Os mosquitos causam mais perdas e miséria para a humanidade do que qualquer outro organismo (com a exceção óbvia de nós mesmos). Os mosquitos são criaturas odiadas, nervosas e irritantes; suas larvas contaminam lagos e pântanos. E, com as condições adequadas, são pioneiros expansionistas, se sentem em casa nos habitats alterados que criamos.
Isso nos leva a fazer as seguintes perguntas: que bem fazem esses dípteros? E se pudéssemos exterminá-los da face da Terra? Deveríamos fazê-lo?
Como observa a ecóloga Sarah Fang, o consenso é que os mosquitos não fazem nada particularmente bom do qual pudéssemos sentir falta. Se os julgamos considerando a ideia doce, mas evocativa do ecólogo Charles Elton, de que toda criatura tem um nicho, assim como todas vilas inglesas têm um elenco de personagens com seus respectivos lugares (açougueiro, padeiro, policial) ficaria uma ponta solta: os mosquitos não têm um propósito especial. Então, não sentiríamos saudades deles, certo?
Os amantes dos mosquitos discordam
Podemos dividir os argumentos a favor dos mosquitos em duas categorias. A primeira argumenta que, sendo tão numerosos, se tornam parte essencial da cadeia alimentar, especialmente nas tundras árticas, onde durante as poucas semanas de verão surge uma grande quantidade de mosquitos que servem de alimento para as aves migratórias que chegam ao Norte para explorar essa riqueza.
Fang também sugere que os ataques de mosquitos podem ser suficientemente ferozes para desviar as rotas de migração de renas, cuja total liberdade teria consequências negativas tanto sobre a paisagem quanto para a pastagem. Em um relação extraordinariamente exata entre mosquitos e seus predadores, um estudo sobre a espécie Vespadelus vultuernus, pequenos morcegos encontrados no leste da Austrália, revela uma forte dependência dos morcegos adultos ao mosquito Aedes vigilax. Assim, o fato de esses morcegos precisarem dos mosquitos pode ser um argumento para começar a respeitá-los.
Os mosquitos jovens são importantes em cadeias alimentares aquáticas, como presas de espécies como o peixe-mosquito, o Gambusia affinis, ou em pequenas poças de água parada nas folhas de plantas carnívoras, arbustos e copas das árvores. Uma fauna muito reduzida que habita essas folhas e ramos, como rãs venenosas e caranguejos, se alimenta dos corpos de larvas de mosquito que flutuam nas poças. Mas, além das rãs venenosas e morcegos, que têm seu próprio fã-clube entre os ambientalistas e amantes da natureza, é pouco provável conseguir influenciar a maioria das pessoas a se posicionar a favor dos mosquitos.
O segundo argumento é que os mosquitos prestam serviços ambientais, como a polinização realizada pelo inseto adulto, ou a liberação de nutrientes que acontece quando suas crias se alimentam de resíduos orgânicos. Mas, embora os mosquitos possam atuar como polinizadores de plantas, como as orquídeas, eles não têm o monopólio, não são especialmente concebidos para essa atividade, e há uma grande quantidade de polinizadores para ocupar seus lugares.
Embora a redução do número de abelhas seja um exemplo que ilustra como colocar um ecossistema em perigo, os mosquitos são apenas mais uma parte mal compreendida e pouco estudada do processo de polinização, no qual muitas peças estão envolvidas.
E continuam discordando
Como o explorador português João de Barras disse sobre os trópicos: "Deus colocou um anjo impressionante com uma espada flamejante de febres mortais [os mosquitos] que nos impede de penetrar no interior deste jardim".
Assim, não parece haver nenhuma boa razão para defender sua existência. Além do mais, destruí-los não só nos abriria caminho, mas iria libertar a humanidade de uma terrível maldição. Com exceção de um pequeno detalhe...
Todo o sangue nutritivo e quente estaria disponível. E há muitos outros bichinhos por aí, como moscas e pulgas, aguardando o momento de entrar em cena. Cuidado com o que você deseja.
Mike Jeffries ( Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation)
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