quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Depende de nós

A política do é dando que se recebe não foi inventada pelo presidente Michel Temer. O que mais choca no comportamento de Temer é que ele faz às claras, e aparentemente sem nenhum constrangimento, o que seus antecessores no cargo sempre fizeram às escondidas ou com mais discrição.

Deputado à Assembleia Constituinte de 1988, Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Congresso abrigava pelo menos “300 picaretas”, aqueles que cobram caro para apoiar o governo. Presidente da República, Lula governou com os 300 picaretas e ajudou a multiplicá-los.

Pagar mensalão a deputados e senadores para que votassem como o governo queria não foi uma invenção do PT de Lula. A compra de votos, ali, é antiga. Há registro de que deputados foram comprados para aprovar a emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique.


Deputados e senadores receberam grana para votar em Tancredo Neves, elegendo-o presidente da República em janeiro de 1985. Paulo Maluf, adversário de Tancredo, ficou com a fama de o maior comprador de votos naquela eleição ainda indireta.

A ditadura militar de 64 não precisou pagar em dinheiro para aprovar no Congresso tudo o que quis. Mas pagou, em escala menor, com cargos e outras sinecuras. Do governo Sarney para cá, a compra de apoio só fez crescer e sofisticar-se. Todos os escrúpulos foram mandados às favas.

O que sempre houve só virou escândalo graças à Lava Jato. Temer só foi alçado à condição inédita de presidente denunciado por corrupção no exercício do cargo porque acabou gravado por um empresário amigo dele, e caixa de campanha do PMDB e de outros partidos.

Nada do que Temer tem feito para manter-se no poder e livrar-se de acusações é estranho aos costumes políticos nacionais. Nada. E essa é a tragédia maior. A Lava Jato escancarou a podridão da política entre nós. Mas não é sua tarefa acabar com ela ou reduzi-la, é nossa. Se quisermos.

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