Para tentar fugir da responsabilidade de explicar uma avalanche de indícios e dados sobre esquemas de corrupção deslavada, a cúpula petista repete o mantra de que o governo é perseguido por uma imprensa burguesa e golpista.
O PT não entendeu que o buraco é mais embaixo. A imprensa não é feita apenas de donos, mas de jornalistas, repórteres, editores, trabalhadores de classe média que, em sua maioria, apoiavam o PT — ou, pelo menos, acreditavam que, no poder, o partido faria diferente do que sempre se fez no Brasil. Mas, para desilusão geral, o PT não fez diferente.
Nos anos 1980, com o ocaso da ditadura militar e o fortalecimento do Ministério Público e do PT, quando nós, repórteres, apurávamos denúncias contra algum poderoso de plantão, quase sempre recorríamos a promotores, militantes e parlamentares do PT. Conseguimos apurar grandes escândalos, do governo Sarney ao governo FH, em boa parte, devido a informações daqueles que considerávamos como pessoas do bem.
A imprensa nada mais faz do que refletir os anseios do pensamento hegemônico no Brasil, de pessoas que se sentiram traídas, em suas esperanças, pelos governos Lula e Dilma. E faz o que é seu dever fazer: fiscalizar o poder — às vezes, é bem verdade, com certo radicalismo pueril, que só enxerga o mal no lado do PT. Mas a culpa desse estado de coisas é, antes de tudo, dos métodos do PT no poder, não da imprensa.
Em 2009, testemunhei uma cena que simboliza esse desencanto dos jornalistas em relação ao PT, numa concorrida audiência pública na Câmara Federal. O então deputado José Genoino se aproximou, circulando entre os jornalistas. Todos fizeram questão de ignorá-lo. Uma repórter chegou a virar-lhe as costas! Meio sem jeito, Genoino se afastou. Logo ele que, antes do mensalão, era uma das fontes preferidas e mais paparicadas do jornalismo brasiliense e paulista.
Esse sentimento de decepção, que tomou conta de boa parte da imprensa, representa, na verdade, o desencanto de parcelas expressivas da sociedade brasileira. Afinal, não somos astronautas, fazemos parte da mesma massa de decepcionados com o PT no poder.
Não tem jeito. O PT matou nossos sonhos de construção de um sistema político melhor, mais arejado, menos corrupto.
Ser de “esquerda”, no Brasil, representou, na fase de redemocratização do país, integrar correntes democráticas de pessoas, socialistas ou não, unidas pelo ideal de um país mais justo, menos desigual, com um Estado aperfeiçoado, um capitalismo menos selvagem. Mas o sonho dessa esquerda já era. Lula matou a esquerda brasileira. Zé Dirceu foi o coveiro.
Ronie Lima
Esse sentimento de decepção, que tomou conta de boa parte da imprensa, representa, na verdade, o desencanto de parcelas expressivas da sociedade brasileira. Afinal, não somos astronautas, fazemos parte da mesma massa de decepcionados com o PT no poder.
Não tem jeito. O PT matou nossos sonhos de construção de um sistema político melhor, mais arejado, menos corrupto.
Ser de “esquerda”, no Brasil, representou, na fase de redemocratização do país, integrar correntes democráticas de pessoas, socialistas ou não, unidas pelo ideal de um país mais justo, menos desigual, com um Estado aperfeiçoado, um capitalismo menos selvagem. Mas o sonho dessa esquerda já era. Lula matou a esquerda brasileira. Zé Dirceu foi o coveiro.
Ronie Lima
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