Agora, biocientistas acabam de criar um novo termo para nomear essa era de civilizações que conviveram ou se sucederam, a marcar a presença do homem sobre o planeta. Há alguns milhares de anos, segundo eles, estamos vivendo o Antropoceno, um período de domínio do homem sobre a terra, como já houve antes os de anfíbios, répteis e lagartos.
Não sei se o Antropoceno está fadado a se encerrar com o futuro desaparecimento do homem da face da terra, como foi o caso dos dinossauros. Mas acho que é possível identificar onde esse perigo começou a se tornar crítico.
A indústria nos cobrou o preço amargo do trabalho sub-humano, dependente e mal remunerado (quando era remunerado), da superestimação da máquina em detrimento do homem, de nossa sujeição a progresso e consumo a qualquer custo. Ela nos revelou a viabilidade do Apocalipse com a violência de seus meios e com o genocídio provocado pelo permanente crescimento das diferenças sociais de classe.
Os juros das benfeitorias, dos remédios que prolongam a vida, dos meios rápidos de transporte, do entretenimento ao alcance de todos, são responsáveis pela perda de nosso caráter, eliminando nossa vontade para atender a nossos desejos.
A besta propulsora dessa destruição, o combustível da insensatez, sempre foi o petróleo, a bosta negra vinda da profundeza dos infernos. Entre outras coisas, o petróleo, a quem prestamos vassalagem como a um deus da fertilidade, uma maravilha que pode tudo parir, foi quem deu à luz e ainda é o principal responsável pela poluição que ameaça acabar conosco. E, conosco, o planeta.
O mundo mais esperto já reage a isso há algum tempo. Barack Obama faz o marketing pessoal do Bolt EV, carro elétrico da Chevrolet que deve chegar ao mercado no fim deste ano. Alemães e chineses fazem altos investimentos em energia solar, já com alguma consequência. Na Holanda, faz-se experiências bem-sucedidas com energia eólica.
O Irã sai de um embargo de anos, jogando para baixo o preço do barril de petróleo, liquidando suas reservas acumuladas e acabando com a economia de países como Venezuela e Arábia Saudita, que vivem do “ouro negro”. O petróleo, que já sustentou o imperialismo econômico e militar dos Estados Unidos durante o século XX, hoje sustenta o luxo dos xeques e as armas do Estado Islâmico.
Ainda não nos caiu a ficha pública de que ninguém mais deseja o discutível petróleo do Brasil e, muito menos, o de sua empresa estatal. Nossas autoridades se deixam fotografar orgulhosas, com as mãos negras sujas de óleo, para comemorar a exploração do pré-sal que, por suas dificuldades técnicas, exploração de alto custo e barril a US$ 30, é capaz de nem ir adiante. E talvez seja melhor assim.
Não é à toa que a ação da Petrobras vale hoje cerca de R$ 4, o que mal dá para comprar um litro de gasolina no posto da esquina. Um país moderno, como o Brasil devia ser, tinha que estar produzindo o futuro, investindo em pesquisas, colaborando com nossas universidades para desenvolvimento e uso de energia elétrica, solar e eólica. Participando, enfim, de um novo momento da humanidade, a era pós-industrial.
Lendo livro sobre Steve Jobs, me encantei com uma afirmação sua a parceiro na Apple. Jobs dizia que eles tinham que construir um computador pessoal que tivesse uma friendly relation com seu usuário. O pós-industrial, em todas as suas frentes, terá sempre que ser isso: uma relação amigável com e entre seres humanos, em vez da submissão à violência confirmada nas bolsas e no mundo financeiro em geral.
A produção pós-industrial não se restringe apenas ao digital, à cibernética, a uma nuvem ligeira e luminosa sobre nossas cabeças. Ela é alguma coisa a mais, a serviço do bem-estar de todos, sem depender da destruição de recursos naturais e da multiplicação de fontes de energia não renováveis.
Quando eu era estudante, tomei muita porrada da polícia para defender, nas ruas, a ideia de que o petróleo é nosso. Esse tempo passou em todo o mundo, para toda a humanidade em busca de novas e necessárias eras. Que se dane a Petrobras.
Cacá Diegues
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