As consequências estão prestes a explodir, o pior está por vir, e a onda de desemprego em decorrência da queda das atividades produtivas que atingem a arrecadação e os orçamentos de Estados e municípios poderá ser sentida já no mês de março. Desserviços e desemprego colocarão o governo a dura prova. A presidente deixou passar os meses de recessos do Congresso para tomar medidas. Sobreviveu pela inércia gerada pelas férias, mas, já nas próximas semanas, a conta lhe será apresentada com juros e correções.
Essa situação, para muitos, foi cavada lá atrás, na década passada, mas em 2015 a inanição serviu para agravar o que já era difícil. Perdeu-se totalmente a capacidade restante de resistência de muitas empresas. Setores inteiros foram levados a cortar pela metade sua capacidade de produção (como a construção civil, a siderurgia, a área automotiva) e em cascata os serviços e o comércio amplo que dependem dos mesmos.
Deixaram de tomar medidas inadiáveis e corretas ou foram na contramão da lógica, apertando o que precisa de fôlego e oxigênio.
Já com uma recessão acentuada, o governo insistiu em jogar a carga no prato errado da balança. Aquele do Brasil que trabalha e produz, sem aliviar suas despesas supérfluas. Exigindo botar a conta em quem as contas não consegue mais pagar, ao mesmo tempo em que pagou R$ 501 bilhões de serviços da dívida (R$ 180 bilhões a mais do valor pago em 2014).
Embora potencialmente o Brasil tenha condições que o privilegiam e o favoreçam, o país consegue desperdiçá-las por via de uma elite que acredita apenas em ganhos fartos e fáceis. Falta em número e grau quem empreenda com seriedade, e sobra quem quer tirar proveito, explorar, escalar o sucesso sem outro mérito que não seja a esperteza.
A cultura imperial portuguesa de explorar até o osso, sem dor e misericórdia, é o legado que acorrenta o sistema brasileiro. Condena a enfrentarmos falências que ciclicamente arregaçam e devastam o Brasil sério.
O fim justifica o meio, os políticos nacionais perdem em credibilidade de qualquer ente institucional. As proposições que passam pelo legislativo são de péssima qualidade. Como bem lembrado num artigo de Modesto Carvalhosa, é necessário reproduzir o que explicam os analistas italianos Barbieri e Giavazzi: “A corrupção mais grave, a que mais causa dano à sociedade, não é aquela que decorre da violação das leis, mas sim a que se encontra na corrupção das próprias leis. Trata-se das leis que são corrompidas, escritas e aprovadas a favor dos corruptos contra o interesse do Estado. Isso desarma a Justiça…”.
Dessa forma, com os poderes desautorizados, a falta de referências sólidas para a sociedade e de sinais de reação à gravidade se transformam em meios perversos de descrédito internacional. Levam legiões de jovens a olhar para fora, a pensar que aqui não vale a pena arriscar uma existência.
O Brasil não será uma nova Síria arrasada, mas os movimentos migratórios já alarmam. O descontentamento que tirou Cristina Kirchner do poder, e vem se repetindo na Venezuela, já se sente aqui.
A palavra impeachment se faz cada vez mais presente nas mesas que comentam a situação brasileira. A incapacidade e a falta de formulações que permitam animar alguém a acreditar no Brasil aumentam a cada dia o desânimo, a descrença.
O país caminha a largos passos para o caos, desgovernado, sem projetos, sem capacidade de gerar soluções ou de entendê-las; o poder legislativo só se interessa com o que pode ficar de vantagem para ele. Acostumado a mensalões, dá sinais de perdição definitiva. A economia nacional está se transformando em escombros, como um Muro de Berlim, destruída pela indigência moral.
Lamentava o imperador Marco Aurélio “a audácia de pessoas que, sem preparo algum, sem educação e sem ciência, estranhas às letras, pretendem decidir questões diante das quais, só depois de séculos, a filosofia deliberou”.
A qualidade ínfima dos ocupantes do poder calha ao Brasil atual, sentado sobre um barril de pólvora.
Para pilotar o Boeing, temos uma aeromoça; na torre de controle, o desentupidor de canos. É claro que o tráfego no espaço aéreo da política brasileira não inspira confiança. Deverá, como aconselhou o profeta, “passar a vida resignado no meio de homens mentirosos e injustos, eis o programa dos sábios”, ou deixar de serem sábios e exigirem mudanças.
A praça dos Três Poderes tem tudo para virar um campo de guerra. O protesto, assim como os desempregados, deverá encher as ruas em 2016, exigindo mudanças radicais como as que ocorreram em 1985 nas Diretas Já.
O Brasil precisa virar a página, encontrar uma nova, não tem mais o que emendar na atual.
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