quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Depois do Carnaval, a dura realidade que nos confronta

Apesar da manchete (de primeira página) da “Folha de S. Paulo” estampada na edição do último domingo baseada em dados negativos recentes – que a levaram a afirmar que “a economia brasileira caminha para mergulhar em um período de três anos consecutivos de recessão” –, o povo brasileiro ainda encontrou ânimo para participar do Carnaval – a nossa maior e mais bonita festa anual. “A última vez”, disse a “Folha”, “que o PIB, medida da produção e da renda, recuou por dois anos seguidos, foi no biênio 1930-31, após a grande crise de 1929”.

Belo Horizonte, por exemplo, cidade antes procurada pelos que queriam fugir do furdunço – mas que já teve antes, nos clubes e em algumas vias públicas, com ênfase na avenida Afonso Pena (refiro-me ao tempo do corso), um alegre e bonito Carnaval –, com certeza encontrou, nos blocos espalhados pelos seus inúmeros bairros, a performance ideal. Foram, sobretudo, dias e noites de total desabafo.

Só que, passada a festança, o povo se volta para a realidade econômica e política vivida hoje por um país totalmente a esmo e, o que é pior, sem lideranças capazes de lhe ditar um rumo seguro, com vistas à retomada do crescimento. Milhões de desempregados (a face mais cruel da recessão) suplicam, desesperadamente, por socorro.

Com uma presidente sangrando e a maior liderança de seu partido correndo o risco de se esfacelar, ainda assistimos, estupefatos, ao desenrolar da operação Lava Jato. Depois de viver no mensalão pressões e constrangimentos de todo tipo, Lula, agora, se mostra incapaz de qualquer reação diante das graves acusações que pesam sobre ele e sobre integrantes de sua família. Seu recolhimento, interrompido ou pelo presidente do PT, Rui Falcão, ou pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (ambos ficariam bem melhores na fita se adotassem o silêncio), espalha insegurança e insatisfação não só na base que apoia o governo Dilma, mas mesmo entre petistas, que não recebem de seu líder orientação sobre a defesa que dele devem fazer.

Na última defesa que fez do amigo, Falcão, em nota publicada no site do partido, afirmou que, no Brasil, nunca um ex-presidente foi “tão caluniado, difamado, injuriado e atacado como o companheiro Lula”. Para ele, o que todos assistimos é um verdadeiro linchamento moral e político, baseado em “denúncias sem provas”.

Só que a realidade é muito diferente disso, leitor.

Quem está sendo acusado hoje de desvios graves de conduta (como político) não é um ex-presidente da República, mas um simples cidadão. Segundo o jurista Joaquim Falcão, da Fundação Getulio Vargas, “do ponto de vista legal, não se investiga nem presidentes, nem ex-presidentes. Investiga-se o cidadão comum, igual aos outros”.

Há, no mundo inteiro, inúmeros exemplos de que é assim que se consolida o regime democrático. Por outro lado, “o legado de realizações a favor dos mais pobres”, constantemente mencionado em defesa do governo Lula, como o fez agora o mesmo Rui Falcão, corre o risco de dar para trás. E ele, por si só, não o isenta de responder, em juízo, o que possa ter feito contra o povo que um dia quis ajudar.

Essa história, preconizada pelo presidente do PT, de que já se explicou tudo e que, na verdade, tudo não passa de uma farsa criada por uma “mídia conservadora” não repercute mais, se é que algum dia repercutiu.

Que os milhões de brasileiros que foram às ruas para o Carnaval possam fazer o mesmo em defesa da moralidade pública.

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