Ao dizer que a transformação que julga necessária para o Brasil não virá pela via democrática na velocidade almejada, Carlos Bolsonaro exerceu no limite a tolerância da democracia. Em qualquer outro regime, ele seria preso ou no mínimo teria seu mandato cassado se atacasse a base desse regime. O filho do presidente mais uma vez falou com o intestino, o que não surpreende mais. Se houvesse no Brasil força para interromper a democracia, o que não há, o primeiro a perder seria o próprio Jair Bolsonaro. Ou será que Carlos imagina que se daria um golpe antidemocrático para entregar ao capitão mais poder? Uma ruptura institucional só ocorreria com a deposição do presidente, deste presidente.
De resto, a declaração apenas reitera o desapreço que o Zero Dois e seus irmãos têm pelo contraditório (um deles sugeriu, antes da eleição, que o STF poderia ser fechado por um cabo e um soldado). Tão logo Carlos proferiu a asneira, as redes trovejaram sobre o filhote presidencial, e ele então voltou suas baterias contra quem? Contra os jornalistas. E tentou se explicar. Ficou ridículo. Nas suas palavras: “O que falei: por via democrática as coisas não mudam rapidamente. É um fato (...) O que os jornalistas espalharam: Carlos Bolsonaro defende a ditadura. Canalhas!”. Essa é a beleza da democracia. Até mesmo vilipêndios proferidos contra ela são por ela tolerados.
Todo mundo, à exceção dos que estão incondicionalmente com os Bolsonaro e não enxergam muito mais do que um palmo adiante do nariz, reagiu ao insulto proferido contra a democracia. Desnecessário, portanto, listar os que lamentaram a declaração desprezível. Mas vale a pena anotar o que disse um general, o vice-presidente Hamilton Mourão. Para ele, democracia, com capitalismo e sociedade civil forte, é pilar da civilização. “Temos que negociar com a rapaziada do outro lado da praça (referindo-se ao Congresso e à Praça dos Três Poderes), e com paciência”, disse Mourão ao responder sobre a infâmia de Carlos Bolsonaro.
No mesmo dia, outro filho, o Eduardo, foi visitar o pai no hospital. E o que fez o engraçadinho? Publicou um post em que está ao lado da cama do pai com uma pistola na cintura. Nossa, que medo. O filhote Zero Três estava lá para defender o patriarca… do que mesmo? Talvez de um outro ataque, imagino que imaginou. Além de sinalizar que a segurança oferecida pelo GSI não vale nada, ele parecia querer mostrar quem manda no pedaço. Nesse caso, estamos mesmo encrencados e em breve poderemos ter um outro problema. Se Eduardo passar pela sabatina do Senado e virar embaixador nos Estados Unidos, quem vai tomar conta de daddy ?
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