domingo, 26 de abril de 2020

Moro sai: tudo pode piorar

“Nada é tão ruim que não possa piorar”. Estamos, irremediavelmente, diante da força e do impacto da verdade desta frase de sábio autor desconhecido: O País já tremera na base com o embate irracionalmente feroz que redundou na queda do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, abrindo espaço para Nelson Teich, novo chefe da pasta, e o general Eduardo Pazzuello, seu braço direito, como secretário executivo – com novas estratégias “para vencer a pandemia sem matar a economia”. Episódio grave e constrangedor, e de conseqüências imprevisíveis, é verdade. No entanto, nem de perto comparável à implosão demolidora dos alicerces de imagem e sustentação política e institucional do governo do presidente Jair Bolsonaro, causada pela fala recheada de revelações e denúncias do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, ao deixar a pasta.


Ainda resta muita poeira e fumaça no ar em razão da explosão de nitroglicerina pura nos pilares do governo bolsonarista. Mas dá para avaliar e reconhecer desde já, ao menos do ponto de vista jornalístico: O ex-ministro da Justiça e Segurança ao sair da gestão – onde sempre foi o mais bem avaliado integrante do primeiro escalão nas pesquisas de opinião pública – fez um dos pronunciamentos mais duros e reveladores dos intestinos da política e do poder na história moderna da Nação. Moro sai maior – bem maior do que entrou.E deixa menor, bem menor – quase em cacarecos – o governo onde passou menos de um ano e meio. Mais: O juiz condutor da L ava Jato deixa o governo acusando, pública e explicitamente, o mandatário do Palácio do Planalto de interferir politicamente no trabalho da Polícia Federal. O Procurador-Geral da República, Augusto Aras, ontem mesmo, anunciou que todas as denúncias de Moro em sua saída serão apuradas. A conferir.

Na espera dos próximos fatos, cabe pausa para contextualizar o tumulto de domingo, 19 de abril, comemorativo do Dia Nacional do Exército. Afinal, muito da implosão desta sexta-feira,24, para não esquecer, parece decorrer da ruidosa manifestação popular pedindo o relaxamento das normas de isolamento, no combate à pandemia, onde aconteceu de tudo, ou quase: do agressivo discurso do presidente, a gritos de “prisão” e “cadeia” para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Houve até pedidos de novo AI-5 e intervenção militar..

A reação foi imediata. Ruidosa também, cheia de contradições e jeitinhos: de Maia a Alcolumbre (Congresso), de Dias Toffoli a Gilmar Mendes (STF); dos intelectuais, celebridades “e suspeitos de praxe”, como no filme “Casablanca”.

Com panos quentes, no meio do fogo cruzado, apareceu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que alerta no Twitter: “Não é bom acirrar crises institucionais. Um pouco de contenção de lado a lado ajuda. Não creio em conspirações para tirar poder do Presidente. Ele e alguns militares podem crer. Melhor não dar pretexto para o pior; Lembremos de 68”. No fim da semana o desfecho mais inesperado e devastados: a saída do ministro Sergio Moto. Desce o pano no teatro de horrores e suspense nacional.. Até o próximo ato.

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