Num instante em que a Câmara se consolida como cemitério para a desova de denúncias contra o presidente da República, o juiz Sergio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol escancararam num seminário em São Paulo um fenômeno que subverte o combate à corrupção no Brasil. O juiz e o coordenador da Lava Jato discorreram sobre a ausência de respostas institucionais adequadas quando se trata de punir investigados que se escondem atrás do escudo do foro privilegiado.
A certa altura, Moro referiu-se ao caso de Geddel Vieira Lima. Foi deputado na Era FHC. Sob Lula, foi ministro. Sob Dilma, foi vice-presidnete da Caixa Econômica. O juiz lembrou que o nome do personagem está associado a escândalos desde a década de 90. Será que se tivesse sido punido naquela época, haveria o apartamento com R$ 51 milhões?, perguntou Moro. O procurador Dellagnol ecoou o juiz: Dinheiro continua circulando em malas anos depois do início da Lava-Jato. Ministros do Supremo soltam e ressoltam corruptos poderosos!, disse ele.
O país vive um paradoxo: o excesso de investigados poderosos deveria potencializar as consequências. Mas acontece o contrário. Os cerca de 200 encrencados com foro privilegiado se juntam para estancar a sangria. O que Moro e Dallagnol disseram, com outras palavras, é que a operação abafa é um sucesso bem maior do que a Lava Jato. Se você esperava por um Brasil novo, convém arregac;ar as mangas. Ou puxar uma cadeira. Vai demorar.
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