Como dizia Nelson Rodrigues, recentemente citado pela presidente Dilma Rousseff, na sua busca insaciável de citar o que não lê, vivemos tempo de um “divertido horror”. Foi no México, ao fazer uma salada com as cores das bandeiras e das respectivas seleções de brasileiros e mexicanos. Celso Arnaldo não perdeu a chance da reflexão indispensável e brindou-nos com mais um de seus artigos antológicos.
Não foi a primeira vez que a presidente invocou um autor que não lê. Tenho para mim que se trata de estratégia equivocada de seus assessores. Por ter sucedido a um homem de extraordinário poder de comunicação, que não lia nada, eles acharam de bom tom polir um pouco a sucessora com sugestões de livros lidos. Mas, ó dor, deveriam ter começado por algum autor ou livro que ao menos um deles tivesse lido. Todavia encontrar um leitor no meio de hordas ágrafas é muito difícil.
Entre jornalistas, também. É preciso pedir licença à gente da mídia para um diálogo semelhante àquele relatado pelo escritor espanhol Jorge Semprún, roteirista de filmes referenciais, como A Confissão, do cineasta grego Konstantinos Gavras, mais conhecido por Costa-Gavras. Ele diz que numa reunião do Partido, um membro dirigiu-se assim a um de seus arrogantes camaradas: “Companheiro, permita-me fazer sua autocrítica, uma vez que você não a faz?”.
A salada oferecida no México, de improviso, não superou momentos menos hilários, entretanto igualmente graves, pois se trata da presidente da República, a quem os assessores mandam que repita bobagens inventadas por eles ou captadas de ouvido de outrem. Eis esta amostra: a presidente declarou no programa de Ana Maria Braga ser leitora de Fiódor Dostoievski. Tempos depois, um dos áulicos passou a um jornalista amigo a informação de que à ateia ou religiosa comove muito um dito de Dostoiévski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Ateia? Na verdade, depende do momento histórico de sua existência: se em campanha de apoio junto às bancadas de igrejas confessionais, é ex; se em encontros com colegas ateus, daí a conversa é outra. Mas o que nos interessa é que o romancista russo jamais disse ou escreveu estas frases. Outros disseram que ele as disse ou as escreveu, como o fez Jean-Paul Sartre. E os que passaram a repeti-las não conferiram se disse ou não disse, se escreveu ou não escreveu as tais frases.
Não foi a primeira vez que a presidente invocou um autor que não lê. Tenho para mim que se trata de estratégia equivocada de seus assessores. Por ter sucedido a um homem de extraordinário poder de comunicação, que não lia nada, eles acharam de bom tom polir um pouco a sucessora com sugestões de livros lidos. Mas, ó dor, deveriam ter começado por algum autor ou livro que ao menos um deles tivesse lido. Todavia encontrar um leitor no meio de hordas ágrafas é muito difícil.
Entre jornalistas, também. É preciso pedir licença à gente da mídia para um diálogo semelhante àquele relatado pelo escritor espanhol Jorge Semprún, roteirista de filmes referenciais, como A Confissão, do cineasta grego Konstantinos Gavras, mais conhecido por Costa-Gavras. Ele diz que numa reunião do Partido, um membro dirigiu-se assim a um de seus arrogantes camaradas: “Companheiro, permita-me fazer sua autocrítica, uma vez que você não a faz?”.
A salada oferecida no México, de improviso, não superou momentos menos hilários, entretanto igualmente graves, pois se trata da presidente da República, a quem os assessores mandam que repita bobagens inventadas por eles ou captadas de ouvido de outrem. Eis esta amostra: a presidente declarou no programa de Ana Maria Braga ser leitora de Fiódor Dostoievski. Tempos depois, um dos áulicos passou a um jornalista amigo a informação de que à ateia ou religiosa comove muito um dito de Dostoiévski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Ateia? Na verdade, depende do momento histórico de sua existência: se em campanha de apoio junto às bancadas de igrejas confessionais, é ex; se em encontros com colegas ateus, daí a conversa é outra. Mas o que nos interessa é que o romancista russo jamais disse ou escreveu estas frases. Outros disseram que ele as disse ou as escreveu, como o fez Jean-Paul Sartre. E os que passaram a repeti-las não conferiram se disse ou não disse, se escreveu ou não escreveu as tais frases.
Não se pode ler tudo, mas temos no Brasil intelectuais que leem! Sei que a espécie é rara, mas temos! Estão em extinção? Parece que sim. Ou aparecem pouco. O certo é que seria fácil conferir o dito antes de mandar a presidente proferi-lo.
Frases famosas que estão na boca e nos escritos de muita gente boa jamais foram pronunciadas. Sherlock Holmes nunca disse “elementar, meu caro Watson” nos livros do autor que criou o personagem. Isto foi acrescentado pelos roteiristas dos programas de rádio de grande sucesso nos EUA, depois divulgados pelo mundo inteiro. Mas não é uma frase de Sir Arthur Ignatius Conan Doyle!
Ainda que mal pergunte, por que levar a presidente a citar o que não lê? Porque eles também não leem!
Deonísio Silva
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