Crise econômica, contexto internacional, cenário político interno. A democracia seria um sonho se o governo dos militares não estivesse tão enfraquecido. Nem o medo dos comunistas emocionava mais. Fica para uma outra vez descobrir por que ficou tatuado no imaginário o milagre econômico ao invés do salto dívida externa, o arrocho, os empréstimos no FMI e a inflação galopante. A gente lembra da inflação do Sarney, os planos econômicos posteriores e acha que aquilo surgiu do nada?
Alguns economistas dizem que o milagre foi um modelo insustentável. Mais que isso, irresponsável. Entre 1968 e 1973 o país cresceu de 11% ao ano em média, era um canteiro de grandes obras e expansão industrial, tudo às custas do aumento da dívida externa e da estagnação dos salários. A Crise do Petróleo entornou o caldo e exigiu ajustes, que não foram feitos.
Em 1964 a dívida externa brasileira era de US$ 3 bilhões. Em 1985, alcançou US$ 95,5 bilhões. O país se transformou no maior devedor do mundo em proporção ao PIB. A inflação rondou os 20% entre 1968 e 1973, chegou a 211% em 1983. A balança comercial acumulava déficits sucessivos. A retração da economia era comprovada pelo PIB, que teve uma queda 4,4% em 1981 e 2,9% em 1983. Os militares não tinham um dado positivo para apresentar à população ou ao mercado.
Em 1982, o país quase declarou moratória. O México havia quebrado em agosto desse ano. Os bancos estrangeiros pararam de rolar a dívida brasileira e as reservas de dólares estavam em colapso. Os militares tiveram que fazer um empréstimo de US$ 4,4 bilhões com o FMI. Em troca, a receita recessiva que se conhece: corte de gastos públicos, aumento de impostos., desvalorização da moeda.
Se houve um índice que cresceu no período de exceção foi a concentração de renda. O 1% mais rico ampliou sua fatia da renda nacional de 12% para 17%, enquanto 48% da população vivia abaixo da linha da pobreza em 1973. Era a ideia de “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo” de Delfim Neto, estabilizar a economia antes de promover a distribuição de riqueza, o que a economista Maria Conceição Tavares chamava de falácia.
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