Sou bobo, é claro. Sempre me pareceu óbvia a necessidade da preservação da Amazônia. A diversidade biológica da região é um patrimônio da humanidade. A maior parte das pessoas que conheço pensa o mesmo. Mas são, como eu, bobas. Acreditam em ideais, em um mundo melhor, essas bobagens. A palavra “bobagem” grita no meu ouvido quando tento imaginar que os responsáveis pelas grandes decisões pretendem melhorar o país. Já vimos um ministro da Cultura, Marcelo Calero, cair porque foi contra a construção de um prédio na zona histórica de Salvador, Bahia. Pediu demissão após sofrer pressões enormes para autorizar a obra.
Fico mais bobo ainda porque essas grandes decisões são tomadas com pouca ou nenhuma discussão com a sociedade. Basta uma assinatura para áreas indígenas serem abolidas, espécies serem condenadas à extinção. Já estive na Amazônia. É admirável. Penso naquilo transformado num local desértico sob o sol ardente. A exploração de minérios costuma destruir o meio ambiente local. E daí se árvores forem explodidas? E daí, se árvores choram? Sinceramente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem uma vantagem: fala o que nos parece um horror. Ele perguntaria que diferença faz árvore e bicho, se afinal já existe a Disney World. Todo mundo acharia um absurdo, mas o tema entraria na ordem do dia. Aqui, tentam fazer na surdina.
Qual é a próxima? Já temos um Rio de Janeiro afundado em dívidas, sem dinheiro para garantir serviços ao cidadão, muito menos investir. Até famílias de policiais fluminenses têm dificuldade para botar comida na mesa, porque eles trabalham sem receber, muitas vezes. Em São Paulo, temos próximo ao aeroporto de Guarulhos e na Avenida Roberto Marinho grandes pilares de um futuro Veículo Leve sobre Rodas, abandonados há anos. Quanto custaram? Que será feito com eles? Ninguém dá satisfação. As leis trabalhistas em mudança, vem aí a reforma da Previdência. Dizem que é melhor. Sou bobo, nem tenho como opinar. Só me pergunto: melhor para quem? Será sempre necessário que um lado perca para o outro ganhar? Quem pagou a Previdência quase a vida toda, por exemplo, ganha? Ou chora, como as árvores destruídas da Amazônia?
O grande Lobato deixou outro livro infantil sobre o qual poucos falam, hoje em dia. Em A chave do tamanho, a esperta boneca Emília consegue minimizar o tamanho dos seres humanos. Passam a viver escondidos em baldes, com medo até do antigo gatinho de estimação, transformado em fera. Em certo momento, Emília se encontra com os grandes líderes do período. E os vê como são: uma espécie de minhoca branca. Eu me pergunto quando vejo essa enxurrada de assinaturas: não há nenhuma preocupação com a posteridade, afinal? Com um mundo melhor onde questões da ordem do dia, como a preservação do planeta, sejam respeitadas? Óbvio, a preocupação não existe. Mas quem hoje toma e apoia essas decisões deixará um legado. A resposta está em A chave do tamanho. Vistos à distância, terão a pequenez das minhocas da boneca Emília.
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