Não é a primeira vez nem será a última que a tela do meu computador me desafia. Enfrentar de peito aberto esta nossa conversa semanal é, também, um ato de coragem. E, como qualquer cronista (ou, ao contrário, o que faço aqui está muito distante da verdadeira crônica?), sucumbo ao barulho ensurdecedor dos temas considerados hegemônicos. E a política, com certeza, é o maior deles.
E sempre (não aprendo a lição) aguardo ansioso que algo otimista surja em meio ao desânimo que abala aos poucos a confiança que ainda mantenho em nosso país. Procuro, então, a maneira menos traumática e, talvez, mais elegante para me dirigir a você, leitor.
O desânimo a que me refiro tem como causa principal esta dolorosa realidade: a presidente Dilma Rousseff, depois, sobretudo, de fazer uso da mentira – por meio dela ou do seu guru da comunicação, enfim preso pela operação Lava Jato – para se reeleger presidente da República, está perdendo agora o apoio do PT, seu partido. E o PMDB, que seria seu maior aliado e detém as presidências do Senado e da Câmara, sonha, diariamente, em fazer oposição aos dois.
Para agravar ainda mais as crises política, moral e econômica, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é investigado pelo STF em sete inquéritos. Seis deles têm relação com a operação Lava Jato e um se refere ao caso Mônica Veloso, mãe de um dos seus filhos. Se o presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, concordar com a Procuradoria Geral da República, que autorizou mais uma investigação contra Renan, por movimentação financeira suspeita, no valor de R$ 5,7 milhões, incompatível com seus rendimentos anuais, o alagoano comemorará o oitavo inquérito contra ele. Uma proeza!
Por sua vez, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafia os Poderes Executivo e Judiciário. Não teme nada nem ninguém. Em outubro do ano passado, o STF autorizou inquérito contra ele, sua mulher, Cláudia Cruz, e sua filha Danielle, por se beneficiarem de recursos de quatro contas na Suíça. A PGR investiga a relação desse dinheiro com o esquema de propina da Petrobras, mas Cunha afirma que não tem contas no exterior. É, apenas, conforme disse, “usufrutuário em vida de ativos geridos por um truste”. E, anteontem, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, requereu a abertura de novo inquérito contra ele baseado em delações premiadas.
Se o STF decidir (escrevo antes da sua decisão) que o deputado Eduardo Cunha deva ser processado por corrupção e lavagem de dinheiro subtraído da Petrobras, ele se tornará réu (de número 180) na operação Lava Jato. Se tal ocorrer, o STF também terá que decidir sobre seu afastamento definitivo, pois Cunha (pasme, leitor!) é o primeiro na linha de sucessão, depois do vice-presidente Temer, e isso implicará imediata eleição do seu substituto na presidência da Câmara Federal.
Finalmente, depois que a Lava Jato decidiu investigar se o ex-presidente Lula recebeu vantagens indevidas de empreiteiras, e um dia depois de demitir o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (em seu lugar, foi nomeado o promotor baiano Wellington César Lima e Silva, ligado ao ministro Jaques Wagner), a presidente Dilma se vê, pessoalmente, humilhada com a denúncia de que a Andrade Gutierrez pagou “por fora” despesas da sua campanha presidencial de 2010.
Atenção: se nós, brasileiros, de fato quisermos, poderá nascer desse lixo um novo país – ético, democrático e justo.
O futuro está em nossas mãos.
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