Exageros do Judiciário, ingratidão, perseguições, preconceito, conjecturas desonestas e imprecisões convenientes; todos os argumentos comuns ao discurso governista estavam lá. De tão deletéria, a linha de raciocínio conseguiu empanar a própria rudeza do texto. Um feito.
Logo no parágrafo abre-alas, por exemplo - “Ser legalista não é o mesmo que ser governista, ser governista não é o mesmo que ser corrupto. É intelectualmente desonesto dizer que os governistas ou os simplesmente contrários ao impeachment são a favor da corrupção” - fica clara a intenção de abusar da ginástica retórica para encadear meias-verdades sorrateiras.
Desgraçadamente a marinização do debate voltou à moda, eu entendo, porém, fiquei na dúvida, Moura realmente achou que seduziria alguém sensato com um bobajada deste quilate?
Nessas horas pouco interessa o caráter da pessoa, do mais pudico ao canalha perfeito, tudo o que eu espero é um mínimo de macheza. Trata-se de uma expectativa razoável, convenhamos, quando o debate feroz toma conta das conversas, a economia definha e as instituições são questionadas.
Seja qual for a categoria do bizu, não resta escapatória, apoiar este governo corrupto, mesmo com tantas informações disponíveis, significa, sim, colaborar com bandidos inimigos da nação.
Questionar as razões que levam o sujeito a insistir ou adotar posição tão absurda, por outro lado, é um debate legítimo. Ignorância? Obtusidade? A tola percepção de que mudar de posicionamento atestaria fraqueza? Contrapartida com o governo que financia projetos pessoais?
Em outro momento trágico do artigo-panfleto, Wagner lamenta o “ódio cego por um governo que tirou milhões de brasileiros da miséria”, para em seguida ressaltar que, “em nome dessas conquistas”, não nega “as evidências de que o PT montou um projeto de poder amparado por um esquema de corrupção”.
Estabelecer ambas as situações nesta ordem, invertendo causa e efeito, não foi um deslize à toa.
Para acreditar nesta hipótese seria necessário esquivar-se de sugestões mentirosas como “você, que por ser contra a corrupção quer um país governado por Michel Temer”, “interceptações telefônicas questionáveis”, ou ainda “o fato de o ministro Gilmar Mendes promover em Lisboa um seminário com líderes oposicionistas”.
Ora, para começo de conversa, se alguém quer um país governado por Michel Temer são os eleitores da chapa Dilma-Temer. Sobre as escutas telefônicas, estas foram autorizadas pela Justiça, e portanto questioná-las assim, de maneira tão vazia, só pode significar a preferência pela diferenciação entre cidadãos perante a lei. Por fim, o seminário em Lisboa começou a ser organizado há um ano, e contará com a presença do ministro Dias Toffoli, do senador Jorge Viana (PT-AC), do ex-advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, entre outros ministros, advogados e professores, além de José Serra e Aécio Neves.
Wagner Moura tem todo o direito de opinar como bem entender, e até de simplesmente repetir o batido discurso torpe do comando petista. Pode inclusive se autoproclamar legalista, seja lá o que isto significa na atual conjuntura.
Assim como o nosso dever, de todo brasileiro farto com as patifarias comandadas pelo PT, é o de contestá-lo, de dizer basta, e de rejeitar a metralhadora midiática organizada por este governo com o auxílio da classe artística.
Chega a ser ofensivo constatar o pouco caso que fazem da inteligência e indignação do povo.
Com toda a honestidade, já que esperar pelo encerramento unilateral de seus contratos com a golpista Rede Globo seria demais, sem falar na esculhambação ética que é defender um governo provedor de milhões pleiteados por eles mesmos via Lei Rouanet, acho até bom ver esse pessoal deixando a toca.
No fundo, ao ensaiar falsos puxões de orelha na esquerda para então ter a pachorra de falar em “golpe clássico”, o ator apenas comprovou a premissa básica de todo esquerdista: pau está liberado para bater em Francisco, desde que em Chico não encostem um dedo sequer.
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