terça-feira, 29 de março de 2016

Tragédia anunciada

 O Tribunal Superior Eleitoral, TSE, será responsável pela maior convulsão social do país caso não decida sobre o processo que caminha a passos de tartaruga que poderia ter como sentença final a cassação dos mandatos de Dilma e Temer. A chapa de ambos, comprovadamente, recebeu dinheiro ilegal para a campanha de 2014 e, portanto, pela legislação, os dois teriam que perder os mandatos. Este, na verdade, seria o caminho mais sensato para se evitar uma insurgência com danos irreparáveis à democracia brasileira. O impeachment é, sim, constitucional. E como já disseram alguns juristas, e até ministros do STF, não se trata de um golpe. Mas uma nova eleição presidencial, onde os partidos pudessem livremente apresentar seus candidatos para disputá-la, este seria, sem dúvida, o caminho menos doloroso para resolver esse impasse político que pode acabar numa baderna sem precedentes no país.


Ao desembarcar do governo, o PMDB tira a principal escora de sua sustentação política da Dilma e se prepara para reforçar o impeachement na Câmara e no Senado. Tenta demover o presidente do Senado, Renan Calheiros, que ainda resiste ao açodamento de seus companheiros de partido para pular fora do barco da Dilma à deriva, sem comando e sem rumo. Ocorre que, na hipótese da Dilma ser afastada, o TSE não vai arquivar o processo que pede a cassação dos dois – presidente e vice. Assim, o Brasil corre o risco de em pouco tempo perder dois presidentes. O primeiro pela votação do impeachement e o segundo por decisão do tribunal se a votação for pelo afastamento dos dois.

O PT, os movimentos sociais e sindicais não vão deixar o Temer governar. O vice-presidente não dispõe de uma boa equipe e volta e meia é citado como um dos políticos envolvidos na Lava Jato. Os petistas vão acusar o vice de traição e o seu partido de oportunista já que esteve pendurado em cargos no governo durante os últimos doze anos. Além disso, não vão reconhecer a legitimidade do seu governo e ocuparão as ruas para cobrar do PMDB a lealdade à aliança entre os dois partidos.

Os líderes dos movimentos sociais mantidos pelo PT já declararam que não deixarão o Temer governar porque não reconhecem nele legitimidade para comandar o país. Eles torcem, em último caso, pela decisão do TSE que cassaria a chapa dos dois, uma atitude, nesse caso, mais coerente. Com o PMDB governando, os brasilerios precisam estar preparados para movimentos tumultuados e ruidosos no país a considerar o que vem dizendo desde já alguns dos comandantes desses movimentos. Gilmar Mauro, do MST, por exemplo, afirmou que Temer “não terá um dia de sossego”.

Rui Falcão, outro fundamentalista que preside o PT, alertou que uma eventual gestão de Temer não traria o país de volta à estabilidade. Ele antevê que os militantes irão às ruas com a bandeira do golpe pela quebra de mandato da Dilma. Além disso, alguns analistas não acreditam que existirá uma causa maior para que o povo se manifeste a favor de Temer, já que ele e outros peemedebistas também estão contaminados pela Lava Jato, um fato que hoje motiva o movimento pelo “fora Dilma”.

A “Ponte para o futuro”, o programa no qual o PMDB pretende se basear para iniciar o governo, é fraco, vazio e frágil para alavancar o país, criar novos empregos e fotalecer a nossa débil economia. Não se sustenta por muito tempo diante do desemprego, da inflação alta e do desajuste das contas públicas. Para agravar a situação, o juiz Sergio Moro continuará no comando da operação Lava Jato divulgando os nomes de peemedebistas ilustres envolvidos com as empreiteiras em atos de corrupção.

Diante desse quadro de futura instabilidade política é que o papel do TSE é relevante no julgamento da chapa Dilma-Temer. A cassação dos dois iria provocar nova eleição presidencial e levaria o brasileiro a escolher o seu novo governante pelo voto direto fazendo respeitar a decisão soberana das urnas.

Não nos enganemos, os brasileiros não foram às ruas no 13 de março apenas para pedir a saída da Dilma e o expurgo do PT do governo. Eles reinvidicam mais ética na política, o fim da corrupção, cadeia para os ladrões dos cofres públicos e representantes políticos e éticos no parlamento e no executivo, homens probos que orientem o país a sair da crise com ideias e projetos honestos. E diante dessas exigências, francamente, o PMDB não é o partido mais adequado para atender a esses apelos do povo.

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