Salvo um fato novo, parece perto do fim o affair Fernando Henrique Cardoso-Míriam Dutra. Sobreviverá nas redes sociais alimentado por sites e blogs patrocinados pelo governo às claras ou às escondidas.
Como até aqui não se comprovou nenhuma agressão à lei, o Ministério da Justiça não terá a obrigação de investigá-lo. O próprio PT, pelo menos o oficial, prefere que o assunto esfrie.
Compreensível. As redes sociais que afagam são as mesmas que apedrejam.
Começaram a circular fotografias de Lula, Marisa e amigos tendo ao fundo um jatinho da Brasif, a empresa que administrava lojas nos aeroportos brasileiros.
Sim, a mesma Brasif que negou ter ajudado Fernando Henrique a sustentar Míriam no exterior mediante um fictício contrato de prestação de serviços.
Jonas Barcellos, dono da Brasif, tentou vendê-la para um grupo suíço durante o segundo governo de Fernando Henrique, seu amigo. Não conseguiu.
Conseguiria em março de 2006, ano da reeleição de outro amigo seu, Lula. Na época, travou-se um áspero combate no núcleo duro do PT.
Uma ala, liderada pelo ex-ministro José Dirceu de Oliveira e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, era favorável à venda da Brasif.
Outra, liderada por Luiz Gushigen, então Secretário de Comunicação Social da Presidência da República, era contra.
Gushigen temia eventuais suspeitas que o negócio pudesse despertar em ano eleitoral. Elas recariam sobre um governo fragilizado pelo escândalo do mensalão, deflagrado um ano antes.
E, ao fim e ao cabo, prejudicariam Lula e o PT. Gushigen perdeu o combate. Os olhinhos de Delúbio brilharam.
O ex-governador de Pernambuco, Carlos Wilson Campos, Cali, acabou nomeado presidente da Infraero, a empresa federal responsável pela infraestrutura dos aeroportos.
E a venda de parte da Brasif consumou-se afinal. Por 500 milhões de dólares, o grupo suíço Dufry comprou dois negócios da Brasif: a operação de varejo e a Eurotrade, uma empresa de logística.
Na semana passada, tão logo repercutiu a entrevista de Míriam a Folha de S. Paulo contando detalhes do seu caso amoroso de seis anos com Fernando Henrique, líderes do PT apressaram-se em pedir que o Ministério da Justiça apurasse o possível ato criminoso embutido no contrato firmado por ela com a Brasif.
Sugeriram que Fernando Henrique usara a empresa para ocultar dinheiro transferido por ele à Míriam.
A Brasif pagou a Míriam depois de ter sido procurada pelo jornalista Fernando Lemos, cunhado dela. Míriam acusa Lemos, que morreu em 2012, e a irmã Margrit Dutra Schmid, com quem brigou há mais de 10 anos, de terem embolsado uma fatia do dinheiro do contrato.
Lemos achacou dinheiro de empresas a pretexto de ajudar Míriam a manter-se exilada na Europa como colaboradora da TV Globo.
A ordem, hoje, dentro do PT é esquecer Míriam para não lembrar o negócio da Brasif com o grupo suíço. O PT e Lula já enfrentam problemas em excesso com a Lava-Jato. Não querem arranjar mais um.
Procuradores vasculham negócios de empreiteiras brasileiras em Portugal e em países da África que poderiam ter beneficiado o PT e Lula. O silêncio de Lula é uma tática conhecida de defesa.
Vai que ele diz algo que possa amanhã ser contestado? É por isso que Lula evita depor no inquérito sobre o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia. Está fugindo da polícia.
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