quinta-feira, 3 de março de 2016

O vício da corrupção

É uma história que acompanhei desde o começo através do entusiasmo de amigos como Hélio Pellegrino, Frei Betto e Henfil e de personalidades como Mario Pedrosa, Antonio Candido, Sérgio Buarque, Apolônio de Carvalho, que se orgulhavam de terem participado da reunião no Colégio Sion, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1980, quando foi aprovado por aclamação das cerca de duas mil pessoas presentes o manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores. O sonho era possível, pensava-se diante daquele movimento que reunia sindicalistas, intelectuais, professores, jovens, velhos, a geração de 68, todos os que tinham lutado contra o regime militar, mas também contra o autoritarismo do Partido Comunista e a herança populista de Vargas.


Vinte anos depois, Lula anunciava orgulhoso que o PT estava pronto para chegar ao poder com a bandeira da ética. Reconhecia que teria de desenvolver alianças, mas “sem jamais cair na promiscuidade política”. Bastaram mais dez anos para que ocorresse a perda da inocência. No dia 10 de fevereiro de 2010, quando os petistas festejavam o 30º aniversário, a repórter Soraya Aggege publicou uma corajosa entrevista do então chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, dizendo com todas as letras: “o vício da corrupção entrou em nosso partido”. E explicava que o PT, que nascera questionando as instituições tradicionais, acabara “se assemelhando aos outros partidos”.

Mais do que denúncia, era um alerta que, aliás, não adiantou muito. Esse vício é muito poderoso e, mais do que todos os outros, difícil de ser abandonado, porque não faz mal à saúde e é muito rentável. O cigarro e o álcool matam; já a corrupção dá dinheiro e só agora está dando cadeia no Brasil. Daí a dificuldade de combatê-la e até de reconhecê-la. Tanto que no evento comemorativo dos 36 anos do PT no último fim de semana, nenhum companheiro teve coragem de tocar no assunto, mesmo sabendo que ele continua atual e é responsável pelo desgaste do “partido da ética”. Hoje, de acordo com o Datafolha, 49% dos eleitores não votariam em Lula de jeito nenhum. Mas isso não o desanima, ao contrário. Ele aproveitou o encontro partidário para dizer que, “se for necessário”, aceita ser candidato em 2018: “estarei com 72 anos e tesão de 30 para ser presidente da República”. Como parte da campanha, mostrou sua força derrubando um suposto obstáculo, o ministro da Justiça, para com isso atingir também a PF. Ele sabe que, para alcançar seu intento, precisa provar aos investigadores da Lava-Jato que, apesar das aparências, não é dependente do maldito vício da corrupção. 

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