Um comentário de Lula durante reunião, ontem, em Brasília, com 20 senadores do PMDB e de outros partidos, ficará como exemplo notável da sua real incompreensão dos deveres de um ex-presidente da República devolvido à condição de cidadão comum.
Depois de se apresentar como “vítima” de uma perseguição implacável que lhe seria movida pelo juiz Sérgio Moro, e de falar sobre o sofrimento de sua família, Lula observou que, quando tudo no país estava bem politicamente, ninguém questionava nada a respeito de seus atos.
Agora, queixou-se amargo, “tudo tem que ser explicado. Estão querendo me incluir de todo o jeito [na Lava-Jato]. Estão forçando a barra”. A maioria dos senadores concordou com ele. Mas dois ou três argumentaram que um homem público é obrigado a se explicar.
Poucas foram as explicações dadas por Lula quando era presidente para sua papel nos escândalos que pontuaram os seus dois governos. No caso do mensalão, quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou que havia sido pago com dinheiro de caixa dois no exterior, Lula pediu desculpas.
Foi um pedido de desculpas canhestro, pobre, falso como uma nota de três dólares. Lula se disse traído, mas se recusou a apontar os traidores. Tentou reduzir a compra de voto de deputados a um reles crime de caixa dois, que significa o uso de dinheiro sujo para financiar campanhas.
Desde então, e apesar da condenação dos mensaleiros pelo Supremo Tribunal Federal, repete que o mensalão jamais existiu. E porque não existiu, a roubalheira na Petrobras não poderia ser uma extensão dele. Lula não concede que tenha ocorrido nem mesmo o saque à Petrobras.
O presidente que se valeu da força e dos privilégios do cargo para não explicar satisfatoriamente os seus atos só poderia desaguar no cidadão que imaginou desfrutar de força e de iguais privilégios para bordar e pintar a seu talante. Quebrou a cara. E parece não entender por que quebrou.
A rebater de maneira convincente as acusações que atingem sua reputação, prefere exibir-se como vítima de desafetos que, desde já, pretendem subtrair-lhe o direito de ser candidato outra vez a presidente da República. Fatura como vítima. Dribla as explicações.
No passado, já foi melhor nisso. Está fora de forma. E a conjuntura, para sua desgraça, mudou em seu desfavor. Reclame à Dilma.
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