No mesmo momento, em Brasília, no plenário do STF, o advogado Antônio Mariz sustentava que a Procuradoria-Geral da República “atrapalha o país” ao apresentar denúncias de corrupção contra o presidente. Isso porque, alegou, a PGR “impede Temer de trabalhar”. Chegou a pedir: “Deixem o presidente em paz”.
Um defende Lula, outro defende Temer, mas a tese, digamos, é exatamente a mesma — uma versão nova do clássico “rouba mas faz”.
Como Lula representa aquele momento de expansão, denunciá-lo e processá-lo é uma conspiração dos que não querem o crescimento do Brasil. Entre estes, certamente estão o presidente Temer e seus associados.
Na versão Mariz fica assim: o país está voltando a crescer depois da recessão do lulopetismo, essa recuperação se deve ao presidente Temer, de modo que não é hora de denunciá-lo. Quem faz isso, como o procurador Janot, só pode estar conspirando contra o Brasil.
Mas como não se pode defender publicamente a corrupção, cujas evidências são arrasadoras, os dois lados se desviam da mesma maneira: é coisa dos outros.
Um dos vice-presidentes do PT, o ex-ministro Alexandre Padilha, garantiu ontem que as malas e caixas de dinheiro encontradas no incrível apartamento de Salvador foram resultado de corrupção feita no governo Temer, e não quando Geddel Vieira Lima, o dono ou fiel depositário da dinheirama, foi ministro de Lula e diretor da Caixa Econômica na gestão Dilma. Como pode saber disso? Deu uma olhada nas fotos e “descobriu” que as notas eram novinhas.
Argumento mais do que duvidoso. Geddel ficou anos nas administrações petistas e, na Caixa, controlava financiamentos de bilhões. Foi dali que saiu o grosso da propina, dizem diversos delatores e testemunhas. O governo Temer tem pouco mais de um ano, tempo parcialmente aproveitado por Geddel, que está preso.
Mas isso não livra o PMDB, pois Geddel, membro histórico do partido, estava nos governos petistas como representante de Temer. O que fazer?
Tentar mostrar que Temer e o partido não têm nada com isso. Ontem, o PMDB formalizou o afastamento de Geddel Vieira Lima.
Do mesmíssimo modo, o pessoal de Lula está dizendo que Antonio Palocci — chefe de campanha de Lula e Dilma, ex-ministro dos dois, grande chefe do PT por anos — “nunca foi um verdadeiro petista”.
Tudo considerado, está na cara que há mesmo uma conspiração nacional: contra a Lava-Jato. Claro que os atores dos dois lados sabem perfeitamente que houve grossa roubalheira. Sabem também que não dá para enganar os eleitores por muito tempo.
Tanto sabem que já chegaram às teses mais ridículas. Essa de que cada preso da Lava-Jato gerou 22 mil desempregados é o máximo da estupidez. Mas o advogado Mariz, um homem culto, quase chegou a dizer que denunciar Temer traz de volta a recessão e a inflação.
Diante disso, a estratégia que une todos — de Lula a Temer, passando por Aécio — é barrar a Lava-Jato para minimizar os danos. Ser réu, acusado, é ruim, mas ainda é melhor que preso.
A decisão do STF de ontem — de manter Janot e ressaltar a prerrogativa da PGR de investigar e denunciar o presidente quando julgar necessário — e as sucessivas ações recentes da Lava-Jato indicam que não será fácil acabar com a maior operação contra a corrupção.
Uma última palavra: dizer que o país só avança no “rouba mas faz” e que é preciso ser tolerante com a corrupção para preservar o progresso é como acreditar que todo mundo aqui é ladrão e que este país não tem futuro.
Carlos Alberto Sardenberg
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