People Have the Power, cantava Patti Smith em 1988, altura em que não havia dúvida quanto a quem eram as pessoas e, sobretudo, a que se referia quando falava de poder.
Hoje começamos a ter fundadas dúvidas em relação a este “povo” e à sua capacidade de, no meio de tantas ações de marketing, informação, desinformação, Inteligência Artificial e outras manobras cibernéticas, ser quem mais ordena.
Quando Ray Bradbury escreveu Fahrenheit 451, mal sabia quão perto estava da realidade, ao falar da Tirania da Minoria.
A sua distopia parecia ser algo longínquo, quase improvável e no entanto assistimos nos últimos tempos a uma verdadeira manipulação das massas por minorias com agendas próprias, subordinadas a interesses económicos globais, ou, como no caso português mais à nossa escala, interesses meramente individuais ou corporativos quanto baste.
Assumir que é possível manipular eleições através das redes sociais, da contra informação ou até da IA, deveria deixar-nos aterrorizados porquanto o que pensávamos ser um objectivo alcançado – uma pessoa , um voto, uma vontade – é a utopia vigente.
Deveria obrigar-nos a repensar o modelo e o modo de nos organizarmos enquanto sociedade. Mas a realidade é que vivemos um tempo sem lideres!
Um tempo em que o poder acaba nas mãos de senhores da guerra, grupos económicos, religiosos que nada têm a ver com política, na verdadeira acessão do termo, na fórmula que Aristóteles enunciou.
Talvez tenhamos já remetido a noção de “política” e de “ políticos” para o reduto dos mitos, onde unicórnios não são mais cavalos alados mas grandes e novas empresas surgidas em tempo record.
Talvez sejamos apenas meia dúzia de velhos do Restelo a chamar a atenção para que a República vai completamente nua e nem o cabelo lhe tapa as “ vergonhas”. Antes as exibe como troféu.
Talvez…
Mas onde iremos parar com um Mundo sem estadistas, sem projectos humanistas e colectivos? Onde iremos parar quando se recrutam dirigentes ao mais alto nível nas fileiras das mocidades partidárias, transvestidas de agências de emprego garantido? Onde iremos parar sem vozes com peso, com um passado, com visão de futuro abrangente?
Temo bem que, no caso português e com a nossa tendência ancestral de importar as modas “ lá de fora” acabemos como os EUA.
A duas semanas das eleições mais importantes para o chamado Mundo Livre (?) e quando pensamos que já vimos tudo, eis que alguém tem a ideia fantástica de comprar, sem pejo ou subterfugio, o voto do eleitor comum.
Numa Roda da Sorte eleitoral, sorteia-se um milhão de dólares. É esse om preço da cidadania, da consciência política, do voto que custou sangue e lágrimas para se tornar universal. Um milhão de dólares é muito dinheiro! E se cada homem tem um preço, caso a moda pegue , por cá, e com a crise económica que vivemos desde os tempos de D. Afonso Henriques, a coisa é capaz de se fazer por cem mil euros e alguns trocos.
Está claro que dentro da cabinete de voto a decisão é de cada um e não é possível controlar se de facto o milhão foi ou não bem empegue.
Bem não é possível para já, pois há até quem, a um outro nível, considere legitimo o voto por e-mail e o voto electrónico, muito embora evite a grande abstenção, pode ser perigoso caso não seja firmemente controlado!
Acho sempre imensa graça aos nossos políticos quando afirmam publicamente que em política não vale tudo. Por norma são declarações feitas após tudo ter valido num jogo político qualquer.
Mas mesmo assim e como sempre, os EUA batem-nos aos pontos e colocam a Europa e o Mundo numa jogada praticamente de xeque mate internacional.
Não morro de amores pela Kamala e não considero que o mérito seja uma questão de género ou etnia. Mas entre dois males o menor, pois que Trump será, não tenho qualquer dúvida, o carrasco que decapitará uma Europa sem liderança, sem estadistas, sem rumo.
Com Trump não tenho qualquer dúvida que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia acabará em 24 horas com a capitulação da primeira e a vitória e o alargamento territorial da segunda.
Como também não me surpreende que no Médio Oriente o conflito termine rapidamente e em força com Israel a ocupar toda a zona e a deixar uma faixa de no man’s land de forma a criar um perímetro de segurança.
Quanto à Europa que não se soube construir como alternativa e modelo de intervenção internacional, será cada vez mais irrelevante, como é já a outro nível a Organização das Nações Unidas.
O grau zero da política é aquilo a que um grande amigo meu, muito jovem, dizia há dias desgostoso e desiludido com tudo isto: Arrasar tudo e pôr galinhas.
Se calhar têm mais cérebro que alguns de nós que continuamos a picar o chão em busca duma minhoca gorda.
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