segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sem poder reclamar

“Melhor fazer o fácil porque o difícil é muito complicado”, disse um ex-presidente. Em pior, talvez tenha mesmo acreditado nisso. Não seria surpreendente. Esta parece ser uma nação sempre em busca de elixir para todos os males. Solução de todos os problemas embutidas e contidas em uma só formula. Seria maravilhoso. Provavelmente milagroso. Mas milagres, se existirem, não acontecem o tempo todo.

Não resta, portanto, para os mortais, alternativa que não seja construir soluções com suor e ideias. E estamos, parece, em falta dos dois. Raramente se viveu período de ausência tão aguda de ideias. E quando o suor não parece ser derramado na procura de soluções. Tudo parece estar à deriva.


Seria simples culpar líderes. Simples, mas impossível, na medida em que não parece haver (ou pelo menos não apareceram) lideres a altura dos desafios. Pensando bem, é efeito compreensível da maneira como os desafios têm sido encarados, discutidos.

Todo debate é transformado em busca pelas diferenças. Diferenças estas, sem dúvida, importantes. São elas que definem identidade, valores, e limites. Demarcam territórios. Diferenças, entretanto, não constroem solução. Não geram consenso.

Soluções efetivas vêm da criação de consensos. E consensos, somente são possíveis com dialogo. Ou seja, a habilidade de ouvir, falar e ser compreendido. Qualquer negociador sabe disso. Bons negociadores, portanto, devem estar em falta.

Negociar está no DNA da governança democrática. E pragmatismo também. Não são características negativas ou pejorativas. São ferramentas de construção de soluções através do diálogo e da negociação. 

Melhores, quanto melhores a qualidade dos princípios dos negociadores. Os mesmos princípios que marcam as diferenças e demarcam as soluções possíveis.

Sendo pragmático, é possível mudança através da legislação e melhorias incrementais. Não é razoável presumir que na política é possível conseguir tudo exatamente como desejado no momento planejado. Não se criam soluções permanentes do dia para a noite. Mas é possível caminhar na direção certa. Eventualmente, a gente chega lá.

Mudança real se dá com esforço para trabalhar com os outros do outro lado. Aqueles, sim, com ideias diferentes, mas em busca de iniciativas em comum. Acordos, quando orientados para o benefício público, são vitórias, não capitulações.

Vivemos a era da ausência de princípios. Da falta de consensos. Do excesso de promessas impossíveis. E, claro, de muita mentira e nenhuma sinceridade. Por todo lado. Nas instituições, na mídia, na mídia social. Todos pregam a tolerância. Quase ninguém a pratica. Por onde se ande e se olhe. Por isso não há consenso, solução, ideias e ação.

No seu melhor, política é baseada na cooperação suprapartidária que muitas vezes leva tempo para desenvolver e compromisso para sustentar. No seu pior, política é uma manifestação da incapacidade de tolerar dissidência e diferença de opinião. Se desejarmos soluções razoáveis, precisamos enviar para as instituições representantes razoáveis. Para isso servem as eleições.

Mas, se a escolha for diferente. Se enviarmos representantes sem princípios claros, portadores de promessas impossíveis em prazos absurdos. Se escolhermos lideranças pouco afeitas à convivência com a divergência e com a busca de consensos através de negociações transparentes... Bom... Ai realmente não tem do que reclamar.

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