Entre enfastiado e contrariado, li Dilma Rousseff, pelo twitter, atribuir culpas a Michel Temer e seus aliados – que, a propósito, antes, foram dela. Mesmo o ressentimento e a lógica da disputa precisam ter limites. Não se faz comício na porta de um velório.
É evidente que o atual governo é uma lástima e que os cortes foram, são e serão prejudiciais; que este estado de coisas é mesmo deplorável. Mas, em primeiro lugar, o país não chegou a essa situação do nada. Em segundo, o Museu não construiu seu caos apenas nos últimos dois anos, como se estivesse perfeito antes. Foi um esforço sistemático e contínuo de várias gerações.
O oportunismo é também um dos traços do desastre civilizatório. Compromete ainda mais as biografias. O momento seria de calar.
Não é o incêndio o maior sinal da barbárie, é a ignorância atávica, continuada e persistente que o alimentou e, pior, deve continuar a dar oxigênio a novas labaredas.
O processo leva as digitais dos governos Temer, Dilma, Lula, FHC… Talvez, de Deodoro da Fonseca. Quando, na verdade, o país se preocupou com isso? Defensores e indignados de última hora não servem de nada; constituem uma vergonha tão grande quanto o mal crônico de um desastre anunciado. É o caso de se perguntar se o Brasil merece mesmo todo o imenso patrimônio natural e cultural que possui. Já esquecemos do desastre ambiental da Samarco?
O resto só pode ser o silêncio triste e profundo. Uma perda irreparável não pede bravatas, não pede desforras. Pede luto. E consciência de que é preciso mudar. Superar a barbárie. Fugir do abismo. Mesmo sem saber como nem para onde.
Carlos Melo
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