Dez de Fevereiro de 2016, Quarta-Feira de Cinzas do calendário cristão: não poderia ter sido mais simbolicamente melancólica e depressiva a data comemorativa da passagem dos 36 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores o PT. Salvo se ocorresse uma nova etapa da Lava Jato (que alguns previam mas não aconteceu). O Japonês da Federal, ou outro agente da PF, batendo na porta de alguns de seus maiorais, às primeiras horas da manhã, em apartamentos, mansões, sítios e condomínios privados de São Paulo, Brasília, Rio ou Salvador.
Um evidente clima de Quaresma, da base à cúpula, real ou metaforicamente falando, foi o que se viu na data magna dos petistas. E é o que se vê, ainda, nesta semana e nestes dias da encruzilhada e de graves incertezas do partido e de seu fundador e maior líder, Luís Inácio Lula da Silva, cercado de dúvidas e suspeitas por quase todos os lados (e agora, reconhecidamente, com a PF nos calcanhares) neste fevereiro para nenhum militante ou dirigente petista jamais esquecer.
PT e Lula: nascidos como irmãos siameses e indissociáveis, a partir dos movimentos sindicais do ABC paulista. Cultuados pelo amplo apoio de intelectuais de peso, nas academias e nas casas de arte, sem falar nas protetoras e preciosas bênçãos dos grandes pregadores da Igreja Católica, no período áureo da Teoria da Libertação. Tudo isso em meio a monumentais manifestações populares de resistência democrática e pr opostas políticas e de princípios éticos perenes ou projetos de governo e administração inovadores, quase revolucionário, que mexiam fundo nos coração, principalmente da juventude, no país inteiro, ou quase.
Indispensável relembrar isso, diante das imagens opacas e das palavras, repletas de titubeios, de estranhos e lastimáveis subentendidos, no vídeo postado "a dente de coelho", por Lula, em sua página no Facebook, para não deixar passar totalmente em branco a data maior do partido que ele fundou. E que o levou à Presidência da República, por dois mandatos, além de empurrar a afilhada, Dilma Rousseff, goela abaixo de uma nação. A custos perversos e condenáveis que a Lava Jato e outras operações da PF, da Justiça e da PGR desvendam, paulatinamente, a partir do “fio puxado” com o Petrolão.
Agora, em seu segundo e desastroso governo, Dilma vive a maior parte do tempo prisioneira no Palácio do Planalto - ao lado de seu blindado atual ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner (“negociador político e estrategista do Governo, de Lula e do petismo”), sob suspeitas da Lava Jato - ocupada, quase em tempo integral, na promoção de arranjos e acordos (cada vez menos republicanos e recomendáveis) que lhe “garantam a governabilidade” e o projeto de poder que, tudo faz crer, é a unica coisa em que o seu partido e linhas auxiliares parecem verdadeiramente interessa dos e aplicados, ultimamente.
Ou então, dedicada ao quixotesco e triste papel de desarvorada mata-mosquitos, de luxo, em andança nacional que começa neste sábado, 13, pelo Rio de Janeiro e que deve alcançar todas as unidades da Federação. Cercada de militares das Forças Armadas, convocados pela mandatária para a “guerra” contra o aedes aegypti , transmissor do zika vírus
Batalha forjada com todos os sinais evidentes de antigas, improvisadas, marqueteiras e frustradas campanhas de apelo cívico e social, de maus governos, em tempos de crises brabas. É preciso promover guerras e arranjar um “inimigo perigoso” qualquer. Com os antigos “subversivos “ no poder (alguns de novo na cadeia, agora por corrupção e malfeitos definidos pela Constituição e punidos com base no Código Penal) , o mosquito que voa tranquilo no Brasil há 30 anos, serve como luva.
E estamos de volta ao tema do começo deste artigo. À Quarta-Feira de Cinzas do começo do período penitencial da Quaresma. E do vídeo com o solitário e desconexo arrazoado que Lula produziu para marcar os 36 anos da fundação do PT. Ao vê-lo e escutá\-lo, a inevitável comparação com o samba, de Chico Buarque, “Quem te viu, quem te vê!”.
O criador do PT e líder político de envergadura, na política brasileira e continental nas últimas quatro décadas, aparece quase irreconhecível no vídeo, salvo pelas manhas e trejeitos palanqueiros de sempre. Desarrumado nos trajes e nas idéias, evidentemente abatido (ou representando mais uma vez?) ele pontifica um produto precário e mal acabado tecnicamente, fora do “padrão de qualidade de marketing” a que Lula e o partido se impunham antes da Lava Jato.
No conteúdo, exalta conquistas políticas e sociais. Ensaia um mea culpa que fica o meio do caminho: “É certo que não fizemos tudo que tínhamos que fazer e é certo também que cometemos erros – e quem comete erros paga pelos erros que cometeu”, Parece mais cerimônia de ocultação de esqueletos em tempo de penitência quaresmal, mal (ou bem?) comparando.E fica por aí, antes de retornar ao inevitável e inabalável projeto petista de poder. Reconhece que o parti do enfrenta “dificuldades momentâneas”, mas para Lula isso é apenas um tropeço, que antecipa futuro luminoso. Amaldiçoado quem pensar mal dessas coisa, diriam os franceses com imbatível ironia. A conferir.
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