O PT, hoje às voltas com o Código Penal, fez sua trajetória tentando impô-lo aos adversários. Se tinham ou não culpa, era um detalhe. Não tendo, cuidava de providenciá-la. Prova hoje do próprio veneno, sem que os adversários tenham nada com isso.
Se dependesse da oposição que tem – ou por outra, não tem -, o PT jamais deixaria o poder. Tem a oposição que pediu a Deus (ou ao diabo). Talvez por isso mesmo, tornou-se o maior adversário de si mesmo. Está moribundo por conta das próprias lambanças.
Não tem a quem culpar, embora, por um reflexo muscular, busque responsáveis fora de seus domínios: uma hora é a elite burguesa, que não suporta ver um operário no poder (que operário?); outra a imprensa golpista (a mesma que o projetou e, em grande parte, ainda o sustenta); ou ainda o PSDB (que o trata com uma leniência mórbida); ou, por fim, o juiz Sérgio Moro.
O PT, ao chegar ao poder, em 2003, contabilizava 23 anos de oposição implacável, na base do “hay gobierno? Soy contra”. Pouco importava se o que se propunha era bom para o país – caso da eleição indireta de Tancredo Neves, que pôs fim ao regime militar, ou do Plano Real, que pôs fim à hiperinflação e organizou as contas públicas. O partido era contra porque tinha um plano de governo infalível, que traria a redenção social e o fim da corrupção.
Nesse período, jamais se aliou a ninguém e puniu os correligionários que ousaram fazê-lo. Expulsou três deputados que votaram em Tancredo Neves e outros dois que aceitaram ser ministros de Itamar Franco. Mesmo tendo tido papel fundamental na queda de Collor, recusou-se a apoiar o governo de transição de Itamar Franco, de cujo impeachment também cogitou.
Propôs ainda o impeachment de Fernando Henrique, sob o argumento ideológico, não amparado por nenhum código legal, de que a política “neoliberal” que o acusava de praticar era lesiva aos interesses do país. Não apontava nenhum delito objetivo (confiram nos vídeos do Youtube) e, por isso mesmo, não logrou êxito.
O partido está no seu 14º ano de governo. Só dom Pedro II e Getúlio Vargas ficaram mais tempo no comando do país. Mas quatro mandatos – sempre com esmagadora maioria no Congresso – já seriam suficientes para estabelecer o paraíso terrestre prometido ao longo de mais de duas décadas. O resultado, porém, é o avesso do anunciado pela propaganda do partido.
Em vez do estabelecimento da moralidade pública, vê-se às voltas com os tribunais. Seu fundador e presidente de honra, Lula, responde a diversas e graves acusações, que vão de corrupção passiva a ocultação de patrimônio – para dizer o mínimo.
Seus principais amigos, que circularam na intimidade palaciana enquanto lá esteve, estão presos. Nem os filhos escaparam: ambos são também alvos de investigações policiais.
A própria esposa, dona Marisa, terá de dar explicações à Justiça sobre o apartamento tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia. A amiga Rosemary Noronha, acusada de tráfico de influência e corrupção passiva, era beneficiária de sua proteção. Não se trata de acusações vazias: cada uma delas tem denso lastro documental.
Se no campo da moral fracassou – e o Mensalão e o Petrolão estão longe de esgotar o repertório de delitos sistêmicos -, no campo da gestão o resultado é ainda mais contundente. A redenção social resultou na maior crise das últimas décadas. A maior empresa brasileira, a Petrobras, quebrou. Suas ações estão cotadas ao preço de refrigerante e deve mais do que vale.
As benesses sociais, que não tinham sustentabilidade, desfazem-se num quadro crescente de desemprego e depressão econômica. Pior, porém, que a depressão econômica é a política. O partido, que sempre investiu na demonização dos adversários – e, portanto, no descrédito de uma atividade sem a qual não há liberdade ou civilização -, procura amenizar seus pecados alegando que não é diferente dos outros; quer todos no mesmo chiqueiro.
Como não tem (nunca teve) o paraíso que prometeu, quer levar todos para o mesmo inferno – e a omissão oposicionista torna viável essa pretensão, mergulhando o país numa sinuca de bico: sem política, o que resta mesmo é o inferno de saídas golpistas.
O resultado é que o país vive uma crise gigante, operada por anões políticos. O PT não tem quadros. Lula, que governou em período de bonança da economia mundial, iludiu a muitos quanto a seus dotes de estadista. Mas seu verdadeiro tamanho expressa-se no legado que deixou: Dilma Roussef.
Quanto a esta, não é necessário dizer muita coisa – ou mesmo nada. Basta ouvir sua performance verbal, que hoje inunda as redes sociais, em posts sarcásticos e impiedosos – não tanto, porém, quanto os atos com que pretende enfrentar uma crise que, não há a menor dúvida, já a derrotou (e, por tabela, a todos nós).
Nenhum comentário:
Postar um comentário