seguir em frente.”

Só que, segue o filantropo num registo muito próprio, por mais que tenhamos a vontade, não temos o caminho – ainda não. “Antes que os Estados Unidos e outros países possam voltar aos negócios e à vida como de costume, precisaremos de novas ferramentas inovadoras que nos ajudem a detectar, tratar e prevenir a Covid-19″, lê-se naquela publicação.

E Gates passa a explicar. “Começa com o teste. Não podemos derrotar um inimigo se não soubermos onde ele está. Para reabrir a economia, precisamos testar pessoas suficientes para detetar rapidamente pontos de acesso emergentes e intervir cedo. Não queremos esperar até que os hospitais comecem a encher e mais pessoas morram.”
O que nos pode dar a inovação

Mas há mais: “A inovação pode ajudar-nos também a melhorar os números. Os atuais testes de coronavírus exigem que os profissionais de saúde realizem zaragatoas nasais, o que significa que precisam trocar de equipamento de proteção antes de cada teste. Mas a nossa fundação apoiou também pesquisas a fundamentar que cada um possa fazer a sua autoanálise com cotonetes estéreis próprios para a coleta de exames microbiológicos. Trata-se de uma abordagem bem mais rápida e segura – pois é feita em casa e não exige que as pessoas corram riscos em contactos adicionais.”
Cada mês a mais que precisarmos para produzir uma vacina é mais um mês em que a economia não pode voltar completamente ao normal

Explica Gates que este teste de diagnóstico agora em desenvolvimento funcionaria como um teste de gravidez em casa. É só esfregar o nariz, mas, em vez de enviar o tal cotonete para um centro de análise, só tem de o colocar num líquido. Depois, despeja-se esse líquido numa tira de papel. Se esta mudar de cor é porque o vírus está presente. E, o melhor de tudo, um teste destes pode estar disponível em apenas alguns meses.

Não é, ainda assim, o único avanço necessário em termos de testes. Faltam ainda, segue Gates na sua análise, padrões consistentes sobre quem pode – e deve! – ser testado. “Se não testarmos as pessoas certas (trabalhadores de áreas essenciais, pessoas sintomáticas e outras que entraram em contato com alguém que deu positivo) estaremos a desperdiçar um recurso precioso”.

Há também uma outra área em que a inovação pode fazer a diferença. Diz o magnata que faz falta ainda um rastreio correto ao quem esteve em contacto com alguém infetado. Por enquanto, sublinha, bem podemos continuar a questionar todos os que testarem positivos e usar um banco de dados para acompanhamento. Mas, insiste, é uma abordagem longe de ser perfeita. “Ficamos dependentes de a pessoa infetada relatar os seus contactos com precisão e exige muitos funcionários para acompanhar aquela rede.” Neste caso, reforça Gates, seria muito melhor conseguir uma ampla e voluntária de ferramentas digitais – recorrendo a apps que nos ajudariam a recordar todos os locais onde estivemos e partilhar essa informação com quem estiver a acompanhar todos os nossos contactos.
Esta é, naturalmente, a questão maior. Quem tem um resultado positivo o que quer saber, na hora, são as opções de tratamento. E isso, sublinha Bill Gates, ainda não há. Para já, reconhece, e apesar das suspeitas, está a ser dada alguma atenção à hidroxicloroquina, que funciona alterando a maneira como o corpo humano reage a um vírus. “A nossa fundação está a financiar um ensaio clínico que indicará se funciona para a Covid-19, embora pareça já claro que os seus benefícios serão modestos, na melhor das hipóteses.”

Mas há vários candidatos mais promissores no horizonte, segue um Gates bem mais otimista. “Um envolve a coleta de sangue de pacientes que se recuperaram da Covid-19, dando o seu plasma (e os anticorpos que ele contém) a pessoas doentes. Várias grandes empresas estão trabalhando juntas para verificar se isso é bem-sucedido.”

O outro tipo de candidato a medicamento, lê-se na prosa do filantropo, envolve a identificação dos anticorpos que são mais eficazes contra o novo coronavírus e o seu fabrico em laboratório. “Mas ainda não está claro quantas doses podem ser produzidas; depende de quanto material de anticorpo é necessário por dose. Em 2021, os fabricantes tanto poderão ter de fazer 100 mil tratamentos como muitos milhões.”

Perspetivando o futuro, Gates salienta: “se daqui a um ano pudermos ir a grandes eventos públicos – como jogos ou espetáculos em estádios – é porque a ciência descobriu um tratamento eficaz que faça com que todos se sintam seguros para sair à rua novamente. “Infelizmente, para já é possível que se garanta um bom tratamento, mas não um que garanta que um doente recuperará sem reviravoltas”.

Daí que, continua na sua análise, o grande investimento deve ser feito no desenvolvimento de uma vacina. “Cada mês a mais que precisarmos para produzir uma vacina é mais um mês em que a economia não pode voltar completamente ao normal”, assinala. Daí que, revela, a abordagem que mais o está a entusiasmar é a conhecida como vacina de RNA – tal como a primeira que está a iniciar testes em humanos.

Ao contrário de uma normal vacina contra a gripe ( que contém fragmentos do vírus influenza para que o sistema imunitário possa aprender a atacá-lo), uma vacina de RNA fornece ao corpo o código genético necessário para produzir fragmentos virais por conta própria. Assim, explica, quando o sistema imunitário se depara com esses fragmentos aprende como atacá-los. Essencialmente, resume, uma vacina de RNA transforma o corpo numa unidade própria de fabrico de vacinas.

A rematar, Gates recorda ainda que há um outro acordo muito importante. “Mesmo antes de haver uma vacina segura e eficaz, os governos precisam saber como a distribuir”. Ou seja, os países que financiam, aqueles que acolhem os ensaios clínicos e os mais atingidos vão naturalmente argumentar que devem ter prioridade. “Idealmente, deveria haver um acordo global sobre quem deveria receber a vacina primeiro. Mas, considerando quantos interesses concorrentes, é improvável que isso aconteça. Quem resolver esse problema de forma equitativa terá feito um grande avanço.”

É por tudo isto que Bill Gates considera que esta pandemia – a primeira da modernidade – definirá a nossa era. É que, justifica, há uma grande diferença entre uma guerra mundial e uma pandemia: “toda a humanidade pode trabalhar em conjunto para aprender sobre a doença e desenvolver a capacidade de combatê-la. Com as ferramentas certas em mãos e a implementação inteligente, poderemos declarar o fim desta pandemia – e voltar nossa atenção para como prevenir e conter a próxima.”

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