quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Quem é o primeiro a parar as máquinas?

Nunca em 2,6 mil milhões de anos a atmosfera terrestre esteve envolvida por tamanha concentração de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa. Os últimos cinco anos preparam-se para ser, segundo as últimas medições, os mais quentes de sempre, desde que há registos. O degelo de algumas regiões na Gronelândia e no Ártico parece ter atingido um ponto de não retorno, o mesmo acontecendo com o desaparecimento de glaciares nas cadeias montanhosas da Europa e da Ásia. Uma série de fenómenos extremos tem-se multiplicado um pouco pelo globo, com uma frequência e uma intensidade como não havia memória.

Os sinais são claros: as máquinas do aquecimento global estão ligadas e o navio das alterações climáticas está em marcha – e, ainda por cima, já numa espécie de velocidade de cruzeiro. Os indicadores da temperatura média global, medidos pelos principais organismos científicos mundiais, mostram um aumento ritmado e constante, ano após ano, em especial desde o início deste século. É uma marcha que, até ao momento, ainda não deu qualquer sinal de abrandamento, antes pelo contrário.

Há uma constatação que, por causa disto tudo, vale sempre a pena repetir: temos feito mais mal ao planeta desde que estamos informados sobre as consequências das nossas ações do que em todo o resto da História da Humanidade. As contas são claras: emitimos, nos últimos 30 anos, mais gases com efeito de estufa para a atmosfera do que em todo o resto da existência humana na Terra. E conhecemos também, com atualizações permanentes, os cenários que podem ocorrer no planeta no prazo de poucas décadas, caso a temperatura média global aumente 1,5 ou 2 graus face ao período pré-industrial.


Estamos informados, mais bem informados do que nunca, mas não aprendemos nada – é essa a verdade. Sabemos tudo o que pode acontecer, mas andamos há anos a pensar que a subida do nível das águas, os furacões de grau 6, o degelo das calotes polares e tantos outros cenários previstos pela Ciência só irão ocorrer daqui a muitos anos, já não nas nossas vidas. Só que, começamos agora a perceber, esse era o cenário mais otimista, aquele que os últimos acontecimentos demonstram que já perdeu o seu prazo de validade. As previsões, nos últimos tempos, têm sido atualizadas de forma repetida e sempre para pior: fenómenos que se esperavam só ocorrer daqui a quatro ou a cinco décadas – como o degelo da maior parte da superfície da Gronelândia – estão a acontecer já nos dias de hoje. Muito mais cedo do que se pensava. Ou seja, as vítimas de algumas das maiores catástrofes previstas não serão já as gerações futuras, mas os adolescentes e jovens de hoje, que serão confrontados com os piores cenários ainda durante o seu ciclo normal de vida.

Só há uma maneira de evitar a catástrofe: desligar as máquinas e tentar fazer diminuir a velocidade de cruzeiro do navio do aquecimento global. Literalmente: todas as máquinas que trabalham com combustíveis fósseis. Mas sempre com a consciência de que, mesmo depois de desligadas as máquinas, o planeta vai continuar a sua marcha de aquecimento e que demorará muitos anos até a tendência se inverter.

E, quando isso suceder, nada será igual ao que era. Quem desliga as máquinas primeiro? É essa a pergunta que precisa de ser feita. Sabe-se que, para evitar males maiores, precisamos de ter um mundo com zero emissões de gases com efeito de estufa em 2050. Para atingir essa meta, será necessário começar a desligar as máquinas muito mais cedo, substituindo o carvão e o petróleo por energias limpas, alternativas.

Se quiser continuar a manter a sua influência num mundo mais fragmentado e dividido entre duas superpotências, a Europa tem aqui uma oportunidade que não devia perder: dar o exemplo e ser o primeiro bloco a desligar as máquinas e a conseguir a neutralidade carbónica, ainda antes de 2050. Em nome dos seus valores do passado e, acima de tudo, como projeto de futuro.

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